Observamos quando ele entra no estacionamento. Observamos quando ele os vê se reunindo: Harry e Craig, o Sr. e a Sra. Ramirez. Smita, claro, e Rachel, que mora perto o bastante da escola para ir andando. Ele os vê, mas não sai do carro, ainda não. Porque uma das qualidades mais traiçoeiras da mente é a capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Assim, Tariq está ali sentado, mas, ao mesmo tempo, volta para a pior noite de sua vida. Cronologicamente, três meses antes. Emocionalmente, ontem e hoje e três meses atrás e qualquer período de tempo entre os dois.
Sangue em sua boca. Parece que ainda tem sangue em sua boca.
Os caras estavam bêbados, eram cinco, e, apesar de não ter sido nesta cidade, foi em uma cidade próxima. Tariq ainda não tinha habilitação, ainda não tinha carro. O filme acabou e ele estava esperando que seu pai fosse buscá-lo. Seus amigos estavam indo comer pizza, mas ele tinha que ir embora. O pai estava atrasado, e a rua ficou deserta quando os créditos finais das conversas de calçada terminaram. Havia uma pessoa na bilheteria do cinema, mas só. Tariq não conseguia ficar parado, então andou um pouco pelo quarteirão para olhar umas vitrines de lojas. Quando os outros caras começaram a gritar, ele nem sabia que estavam gritando com ele. Ignorá-los só fez com que eles prestassem mais atenção. Quando ele entendeu o que estava acontecendo, já estava acontecendo rápido demais.
Primeiro, ele achou que era por ele ser negro, mas devido a todas as variações de viado que estavam gritando, ele soube que não era só isso. E alguns deles também eram negros. Ele tentou passar direto, voltar para o cinema ou até para a pizzaria onde os amigos estavam, mas eles não gostaram disso. Eles o encurralaram, e Tariq sentiu o botão do pânico ser pressionado. Enquanto eles debochavam da cor de sua calça, enquanto o provocavam mais um pouco, ele tentou forçar caminho para fugir. Jogou-se de corpo todo com esse objetivo, mas havia muitos deles, e eles não foram pegos de surpresa. Eles o empurraram de volta e ele tentou abrir caminho de novo, e desta vez um cara deu um soco nele, direto no peito, e, quando Tariq se inclinou, outros se juntaram. Porque quando um cara começa, vira um jogo. Tariq caiu no chão, lembrou-se de alguém dizendo para ele se encolher, se proteger assim. Eles estavam rindo agora, apreciando o que estavam fazendo, adorando a emoção. Ele nem conseguiu gritar pedindo ajuda, porque os únicos sons que conseguiu emitir eram sons que ele nunca tinha ouvido antes, uma admissão gritada e gutural da dor repentina e intensa enquanto eles davam socos e chutes, rindo seus viados para cima dele enquanto quebravam suas costelas.
Do outro lado da rua, alguém viu. A mulher atrás do balcão do restaurante tailandês saiu correndo, gritando e balançando uma vassoura. Os caras riram disso, riram da vassoura dela, do uso falhado da língua. Mas dois ajudantes saíram atrás dela, e eles a ouviram gritando polícia. Tariq não viu nada disso, nem escutou. Estava tentando conseguir enxergar, tentando se encolher mais, tentando cuspir o sangue da boca. Pela percepção dele, eles estavam ali e, com um último chute, sumiram.
O pai chegou um minuto depois. Encontrou-o. Levou-o para o pronto-socorro antes de a polícia chegar.
Enquanto ele sangrava na calçada, com pedrinhas e cascalho pressionando os machucados, nós também nos sentimos sangrando. Quando as costelas dele foram quebradas, nós sentimos nossas costelas sendo quebradas. E, quando os pensamentos voltaram à mente dele, as lembranças voltaram às nossas. Essa desumanizadora perda de segurança. É algo que todos nós temíamos e muitos de nós conhecíamos por experiência própria. Não desconhecemos o que acontece depois com Tariq: a longa cicatrização, a preocupação surpreendente de algumas pessoas (inclusive dos pais) e a não surpreendente falta de preocupação de outras (como alguns policiais, mas não todos).
Os agressores esconderam bem as pistas e nunca foram encontrados. Sabemos quem eles são, é claro. Dois deles são assombrados pelo que fizeram. Três deles, não.
Tariq também é assombrado, embora se sinta revoltado a maior parte do tempo.
— Eles acabaram comigo — disse ele para as pessoas pouco tempo depois. — Mas quer saber? Eu não precisava mais ser aquela pessoa que eu era. Estou feliz porque mudei.
Ele não vai deixar que o acontecimento o impeça de ir à cidade, de dançar. Mas o medo persiste. Os ferimentos. E, no fundo da mente, morando, como foi conosco, no fundo dos pensamentos, estão as perguntas mais traiçoeiras:
Como eles me identificaram? Como souberam?
O que fiz de errado?
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Two Boys Kissing (Português - BR)
Teen FictionTwo Boys Kissing (Dois Garotos se Beijando) 2013