Capítulo 10

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- José inocente você foi - disse o cavaleiro, depois de um longo silêncio continuou. - Você contou a sua filha todas as indicações que lhe dei, eu fui bem claro, quando lhe disse que não deveria repassar os ensinamentos que lhe ofertei.

- Mas minha filha... não veio encontrar a botija, eu apenas a contei como uma história.

- Eu fui claro, não conte a ninguém. Essa é a sua história. Existe uma grande diferença entre a verdade das histórias e como as pessoas as contam. Mas não se preocupe agora você pode contar a sua história para todos.

- Por que me deixou cavar como um idiota, se eu já não seria mais digno da botija?

- Entenda, eu não sou uma fada. Eu sou um Assoviador. Os meus métodos são outros.

Ao finalizar sua fala com José o cavaleiro enveredou pela mata, e só se pode ouvir os seus assovios. À medida que o sol se levantou, os animais e vultos despareceram. Desolado José seguiu para sua casa, sentindo-se o homem mais infeliz do mundo.

Quando estava dobrando a estrada na última curva que leva a sua casa ele começou a ouvir gritos, vozes semelhantes à de suas filhas, acelerou seus passos até que viu Clara e Cecília, sendo retiradas de casa por Coronel Benedito e alguns de seus colonos.

- Papai, socorro papai - gritava Cecília. - Esse homem horroroso disse que quer se casar comigo.

- Eu não disse que quero. Eu disse que vou - retrucou o Coronel Benedito.

- Tire suas mãos imundas de minha filha, a não ser que queira levar uma porrada no meio de sua cara. O meu pai me ensinou a contar histórias, mas também me ensinou a me defender - gritou José.

- Como é que é, cabra? Você está me desafiando? Há esta hora eu cheguei a pensar que você já estivesse morto, ouvi dizer que você comprou veneno no armazém. Eu só vim aqui levar essa linda garota para o meu aconchego. De qualquer forma, se não conceder que nos casemos podem pegar suas coisas e irem embora das minhas terras.

- Sendo assim nós vamos partir agora. Eu jamais permitiria que minha filha caísse em suas mãos. Venham para cá meninas - as duas garotas se desvencilharam das mãos dos homens que as seguravam e correram para os braços de seu pai.

Os três viraram-se e seguiram de mãos dadas sem caminho, sem rumo, e sem certeza alguma do que teriam que enfrentar, enquanto o Coronel Benedito lastimava a perda de Cecília.

- Papai, o que vai acontecer com a gente?

- Nós vamos nos virar Clara.

- Vamos para a cidade pai? - perguntou Cecília.

- É a nossa única opção.

- Vamos morar na rua papai?

- Clara... nós vamos dar um jeito filha.

Depois da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora