Capítulo VI - O Quarto

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Athos, aquele velho louco. Se o envolvimento com Suzana já era perigosamente acusador, sua relação com Laura Caldeira foi demais para minha cabeça. Agarrei a garrafa de uísque e dei um gole. Não soube precisar se o tempo guardado fizera bem demais ou de menos para aquela bebida.

"Quem era esse cara da Diolinda?"

"As únicas pessoas que viram, alegaram ser um sujeito com roupa estranha e careca, foi o que eu consegui nos depoimentos."

Athos fez uma pausa e tomou mais um gole.

"Laura e eu nos tornamos próximos, e ela pedia sempre que eu voltasse a sua casa. Essa casa. Assim, nos tornamos amantes."

Nisso, Athos levantou-se e começou a andar em círculos na cozinha.

"Quando o Coronel morreu, alguns disseram ter avistado um homem com as mesmas características rondando a região. Alguém novo e estranho."

"Isso não faz sentido. Por que Laura Caldeira decidiu envolver-se com você?"

Athos continuava dando voltas na cozinha velha, o dia começava a cair sobre nós.

"Laura me contou tudo, menina. 'Lionel me traía e me batia', ela confessou. Um homem vil escondia-se sob a capa daquele cidadão de bem. Não sei como aconteceu, mas as visitas tornaram-se frequentes. Ela não chorava, mas desabafava. E tem algo a mais. 'Eu sabia que havia alguém querendo nos matar, mas não desse jeito', lembro dela dizer."

"Como era isso?"

"Alguém andou seguindo os Caldeira nos últimos dias, antes da morte do Coronel. Eu ainda não havia desistido da investigação. Andava perguntando sobre o paradeiro de Suzana e sobre o homem estranho, mas não consegui muito. Visitava Laura para vê-la e dar acalanto, mas também para vigiar. Se o assassino voltasse, eu não só tiraria o peso de minhas costas, mas também me livraria de uma possível acusação, menina. Eu não era o Incendiário."

"Suzana estava com o assassino de Lionel?"

"Não se adiante, menina. Vem comigo."

Athos me guiou para fora da cozinha. Subimos um lance de escadas. O velho foi na frente, subindo as escadas com dificuldade e parou em frente a um portal de madeira.

O interior revelou um quarto destruído, talvez a pior parte da casa.

"Esse era o quarto de Laura. Ficamos aqui, por uns dias. Eu comecei a me sentir confortável com a situação, não sabe? Uma casa de rico, uma mulher que me queria. Mas nunca esqueci Diolinda. Ah, eu não era safado, ou talvez fosse, menina, não sei se fazia o certo, mas me deixei fazer."

Athos engoliu seco.

"Um dia, recebi um recado na delegacia de alguém na rua quinze. Uma moradora me garantiu ter informações sobre o homem careca. Assim, eu não fui nessa noite para a casa de Laura, fui para lá. Ela disse que o homem voltou naquela rua, entrou e saiu de uma casinha e saiu às pressas."

O caso começava a desenhar-se na minha cabeça.

"Pedi direções e saí, armado em busca daquele homem. Busquei informações em bares e qualquer coisa que estivesse nas redondezas. Fui seguindo uma direção. Cheguei até a rua atrás dessa casa. Foi quando eu vi."

Athos Magno parou de encarar o vazio e passou a olhar para mim.

"O céu brilhava fogo. Esse quarto era como a boca do demônio, cuspindo fogo. Antes mesmo de ouvir da boca dos cidadãos que já encontravam-se ao redor da casa que esperavam os bombeiros, eu já repetia numa voz baixinha 'Mataram Laura. Mataram Laura Caldeira'."

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