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Quando Kyoko chegou ao hospital naquele dia, viu Ashton a arrumar as suas coisas. Ele parou para olhar para ela mal ouviu passos a entrar no quarto, e sorriu.

"Olá." Ele mostrou os dentes, virando-se logo de seguida para a sua mala de desporto outra vez.

"Boa dia..." Ela murmurou, andando até ele. "Já vais embora?"

"Vou. A médica responsável por mim informou-me ontem à noite que me deixaria sair do hospital hoje mas que continuaria com baixa. Ela diz que tenho de descansar mais um pouco e tal vez ir ver um nutricionista. Tenho ainda que cá voltar para ela me ver daqui a uma semana. Só preciso mesmo que informar o meu patrão que estou com baixa e mostrar-lhe os papéis." O homem informou, sempre sem parar de arrumar as suas coisas.

Assim que ele acabou, colocou a alça da mala sobre um ombro começou a andar em direção à porta, fazendo com que Kyoko o seguisse.

"E onde estão esses papéis?" Ela perguntou, cruzando os braços ao peito enquanto andavam.

"Vou buscá-los agora."

E assim fez. Ashton foi buscar os papéis à receção do hospital, para que pudesse ir embora e mostrar o comprovativo ao seu patrão. Entretanto, a morena foi andando até ao seu carro, tendo avisado o loiro antes de que lhe daria uma boleia.

Ao fim de uns minutos e alguns sorrisos constrangedores, o homem finalmente saiu do hospital, sendo observado por Kyoko. Depressa ele chegou Volkswagen e entrou nele. Igualmente depressa chegaram ao apartamento de Ashton, que era cerca de quinze minutos de distância do hospital.

"Queres entrar?" Ele perguntou, já com um pé fora do carro.

Haviam duas hipóteses: ou ficar em casa de Ashton acompanhada pelo mesmo, ou ir para sua casa e chorar pela falta da pessoa mais preciosa da sua vida. Seja dito de passagem que a mulher estava mesmo a tentar melhorar. Podia parecer que não, mas por vezes a ideia de melhorar passava-lhe pela cabeça.

Com efeito, os dois subiram e, depois de se alojarem, deitaram-se os dois na cama de Ashton, virados de barriga para cima a olhar para o teto.

"Queres saber uma coisa?" Perguntou Ashton e Kyoko zumbiu, para que ele soubesse que sim, ela queria saber. "Eu lembro-me tão bem dos dias que eu e  Eves passávamos juntos na cama, sem fazer nada. Apenas ficávamos deitados, às vezes aconchegavamo-nos um ao outro, e falávamos de tudo e mais alguma coisa. Era sempre depois de almoço, quando ela tinha vontade de dormir uma sesta. Eu punha-me a fazer-lhe festas no cabelo enquanto ela murmurava palavras incorretas até adormecer. Quando o fazia, eu passava uns bons minutos a olhar para ela e a memorizar cada pequeno traço da sua cara." O homem mostrou um sorriso grande e alegre. "Ela é tão bonita, pelo menos aos meus olhos. Acho que nunca não a vou amar, mesmo que a ame só um pouco."

O loiro recordava-se do dia em que chegara a casa e não ouvira nenhum barulho. Ele tinha sorriso ao pensar que Eva poderia estar a dormir, como fazia tantas vezes, e andou silenciosamente até ao quarto que eles partilhavam. No entanto, arrependeu-se quando viu Eva a dormir na cama acompanhada de outro homem. Ashton conseguia ainda lembrar-se da sensação que aquilo lhe provocara. Ele não tinha a certeza se estava triste, desapontado, surpreso ou irritado. Ele só sabia que as lágrimas lhe escorregaram pelas bochechas antes que ele pudesse reparar que estava a chorar. Os seus olhos estavam arregalados e a sua boca aberta, o seu nariz estava vermelho e o seu peito parecia vazio. Ashton nem reparou que tinha soluçado até ver Eva a abrir os olhos lentamente e a olhar para ele. Também a mulher arregalou os olhos, suspirando logo de seguida.

"Um dia tinha que acontecer, não é?" Ela mostrou um pequeno sorriso e um olhar triste.

"Não, não tinha." Ashton murmurou.

Tinha sido apenas isso. O loiro mandou Eva sair de casa dele e o outro homem também. Quando eles saíram, ele deixou-se cair do chão e libertou tudo o que sentia, fosse que sentimento fosse.

"Já não me afeta muito, sabes?" O homem continuou a falar com Kyoko, limpando uma pequena lágrima que tinha escapado devido à memória da separação do casal. Ela só abanava a cabeça e emitia sons de vez em quando para mostrar que estava a ouvir. "Eu consigo recordar os momentos que passei com a minha ex-namorada sem chorar."

"A mim também não me afeta pensar no meu ex-marido." Comentou Kyoko, continuando a olhar para o teto branco e simples. "Eu e o Grayson até somos amigos. Mas quando penso no meu filho não me consigo aguentar. E o Grayson está igual, nenhum de nós consegue pensar no Stanley sem sentir uma dor enorme no coração."

Ashton não respondeu. Em vez disso, pensou em como seria se ele próprio perdesse um filho, a pessoa que ele fez e criou, a pessoa que ele amaria mais que tudo. Depois de chegar à conclusão de que nem sequer queria imaginar como seria a dor, suspirou e virou-se para a morena.

"Bem, vamos almoçar?"

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estás a ver o que eu vejo ( ͡° ͜ʖ ͡°)???

ily

Blue Memories :: afiOnde histórias criam vida. Descubra agora