- Eu vou lhe contar minha história, talvez se nos conhecermos melhor você acredite em mim. Vivi nessas terras por volta de 1630, eu fui um comerciante, vim diretamente da Holanda com outros homens, nós invadimos e tomamos esse local, nosso objetivo era tomar o controle da produção do açúcar. Esse produto valia muito na Europa nesse período. Depois que conseguimos nos estabelecer, realizamos melhorias nas principais cidades, e ajudamos os produtores rurais que tiveram suas lavouras destruídas nas batalhas entre meu povo e outros colonizadores. Foi nesse momento que decidi permanecer por aqui na zona mais afastada, pois sempre gostei do campo. Contudo, depois de um tempo os senhores de engenho não estavam conseguindo pagar as dividas que tinham conosco, e os conflitos se intensificaram, outros povos europeus como os portugueses queriam tomar nossas terras. A maioria de nós foi embora sabendo que não poderíamos vencer nossos inimigos, mas eu fui abatido depois de matar muitos em combate. Desde então estou aqui preso a essa forma, designado a carregar os corpos dos homens que matei. Agora me entende?
- Você é holandês? Não é?
- Sim, sou.
- E por que fala em português?
- Tem certeza que é isso que você quer realmente saber?
- Sim, é isso que quero saber.
- Tudo bem. Estou aqui há quase trezentos anos tentando fazer alguém achar essa maldita botija. Observei tantas pessoas como você que aprendi não só mesmo os modos de falar, mas também os modos de ser.
- Não desejo acreditar em você, a inocência leva direto ao azar.
- Estou aqui lhe dando a oportunidade de ter sorte em um futuro melhor para Clara e Cecília. Você só tem que encontrar uma botija, um artefato parecido como um pote, você deve conhecer. Porém, essa é bem peculiar, pois, está cheia de moedas de ouro. Eu mesmo a enterrei aqui nessa terra quando aqui morei.
- Eu conheço a história das botijas, meu pai me contou, mas ele não me disse que um Assoviador é que teria poder sobre elas.
- Qualquer espírito pode conceder uma botija, ele deve apenas saber onde ela está enterrada. Eu descobri isso, quando notei que os outros espíritos daqui queriam me afastar, na verdade ainda querem, pois não existem botijas suficientes para salvar todos.
- Ainda não sei se posso confiar em você.
- Você só saberá se realizar a busca pela botija. Você sabe que se a encontrar tudo mudará para você e suas filhas. Infelizmente o meu tempo está acabando aqui, tem que me dizer agora se aceita ou não.
- Aceito.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Depois da meia noite
Historical FictionHá muito tempo viveu em uma vila no interior do Nordeste brasileiro, uma família de camponeses que passou por toda a sorte de infortúnios possíveis, chegando até mesmo a ficar sem um local para morar. No entanto, em um acordo macabro José e suas dua...