- Há alguém ai? - gritou José.
Sem resposta, abaixou-se novamente e dentro da água voltou a esfregar as costas, quando deu por si a esponja estava alcançando partes de seu corpo que as suas próprias mãos não podiam chegar. Ele ouviu as risadas novamente e a esponja apareceu boiando a sua frente.
- As investidas de Satanás podem já estar acontecendo - sussurrou. E as risadas voltaram a ecoar. José saiu rapidamente do lago, vestiu suas roupas e voltou para casa.
- Papai, papai, papai, me escute - disse Clara.
- Querida, eu já sei o que vamos fazer. Cecília acha que consegue preparar a nossa sopa de legumes para o jantar?
- Sim, ainda temos legumes suficientes, mas eu estava pensando em usar eles na sopa do almoço de amanhã.
- Não, use hoje, use todos que sobraram. Não se preocupe com o amanhã. Clara você acha que pode ajudar sua irmã?
- Sim, papai. Mas eu queria lhe pedir algo.
- Peça.
- Você pode pensar em uma história para me contar mais tarde antes de dormir, mas eu quero uma nova.
- Tudo bem. Eu vou pensar em uma história que ainda não tenha a contado. Agora vamos nos dedicar as nossas tarefas, se precisarem estarei no meu quarto organizando algumas coisas.
Em seu quarto José planejava onde esconder o ouro que encontraria, separou algumas bolsas de couro e esvaziou um pequeno baú que tinha.
- Depois terei que enterrar o ouro novamente. Não posso gastar tudo de uma vez, logo todos notariam que ficamos ricos - disse a si mesmo.
A lua cheia já brilhava no céu, quando todos engoliram a sopa feita por Cecília, seus ingredientes não eram saborosos, e a sopa estava na rotina alimentícia da família a mais de um mês, os legumes cozidos com água, serviam apenas para disfarçar a falta dos alimentos necessários na refeição. Depois do jantar e sem muito que fazer a noite, era hora de José levar Clara e Cecília para a cama.
- Boa noite Cecília. Amanhã será um dia melhor, é uma promessa. E seu pai não descumpre promessas.
- Boa noite papai. Que assim seja.
- Papai, você pensou em uma história? - perguntou Clara.
- Sim, filha, eu pensei.
- Venha logo me contar, sente aqui do meu lado.
Na borda da pequena e velha cama de Clara seu pai se sentou, e contou uma história daquelas que todos os homens almejam fazer parte do final.
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Depois da meia noite
Ficção HistóricaHá muito tempo viveu em uma vila no interior do Nordeste brasileiro, uma família de camponeses que passou por toda a sorte de infortúnios possíveis, chegando até mesmo a ficar sem um local para morar. No entanto, em um acordo macabro José e suas dua...