Fortaleza, Ceará era muito quente, as ruas iluminadas pelos raios de sol pareciam ondular, o trânsito barulhento não andava e os lojistas mantinham-se nas portas para chamar fregueses com promessas de promoções tentadoras.
Tiago sentia-se em casa, sorrindo e olhando tudo é volta, segurando a mão de Rei que atraia atenção de todo mundo. Tiago havia sugerido que ele usasse um óculos de sol, para esconder os olhos brilhantes, mas o garoto havia negado.
Estavam a dois quarteirões da praia e podiam sentir o vento que subia a rua com força. Quase próximos podiam ouvir o barulho do mar, deixando para trás o som infernal dos carros. Atravessaram uma rua mergulhada nas sombras dos prédios luxuosos e chegaram à praia. Ficaram alguns segundos parados no calçadão observando o mar, a água brilhante e as ondas espumantes e cristalinas. Havia alguns banhistas deitados na areia ou dormindo à sombra dos guarda sóis coloridos.
— Aqui é área pública, a gente vai para aquele lado — Rei apontou para um quebra mar.
— O que vamos fazer ali? Não é perigoso?
— Apenas confie em mim.
Tiago confiou enquanto iam se aproximando do monte de pedras escurecidas pelo musgo e a umidade. Rei olhou em volta, mas não havia muita gente ali, e estalou os dedos. Tiago sentiu algo atravessar seu corpo, como uma onda invisível e de repente a imagem da praia lotada sumiu, dando lugar a outra praia, está mais vazia e diferente.
Diante deles, bem no meio do quebra mar havia uma estátua de bronze de uma sereia pousada em cima de uma pedra de bronze, ela mexia nos cabelos com dedos longos e afiados enquanto sua parte inferior de peixe balançava lentamente a rajada de vento. A estátua olhou para eles é parou o que estava fazendo.
— Bem vindos a Praia Druknet.
Rei puxou Tiago pela mão em direção a areia, de um lado estava o mar é do outro um conjunto de cabanas de madeira, individuais.
— Que lugar lindo! — Tiago exclamou dando um beijo em Rei.
— Sim, de fato é. É bem escondido, poucos conhecem a Druknet. Eu mesmo só conheço porque ajudei a erguer as barreiras mágicas que protegem a ilha.
— Ora, ora, ora... A Druknet finalmente terá a honra de receber nosso inestimável bruxo! — Os garotos se viraram. Atrás dele havia um homem sorridente, mas não era um homem comum; ele tinha a pele coberta por escamas azuis e brilhantes, olhos redondos e amarelos como bolas de tênis e orelhas que lembravam barbatanas de peixe, usava uma bermuda colorida com flores — E seu mais amável acompanhante. Achei que iriam de atrasar.
— Nunca me atraso. Tiago, este é Swimmer Fisk, o dono da Druknet.
Swimmer fez uma reverência exagerada e gargalhou.
— Tiago, hummm, lindo nome. Venham comigo, reservei o chalé sete para vocês — Eles seguiram o homem peixe por um caminho de paralelepípedos brancos que iam serpenteando por entre os chalés — A Druknet oferece o melhor serviço para casais mágicos. Com uma grande pitada de magia e alguns acordos e a ilha está livre de seres perigosos, posso garantir — Eles passaram por um pátio circular de pedra com uma fonte no meio de um homem derramando água por um jarro — Claro que tive de fazer acordos com a Associação Internacional de Astronomia, eles não paravam de me atormentar com mensagens pedindo permissão para ver as Duas Luas.
Tiago ficou curioso para saber o que era as Duas Luas, olhou para cima e viu dois círculos pálidos um ao lado do outro, ainda clarinhos pela luz do sol. Eles chegaram a varanda de um chalé com um sete pintado com tinta azul, Swimmer abriu a porta revelando um espaço aconchegante com um sofá branco de frente para uma lareira, um balcão de pedra divisando a cozinha, é uma porta que levava a um quarto com um cama de casal e um banheiro.
— Sejam bem vindos mais uma vez, lembrando que teremos o lual às sete da noite, na praia, não percam — E saiu com um largo sorriso no rosto azul.
— Aqui é muito lindo — Tiago falou olhando uma parede revestida de conchas do mar.
— Você merece, depois de toda aquela semana de provas.
A semana de provas realmente havia sido cansativa. Rei havia fechado o Submundo mais uma vez para estudar, logo depois apareceu com a ideia de uma viagem nas férias de verão. Robert decidiu acompanhar Alexandre para sua casa para conhecer os sogros. Tiago havia ficado muito animado com a ideia é pediu permissão dos pais que deixaram com relutância, mas deixaram logo em seguida.
E agora estavam ali, só eles dois, prontos para um mês interessante, sem serem interrompidos por ninguém, poderiam conversar por mais tempo, e havia perguntas que Tiago ainda que fazer sobre o passado.
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A noite chegou estrelada. Tiago e Rei saíram do chalé de mãos dadas e logo viram a fila de casais que seguiam rumo a praia. A noite estava prateada, e as duas luas iluminavam tudo com força. O som do mar enchia os ouvidos de todos é o vento agora morno penetrava pelas roupas brancas que todos usavam.
Chegando na praia encontraram uma grande tenda com mesas redondas e assento para dois, uma grande mesa de comida e archotes presos a suportes nos pilares que erguiam a tenda. Garçons de paletó dourado serviam todos.
— Esse lugar é um sonho, nem acredito que estamos aqui — Tiago bebeu um pouco da bebida azul luminosa que o garçom trouxe para eles.
— O melhor para o melhor — Rei beijou as costas de suas mãos — Faço tudo por você.
— Tem algo que eu gostaria que fizesse por mim — Tiago criou coragem para dizer, o coração acelerado.
— Pode falar.
— me conte tudo sobre a gente, melhora me conte momentos marcantes nossos.
Rei piscou algumas vezes parecendo um tanto confuso mas assentiu. Ingeriu um gole da bebida e olhou para Tiago nos olhos.
— Você era sem dúvida alguma um pestinha — E sorriu afetuoso — Você escalava muros, árvores, torres, qualquer coisa que dava na telha, você queria ver o céu mais de perto, queria chegar mais perto das estrelas. Você era um sonho, eu tinha medo que quebrasse, por isso ficava na sua cola como uma sombra, sempre observando ou impedindo algum desastre com magia. O que mais me marcou em você foi que você nu cá teve medo de mim, sempre viu algo mais que minha magia, me tratava como um ser humano, e não como aberração que muros me tratam. Você fez o diferencial, você tocou meu coração e minha magia.
Tiago tentou conter as lágrimas, mas talvez tivesse falhado porque seus olhos ardiam.
— Você mudou meu foco da magia, me fez perceber que os humanos podiam ter algum valor, e isso eu jamais pensava admitir. Você me deu uma vida, melhor do que eu tinha, e manter você sempre jovem foi um preço que escolhi pagar por te amar.
Tiago se inclinou sobre a mesa e o beijou.
— Eu te amo — Disse entre os beijos.
— Eu também te amo.
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O Rei das Sombras
Roman d'amourO Rei das Sombras Em meio à bruma das montanhas escocesas, Tiago, um bolsista tímido e recluso, se vê imerso em um submundo obscuro e violento. O refúgio da pacata vida universitária se estilhaça ao se deparar com o Rei, um jovem que governa com mal...