dezessete

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Em algum momento, todo mundo tem que dormir. É a primeira dica de que o corpo sempre vence. Não importa o quanto estamos felizes, não importa o quanto queremos que a noite se prolongue infinitamente, o sono é inevitável. Pode-se conseguir escapar dele por um ciclo, mas a necessidade do corpo sempre vai voltar.

Nós lutávamos contra ele. Quer nossa motivação fosse conversar no escuro ou dançar sob luzes piscantes, nós queríamos que nossas noites fossem infinitas. Para que a conversa pudesse continuar, para que a dança pudesse seguir em frente. Nós nos enchíamos de café, de açúcar, de substâncias mais fortes e perigosas. Mas o sono sempre chegava sorrateiro e acabava tomando conta.

Nós pensávamos com bom humor que o sono era o inimigo, era uma praga. Por que residir no templo de Morfeu se havia tanta coisa acontecendo lá fora? E a luta ficava mais desesperada. Quando você sabe que só tem poucos meses, poucos dias, quem quer dormir? Só quando a dor é demais. Só quando você está desesperado pela negação. Fora isso, o sono é tempo perdido que nunca vai ser recuperado.

Mas que negação prazerosa ela é. Ao vagarmos pela terra do sono e dos sonhos, conseguimos ver por que os insones imploram e os sonhadores lideram. Vemos Craig encolhido no sofá verde de Harry, debaixo de uma colcha de crochê que a bisavó de Craig fez. Observamos Harry em seu quarto, com os braços dobrados e as mãos debaixo da cabeça, o corpo como um q minúsculo. Em outro canto da mesma cidade, Tariq adormeceu com fones de ouvido, música islandesa impregnando suas viagens noturnas. Em outro aposento, Neil de pijama sonha que ele e Peter estão brincando de jogo da velha, enquanto Peter de camiseta e cueca boxer sonha que pinguins imperadores tomaram conta do shopping center e estão tentando vender óculos escuros para Emma Stone. Em uma cidade chamada Marigold, Avery adormece com um número de telefone escrito na mão, enquanto em uma cidade chamada Kindling, Ryan pegou um saco de dormir e adormeceu sob as estrelas, sorrindo ao pensar em um garoto de cabelo rosa e no que eles podiam fazer no dia seguinte.

Só Cooper ainda está acordado, mas não por muito tempo. Ele tecla com pessoas de outros fusos horários, conversa com homens que estão acordando, homens que estão fugindo do trabalho por um momento. Ele engana a todos, mas não pode enganar a si mesmo. Ainda está em lugar nenhum, e, por mais que olhe, não há nenhum lugar à vista, principalmente dentro dele mesmo. Ele acredita que o mundo está cheio de pessoas burras e desesperadas, e só consegue se sentir burro e desesperado por passar tanto tempo com elas. Ficamos preocupados com isso. Dizemos para ele ir dormir. Tudo fica melhor depois de uma noite de sono. Mas ele não pode nos ouvir. E continua o que está fazendo. Seus olhos começam a se fechar cada vez mais. Vá para a cama, Cooper, nós sussurramos. Vá para sua cama.

Ele adormece em frente ao computador. Homens de outros fusos horários perguntam se ele ainda está ali, se foi embora. Em seguida, passam para novas janelas, deixando a de Cooper vazia. Ele não tem como reparar quando todos saíram da sala.

Two Boys Kissing (Português - BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora