Capítulo 7 - Distrust

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Lily sentia que a sua cabeça ia explodir de tanta dor, e a gritaria generalizada não ajudava, em absoluto. Desde que aquele rosto foi exposto, na entrada do Ministério da Magia, era como se todo o ar tivesse sido retirado do corpo de Lily. Ela sentia-se sufocada, desorientada, enjoada... Tantos sentimentos ao mesmo tempo.

Sirius e Marlene não demoraram a ampará-la, assim que James Potter desapareceu em uma névoa negra, como um perfeito Death Eater. Apesar de sustentarem-na, era evidente que estavam tão afetados quanto ela com a descoberta.

Como era de se esperar, eles não foram os únicos a darem de cara com o auror, fazendo com que a principal foco da reunião, mais tarde, se desviasse para o aparecimento repentino de James.

Os olhares de acusação, a palavra "traidor" sendo proferida sem qualquer repreensão ou vergonha... Era pior do que ter que enfrentar a dura e fria realidade.

A guerra fazia isso com as pessoas, não abria espaço para as dúvidas. Qualquer coisa presenciada com os olhos era o suficiente para ser dada como verdade, sem questionamentos. Exceto por um detalhe: nem ela, nem Sirius, nem Remus, nem Marlene... Qualquer pessoa que conhecia James o suficiente não acreditaria naquela sandice.

Ele sumiu sem dar notícias para, depois de semanas, aparecer em uma batalha no Ministério? Do lado dos Death Eaters? Havia um traidor na Ordem, mas James Potter jamais poderia ser essa pessoa. Alguma coisa de muito errada tinha acontecido, devia haver alguma explicação. Era típico de James que, ao ameaçarem a todos a quem amava, tentasse resolver as coisas por baixo dos panos. Talvez fosse isso. Ele não tinha saída.

Pelo olhar enigmático de um Dumbledore calado, da outra ponta da mesa, os mesmos pensamentos passavam-lhe pela cabeça. Talvez até pensamentos mais profundos, mais alternativas e soluções que jamais poderiam passar pela cabeça inexperiente e desequilibrada de Lily.

Porque essa era a verdade, ela estava desequilibrada. Odiava não ter as respostas de suas perguntas às suas mãos, no exato momento em que lhe ocorressem. Odiava não ter uma oportunidade para conseguir essas respostas. Naquele momento, o chapéu seletor tinha razão, ao considerar colocá-la na Ravenclaw. Ela não sentia nenhuma coragem, apenas a insaciedade pela falta de explicações.

— Como eu tinha previsto, — a voz de Dumbledore, embora baixa, logo sobrepujou-se às outras — o ataque ao Ministério tratava-se de uma emboscada. Voldemort queria exibir o seu troféu a nós, o que ele não conseguiria se não fossemos avisados.

— Professor Dumbledore, James jamais mudaria de lado! — disse Sirius, levado a um impulso, levantando-se da cadeira, com os punhos bem cerrados.

— Isto é uma guerra, moleque! — Alastor Moody logo deu o ar de sua desagradável presença — As pessoas tem suas diferentes motivações para seguir o lado das trevas, e elas não mandam uma carta de despedida.

— Eu também não acredito que ele tenha mudado de lado — disse Dumbledore, ignorando o que o seu velho amigo rosnou — Ao menos, não voluntariamente. Contudo, como percebe, estou de mãos atadas. Minha mente só pode imaginar as coisas que Voldemort disse ou fez para que o jogo virasse ao seu favor.

— Não virou, professor — Lily pronunciou-se, a garganta quase rasgando-se pelo esforço repentino — Ele é apenas um, nós somos mais de trinta.

— Um excelente auror, senhora Potter — disse Dumbledore, uma obscura sombra passando por seus olhos — Acredito que não será o primeiro. Voldemort sempre esteve de olho em muitos dos nossos.

Ele passou o olhar por várias pessoas, inclusive por Lily, que era uma "sangue ruim" aos olhos de Voldemort. Ela era uma auror, era suposto que, a partir dessa informação, já estivesse evidente que jamais se entregaria à arte das trevas. Assim como James. Não voluntariamente.

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