Tiago e Alexandre ficaram calados prestando atenção aos sons do prédio; os canos velhos, as portas rangendo e passos pesados. Os Gladiadores estavam chegando perto. Alexandre pegou uma faca longa realmente afiada.
— Não vou deixar que peguem a gente— Alexandre empunhou a faca e ficou na frente de Tiago para protegê-lo.
Ouviram os passos se aproximarem e risadas. Alguém chutou a porta.
— Tem alguém aqui, vi pela janela— Disse uma voz abafada pela porta.
Então deram um soco na porta que fez a madeira velha ranger perigosamente. Os garotos no quarto ouviram risadas no corredor. Mais chutes. Tiago olhou para a janela, não havia como fugir por ela, pois ela não abria. Então sua visão capturou um vulto negro que vinha como fumaça em direção a ele. Quando se aproximou Tiago deparou-se com a coruja negra de olhos brilhantes, empoeirada na janela do seu quarto. O animal olhava fixamente para a porta do outro lado do aposento. Então ouviram os rapazes mexerem algo na tranca da porta e ela abriu.
Os mascarados invadiram o quarto e Alexandre ergueu a faca. Mas não houve tempo de ataque para nenhum dos dois.
A coruja negra atravessou o vidro da janela como fumaça e cresceu, deixando para trás a forma de uma ave para se tornar algo imenso e ondulante como ondas raivosas que envolveram os Gladiadores de uma só vez sem chance de fugirem ou atacarem. Quando a onda negra recuou, como se batesse nas pedras e voltasse para o mar, os Gladiadores estavam desacordados, os braços e pernas cobertos por rasgos que saiam muito sangue.
Então a onda girou como um redemoinho. Alexandre segurou Tiago nos braços antes do redemoinho os atingir e sentiram serem erguidos no ar.
Tiago manteve os olhos firmemente fechados e as mãos apertavam os braços de Alexandre com força. Tiago sentiu o vento forte joga-los para todos os lados. Então tudo acabou.
Tiago caiu em algo duro e liso e abriu os olhos. Alexandre estava caído na sua frente, piscando e olhando para os lados.
Eles estavam no grande salão do Submundo. Tiago levantou-se de um salto e olhou em volta. Estava vazio, a fonte não jorrava bebida e as luzes não estavam vermelho sangue, mas sim douradas. E o Rei estava parado diante deles. Usava, como sempre, roupas pretas, mas dessa vez os cabelos estavam cobertos por capuz e os braços e rosto estavam cobertos por símbolos pontudos feitos com uma espécie de tinta dourada.
— Boa tarde, Cinderela— E deu um sorriso.
Alexandre levantou-se abobalhado e encarou o Rei.
— Você! Seu monstro!
— Então é assim que sou chamado por sua família?— O Rei desdenhou.
— Meu irmão...
— Não venha falar de Alastair para mim!— Tiago viu um brilho ameaçador no fundo dos olhos do Rei— Eu conheci seu irmão e fiz o que pude por ele.
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O Rei das Sombras
RomanceO Rei das Sombras Em meio à bruma das montanhas escocesas, Tiago, um bolsista tímido e recluso, se vê imerso em um submundo obscuro e violento. O refúgio da pacata vida universitária se estilhaça ao se deparar com o Rei, um jovem que governa com mal...