trinta e três

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Depois de um ano, Peter e Neil sentem que passaram da fase de descobertas. Mas temos certeza de que eles vão descobrir continuamente que não é bem assim. Sempre há alguma coisa nova para se aprender sobre a pessoa que você ama.

Neil não fica surpreso ao chegar à casa de Peter e encontrá-lo ainda de cueca boxer, sentado no chão da sala de jogos, navegando em um mundo de fantasia pelo videogame.

— Me desculpe — diz Peter. — Estou quase conseguindo que a Guilda de Magos assine meu tratado. Vinte minutos, eu juro.

Neil foi tolo de esquecer o dever de casa, então vai até o quarto de Peter e pega o dele para fazer. Seria uma coisa se o jogo de Peter envolvesse quantidades imensas de batalhas e lutas com espadas. Mas, pelo que Neil consegue perceber, trata-se mais de fazer e romper alianças. Em outras palavras, política, só que com barbas e capas. Não era o tipo de coisa que ele gostava. Banho de Sangue nos Balcãs 12, o jogo que ele levou no dia anterior, está no chão.

Peter sabe que Neil não gosta, mas não consegue deixar de jogar mesmo assim. Porque, quando o tratado for assinado, ele vai poder viajar para o mundo das ninfas aquáticas pela primeira vez.

Ele nem repara no que Neil está fazendo até terminar. Tratado conseguido, ele vê que Neil está na metade do dever dele de inglês.

— Eu posso fazer isso — diz Peter.

Ele sabe que deveria gostar quando Neil faz seu dever, mas não gosta. Ele sabe que Neil faz porque é mais fácil para ele… e é precisamente por isso que Peter não gosta.

— Você tem coisas mais importantes a fazer — diz Neil. — Afinal, o que é John Steinbeck em comparação com o destino da Guilda de Magos?

— Eu gosto de Steinbeck.

— Sabe o que seria legal?

— O quê?

— Se seu jogo fosse debaixo da água.

Peter sabe que Neil quer chegar a algum lugar com isso. Fazer alguma piada. Mas não consegue identificar qual é.

Ele desiste e pergunta por quê.

— Porque aí os magos poderiam ser peixes, e poderia haver a guerra da Guilda dos Magos com Guelras.

Peter dá um sorrisinho.

— Caí direitinho nessa, não foi?

— Nadou em vez de cair.

Peter gosta dessas piadas, dessas brincadeiras. Gosta mesmo. Mas nem sempre ele está com humor para elas. Às vezes, deseja namorar alguém um pouco mais burro, ou pelo menos alguém que não pensa em todas as palavras de todas as frases que diz.

Neil não percebe que passou um pouco do limite. Ele muda de assunto, mas não porque sente que tem alguma coisa (levemente) errada. Na verdade, sua percepção natural do ritmo da conversa sabe que é hora de seguir em frente.

— Panqueca — diz ele. — Acho que a gente precisa de panqueca.

Desta vez, Peter sabe o que está vindo e entra na brincadeira. Eles começam a pular em uma perna só, gritando:

— I-hop! I-hop!

Somos idiotas maravilhosos, pensa Peter.

Two Boys Kissing (Português - BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora