"Como foi o teu dia?" Foi a primeira pergunta que Kyoko colocou a Ashton, que comia já o seu gelado quando a mulher acabou de pagar o seu.
O homem, colocou, mais uma vez, a colher na boca e, de seguida, encostou a cabeça para trás e olhou para o teto sujo. "Bem, tendo em conta que ainda tenho o coração despedaçado e que ainda me dói o peito cada vez que respiro, não muito bem. Mas já estou melhor do que antes. E o dia nem me correu assim tão mal. Como é fim-de-semana, não tive que trabalhar e pude passar parte do dia no ginásio a libertar a raiva."
"Então é daí que vêem os teus músculos dos braços." A morena comentou, sem qualquer motivo secundário. Mas Ashton não conseguiu deixar de levar a frase para outro lado e elevou uma sobrancelha. "Oh, não quis dizê-lo dessa maneira. Apenas quis apontar o óbvio. Quer dizer, olha para essas batatas."
Via-se que Kyoko tinha ficado um pouco atrapalhada pela maneira que apontava para os bíceps do loiro. Por isso, Ashton não conseguiu evitar rir um pouco. No entanto, esse riso pequeno tornou-se em gargalhadas altas quando a mulher se apercebeu do seu comportamento e contagiou o mais velho com o seu riso. Era bom rir assim, à gargalhada, nem que fosse apenas por uns segundos para apenas voltar a chorar a seguir. Sabia bem rir de verdade e sentir a barriga a doer por causa das gargalhadas.
Quando pararam de rir, voltaram a comer os seus gelados.
"E o teu dia, como correu?" Perguntou Ashton, ainda com as bochechas rosadas dos risos que duraram uns bons minutos.
"Hoje fiz um bolo. Apenas deu-me na cabeça para fazê-lo porque não estava a fazer nada de produtivo. Mas bem, quando o fui a comer, vomitei." Ela encolheu os ombros como se não fosse nada. E para Ashton também não era nada de especial, ele tinha passado pelo mesmo. "Como podes ver, estou carne e osso e o meu estômago não está nada habituado a que eu coma muito. Eu tive a excelente ideia de comer uma segunda fatia e a minha barriga não aguentou. Vomitei. No chão da cozinha. Ao menos tive um pretexto para limpar a casa, o que não fazia há um mês."
"OK, resumindo, já tiveste piores dias."
"Exatamente."
Talvez tenha sido o sorriso honesto que Kyoko mostrou naquele momento. Ou a pequena alegria que se encontrava nos seus olhos por detrás de tanta tristeza. Ou o facto de ela estar a passar por coisas que ele também passara por. Ou apenas porque sim, mas Ashton tinha uma vontade tão grande de a beijar.
E foi isso que fez. O loiro esticou-se por cima da mesa, colocando as suas mãos nas bochechas de Kyoko e fazendo-a olhar para ele, confusa. Limpou um resto de gelado que ela tinha no canto do lábio com o polegar e esticou-se um pouco mais, colocando os seus lábios por cima dos dela.
Não foi preciso muito para que ela retribui-se o beijo. Kyoko fechou os olhos, colocou as suas mãos frias por cima das igualmente frias de Ashton e moveu os lábios, fazendo-o mover os seus.
Apenas moveram os lábios lentamente durante cerca de um minuto. Era suficiente. Quando se fartaram daquilo, afastaram-se e olharam um para o outro, sem grande sentimento a ser transmitido. Kyoko tinha ideia do porquê do loiro a ter beijado, mas não queria acreditar que o homem com quem ela tinha passados as últimas noites a conversar e em quem confiava tanto a quis beijar para se esquecer da sua ex-namorada.Era injusto e ela não acreditava que ele faria isso.
Enquanto olhavam um para o outro, a morena não conseguia parar de observar os olhos de Ashton com atenção. E, do nada, começou a chorar. Ele não sabia porquê, mas teve a decência de se levantar e puxar a sua cadeira para ao pé dela, para puder abraçá-la enquanto ela chorava até ao contentamento do seu coração.
"É só que-que eu sinto tanta fa-falta do Stanley." Ela soluçou, tentando controlar o choro. O seu coração doía e a sua cabeça latejava. As lágrimas escorriam sem parar e muco começava a escorrer também. Apesar de estar a esfregar os olhos, as lágrimas não paravam, nem a dor.
Enquanto olhava para os olhos de Ashton, lembrou-se do filho. Os olhos deles não tinham nada a ver, mas tudo parecia a querer fazer lembrar-se da falta que sentia do seu bebé.
Stanley era um rapaz tão bonito. Era um menino gorducho, ainda com a gordura de bebé mas, além disso, era mesmo mais gordo que a maioria dos meninos da sua idade. Ele corria por todo o lado mas a gordura parecia não ir embora. Apesar disso, Kyoko não estava muito preocupada. Ela também não tinha sido a criança mais elegante de sempre, mas a adolescência e o crescimento fizeram a gordura desaparecer.
O menino era tal e qual ao pai, exceto os olhos. Ele tinha os olhos da mãe: eram rasgados, pequenos e verdes escuro. De resto, era mesmo como o pai: tinha uma pele naturalmente morena, um cabelo claro, quase loiro, encaracolado, nariz arrebitado e uns pés enormes, ao contrário das suas mãos. Ele era um rapaz perfeito e Kyoko nunca poderia pedir por alguém melhor.
E talvez não viesse a ter melhor.

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Blue Memories :: afi
FanfictionOnde eles vão a uma gelataria que está aberta 24/7 e falam sobre os seus corações partidos. [book 4 in color series] Ideia da história por @envelopedmoon Capa feita por @mukequality Copyright © 1-800-STFU (Carolina) All Rights Reserved