quatorze

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Isto é o que acontece quando se fica muito doente: dançar deixa de ser uma realidade e passa a ser uma metáfora. Com mais frequência do que se imagina, é uma metáfora nada gentil. Estou dançando o mais rápido que consigo. Como se a doença fosse o violinista que fica tocando cada vez mais rápido, e perder o passo é morrer. Você tenta e tenta e tenta, até que finalmente o violinista te deixa esgotado.

Esse não é o tipo de dança do qual vocês queiram se lembrar. Vocês vão querer se lembrar das músicas lentas como a última dança de Avery e Ryan. Vão querer se lembrar de dançar como Tariq se lembra de dançar ao ir para casa depois da noite na boate. São só onze da noite, praticamente meio-dia, considerando o tempo de uma noitada, mas ele prometeu para Craig e Harry que dormiria um pouco para poder estar com eles no grande beijo amanhã sem estar morrendo de sono. Foi difícil para ele se afastar da música, da pulsação criada por ela. Ele tenta simular isso agora com a música alta nos ouvidos, ignorando os outros sons no trem suburbano de madrugada. Não é a mesma coisa, porque não há outros garotos para quem olhar e nem por quem ser olhado, só outros passageiros e algumas garotas que acabaram de sair de alguma peça da Broadway. Uma delas tentou chamar a atenção de Tariq mais cedo, e ele deu um sorriso de boa tentativa, desculpe, fazendo com que ela voltasse a atenção para a Playbill.

Quando se fecha os olhos, pode-se conjurar um mundo. Tariq fecha os olhos e vê borboletas. A vibração delas, girando no ar na música da mente. É isso que ele quer ser, na pista de dança e na vida. Uma borboleta. Colorida e esvoaçante.

Há alguma coisa na pureza de sonhar com borboletas, em todas as coisas que a dança pode liberar quando se é jovem. Quando funciona, essa liberdade não acaba quando a última música é tocada. Você a leva com você. Usa para coisas maiores.

Repara quando é tirada de você.

Two Boys Kissing (Português - BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora