Depois da meia noite

Capítulo 2

Na manhã seguinte José esperava por Joaquim um dos colonos do Coronel Benedito, que era do dono da maioria das terras na região, inclusive das terras que ele vivia. Joaquim trazia todas as manhãs leite e bolo de fubá enviado pelo Coronel para as filhas de José, porém nessa manhã Joaquim trouxera apenas um recado.

- José, o Coronel quer falar com você - disse Joaquim.

- O que ele quer de mim?

- Eu não sei, ele só me mandou avisar que queria falar com você.

- E onde está o leite e o fubá?

- Ele não me mandou trazer nada.

- Joaquim, você acha que ele vai me expulsar da terra? Eu sei que não estou conseguindo produzir nada, mas estamos em um grande período de seca, não seria justo.

- Como eu disse não sei de nada, José. É melhor você ir falar com ele.

- Está certo. Eu irei. Até mais ver.

- Até.

José entra em casa, tentando controlar-se para não liberar toda a raiva que está sentindo do Coronel Benedito.

- Papai, onde está nossa comida? - disse Clara.

- O Coronel não nos enviou nada? É isso? - exaltada disse Cecília. - Ele não vai nos enviar mais nada? Nós ouvimos o que Joaquim disse.

- Eu não sei o que está acontecendo, vou falar com ele agora.

- Papai, estou com fome.

- Clarinha, eu volto logo e trarei comida.

Chegando a casa do Coronel, José já podia avistá-lo, como sempre sentado em uma cadeira de madeira no alpendre observando o passar do tempo.

- Coronel Benedito gostaria de falar comigo?

- Sim, eu estava a sua espera. Entre sente-se ao meu lado - José passou pela pequena porteira que havia na entrada do alpendre, puxou uma das cadeiras e sentou-se bem próximo do coronel. Logo em seguida Benedito continuou sua fala. - Eu tenho um assunto muito importante para tratar com você.

- Pois diga que já estou ficando curioso sobre o que seja.

- Você sabe que estamos em uma seca terrível, o gado quase não tem o que comer e beber, e estou tendo que levá-lo para uma região distante, onde ainda existe água, e as plantações por aqui não estão produzindo nada, assim como a sua.

- Realmente estamos em uma seca de dar dó.

- E sendo assim você sabe que não é por maldade, mas eu vou ter que cortar todas as ajudas que envio aos meus colonos.

- Até mesmo o leite e o fubá?

- Até mesmo o leite e o fubá.

- Assim não teremos nada para comer.

- Não se preocupe, eu tenho uma proposta para você e suas filhas.

- Uma proposta?

- Sim, uma maravilhosa proposta, que resolverá todos os nossos problemas.

- Diga o que tenho que fazer.