Capítulo VIII

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Quando Victoria acordou estava tudo em silêncio. A chuva ainda caia menos intensa e seu barulho agora parecia uma canção para os ouvidos dela. Tivera o melhor dos momentos de sua vida. Jamais sentira tanto prazer quanto sentiu nos braços de Ricardo. Como seria a partir dali, ela não sabia, mas teria uma linda lembrança daquele dia. Ricardo se mexeu assustando-a. Não se sentia pronta para ver a indecisão nos olhos ele. Fingindo que dormia, ela fechou os olhos.

Ricardo observou o belo rosto ao seu lado. Tivera com Victoria o máximo do prazer. Ele imaginava que seria assim. Só não esperava que pudesse marcá-lo tanto, um único ato de prazer. Ela era doce, selvagem e se entregou completamente para ele, deixando-o encantado e feliz.

Não era sua intenção ficar apaixonado daquela forma, mas ele sabia que correria esse risco e aceitou. Agora teria que decidir o que faria. Ricardo acariciou levemente os cabelos dela jogados no travesseiro. Não estava pronto para um compromisso, mas se permanecesse com suas dúvidas poderia perder Victoria, Teria que se adaptar a nova realidade ou aceitar perder a mulher que tinha ao seu lado.

Victoria levantou-se somente após Ricardo sair da cama para tomar banho. Era claro para ela que ele tinha dúvidas e agiria como fora anteriormente. Não estava disposta a se diminuir diante dele.

Ricardo saiu do banho e a viu deitada na cama. Estava linda olhando em sua direção. Como fugir daquela mulher? E como dizer não, se a única coisa que desejava falar era sim.

- A chuva passou. Podemos seguir viagem. – Foi o que conseguiu dizer entre tantas coisas que desejava.

- É verdade. Vou tomar um banho rápido no meu quarto e poderemos pegar a estrada. – Ela se levantou já vestida e saiu. Não havia nada para se falarem ainda. Deixaria um espaço para ele refletir.

O banho aliviara um pouco a tensão do corpo de Victoria. Mais uma vez se rendera a emoção e não tivera bons resultados. Era dever seu, consigo mesma, aceitar a derrota. Organizando seus pertences, ela foi se encontrar com Ricardo na cozinha.

O café da manhã estava servido e Ricardo o tomava na companhia da cozinheira.

- Sente-se filha. – Convidou ela pegando uma xícara no armário.

- Obrigada. Agradeceu ela pegando a louça. – Tomaram seus cafés calados e não disseram uma única palavra que não fosse apenas respostas as perguntas e comentários da senhora que os observava.

Após as despedidas, seguiram viagem de volta. Victoria não desejava chegar à sua casa com aquele clima ruim entre os dois. Iria decidir por eles, já que tudo indicava que ela teria que fazer isso.

- Ricardo. Gostaria que resolvêssemos algumas coisas antes de chegarmos. – Começou ela sentindo a tensão nele. – Não estou disposta a viver de forma instável uma relação e muito menos que ela seja sustentada por dúvidas e medos. Não podemos conviver com isso. A noite foi linda, mas acredito que não estamos prontos para viver uma história juntos. – Doía nela dizer aquelas palavras. – Não pretendo fingir que nada aconteceu e espero o mesmo de você, mas deixemos tudo como está. Cada um se entende com sua razão e se acaso queiramos nos falar futuramente, fica em aberto essa possibilidade. Tudo bem para você? – Perguntou após concluir.

- O que você decidir eu apoio. – Respondeu ele prendendo com força as mãos no volante para impedir a vontade de tocá-la.

- Então, está decidido! – Victoria virou o rosto para olhar a paisagem. Não permitiria que ele visse seus olhos tristes. O que tivesse de ser, seria. Tomara a decisão mais acertada.

Trocaram algumas palavras durante o percurso. Nada que envolvesse suas vidas pessoais. Ricardo fora simpático e contara sobre o desenvolvimento de sua rede de supermercados. Por vários momentos ela sentiu orgulho daquele homem que começara do nada com o pai e havia construído muito desde então. Quando chegaram, era horário de almoço e Ricardo a convidou para almoçar, mas ela preferiu não estender mais aquela situação, agradecendo e dispensando. Ele a deixou em sua casa e partiu levando consigo um misto de saudade, alegria e dúvidas, sem perceber que deixara metade desses sentimentos com ela.

Após pegar seus filhotes com a vizinha Victoria foi para casa organizar sua rotina. Aproveitaria à tarde para descansar, usando quase todo o tempo para dormir. Quando acordou, o dia já se acabava e não havia muito que fazer. Alimentou seus cães e foi comer algo.

Na rua o movimento já havia diminuído muito. As pessoas começavam a parar e ela aproveitou para caminhar lentamente sem correr o risco de atrapalhar alguém ou se esbarrar em um apressado. Quando chegou ao restaurante que costumava ir com frequência, pediu a comida. Enquanto esperava sua mente a levou para os últimos acontecimentos. Tivera a melhor de todas as noites de amor em sua vida. Ela sabia que seria melhor ficar quieta, sem se apavorar, isso em nada ajudaria. Não seria fácil fingir que nada mudara e que poderiam ser apenas colegas de trabalho, caso ele preferisse assim, mas seria exatamente isso que pretendia fazer, quando o encontrasse novamente.

De volta à sua casa, Victoria abriu seu e-mail e lá estavam várias mensagens da amiga. Márcia. Certamente estava curiosa por saber dos acontecimentos. - pensou ela. A senhora pedia que ela comparecesse a empresa no dia seguinte. Não imaginava que teria um reencontro com Ricardo tão cedo, e a idéia de encontrá-lo, a assustava, embora também a trouxesse a agradável sensação por saber que o veria. Após confirmar sua presença no dia seguinte, via e-mail, ela desligou o computador. Era hora de descansar para o próximo dia.


AMOR, INDECISO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora