Alguns carros ainda passavam velozes à frente do Grimmauld Place, apesar do horário e da falta de iluminação naquela quadra em específico. Um invento muito engenhoso tinha causado aquilo com apenas uma apertada de botão, mas nenhum trouxa sabia disso. Pensavam ser um problema da companhia de luz, ou que aquele poste de lá mesmo tinha dado defeito.
Um casal e seu filho único caminharam rapidamente para o outro lado da rua, aproveitando-se da falta de carros e iluminação, naquele momento. Aquela rua passava uma impressão desértica e abandonada durante a noite, só ganhando um pouco de vida com a passada dos automóveis, mas poucos paravam por ali.
Era como se os trouxas pudessem sentir que havia algo de sobrenatural na casa ao lado, mais especificamente o número 12, embora eles não soubessem disso. Afinal, a casa não podia ser vista. Passavam todos dias em frente a ela, estranhando o fato de que havia uma casa 11 e outra 13, mas não um meio termo, acreditando que tinham errado a numeração.
Mesmo assim, a magia devia ser pressentida pelos instintos de perigo deles, já que evitavam olhar muito para o espaço vazio entre as duas casas, assim como evitavam permanecer em frente por muito tempo, passando apressadamente. Não havia uma razão lógica para isso, eles apenas o faziam.
De qualquer forma, os moradores provisórios da casa agradeciam por não precisarem ser tão discretos. A discrição no mundo bruxo era uma maldição. Qualquer deslize podia custar uma nova guerra entre trouxas e bruxos.
E eles não precisavam de outra guerra ali agora.
A mulher e o filho encolheram-se com a passagem de mais um carro que, para sorte deles, o motorista não olhou para os lados. A atitude deles poderia ser considerada suspeita demais, poderiam pensar se tratar de ladrões. O homem saiu à frente, encostando a varinha na porta, que abriu-se silenciosamente.
Lily apoiou o braço nos ombros de Harry, como que o abraçando de lado, enquanto entravam discretamente, James cuidando da retaguarda de sua família, antes de entrar e fechar a porta, fazendo com que o número 12 desaparecesse novamente de vista.
Harry abriu a boca para dizer algo, mas o pai colocou o dedo indicador na frente da boca, indicando para que ele não falasse, e apontou para o chão, olhando para Lily, pedindo para ela tomar cuidado onde pisava. Ela intensificou o aperto nos ombros do filho, assentindo com a cabeça.
Essas reações eram visíveis apenas pela pouca luz que espreitava pela porta encostada da sala ao final do corredor.
Quando aproximaram-se mais, a porta abriu-se um pouco mais para deixar sair Molly Weasley, antes de voltar a encostar-se. Era preciso todo o tipo de cautela quando se tratava dos retratos da família Black.
— Harry, querido! Como está? — ela cumprimentou-o, um pouco sussurrante.
— Muito bem, senhora Weasley — ele respondeu.
— Dumbledore já chegou — Molly disse a Lily e James, que assentiram — Rony e Hermione estão lá em cima, terceira porta à esquerda.
— Nós te chamaremos quando acabar — disse Lily, beijando o filho carinhosamente na testa.
— Está bem — Harry disse, um pouco contrariado, antes de subir as escadas com o mesmo cuidado com que chegaram, embora não entendesse muito da situação.
— Vamos — Molly abriu a porta, e eles entraram, agora fechando a porta — Todos já estão aqui.
Era notável pelo número de rostos conhecidos.
Cumprimentaram-se todos rapidamente, antes de pegarem os seus lugares e começarem a reunião.
Voldemort tinha recuperado o seu corpo, e todo o tempo de preparação deles não tinha conseguido evitar. Lily passava os olhos pela sala, pensando somente em quantas pessoas restavam ali, quantos tinham padecido naquela guerra.
Durante a captura de Death Eaters, Dorcas Meadowes tinha sido atingida por uma maldição da morte. Uma perda bem forte para a Ordem, inclusive para o seu mentor, Alastor Moody, que estava com ela naquela exata missão.
Caradoc Dearborn, seu grande amigo, nunca mais foi o mesmo, e foi um dos primeiros a ser morto no retorno de Voldemort. Era de conhecimento geral que os Death Eaters responsáveis pela morte de Dorcas receberam um castigo severo, já que era desejo do próprio lorde matá-la.
Edgar Bones foi morto semanas antes, durante uma das expedições de procura ao diadema de Ravenclaw.
Contudo, não podiam pensar apenas nas mortes.
Os Weasley tinham unido-se assim que Ginny, em seu primeiro ano em Hogwarts, encontrou o diário de Tom Riddle no meio de suas coisas. Por sorte, ela entregou-o antes que um estrago fosse feito.
Naquele ano mesmo, Moody indicou uma auror recém iniciada na academia, Nymphadora Tonks, e James divertia-se em ver como a jovem era desastrada e deixava o seu amigo Remus constrangido com a maior facilidade.
Podia não parecer muito, mas, a cada novo integrante, eles sentiam como a "fênix" renascia, tal como a esperança. Faltava bem pouco para Voldemort cair, apenas mais duas horcruxes.
Mais duas horcruxes e tudo acabaria.
Cada morte valeria a pena.
Nenhum deles importava-se de morrer pela causa, se fosse para o dia seguinte amanhecer melhor para as gerações futuras.
Contudo, ninguém mais precisaria morrer.
Nenhuma família mais precisaria sofrer pela perda.
Eles estavam mais perto do fim do que nunca estiveram antes.
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Damaged Memories
Fanfiction[Realidade Alternativa - época dos marauders] Lord Voldemort. Um nome que era capaz de fazer o mais poderoso bruxo tremer nas bases, mas não ele. James Potter era uma arma muito poderosa nas mãos de Dumbledore. Inclusive, Dumbledore possuía mu...