Capítulo XXVI

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Há muito tempo Alicia não entrava na casa de campo dos Hawkins

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Há muito tempo Alicia não entrava na casa de campo dos Hawkins.

Para sermos mais exatos ela não pisava naquele lugar desde seus doze anos. Há quase uma década ela não sentia o cheiro das flores de Tressa ou deslizava pelo carpete felpudo colocado no hall de entrada. Estava tão deslumbrada e hipnotizada analisando - e relembrando - cada detalhe da casa que não viu Brutus no chão e acabou tropeçando.

- Oh, meu Deus! Brutus! Eu me lembro de você. Como está grandão! - ela abaixou-se para poder acariciar as longas orelhas do beagle.

Ele estava velho e visivelmente cansado, o que não era algo para se surpreender. Alicia lembrava-se até hoje de quando os garotos Hawkins ganharam um cãozinho de estimação para brincar no verão de 1813. Vê-lo agora, tão mais lento, mas mesmo assim sendo o mesmo animal, trazia um misto de tristeza e nostalgia ao seu coração.

Suspirou emocionada. Uma onda de sentimentos invadia sua alma e ela não conseguia evitar lembrar-se de todos os bons momentos que passou em Kent. Como que em cada piscar dos olhos ela avistasse deslumbres de seu passado. Na longa escadaria a sua frente podia ver David e Edward deslizando pelos corrimões com espadas de brinquedo, atrás dos irmãos que defendiam a honra da doce donzela aprisionada entre quatro castiçais da Viscondessa.

Mesmo que tudo tenha mudado. Mesmo que David e Richard não estivessem mais nesse mundo, Edward estivesse fazendo constantemente o papel de um babaca, Charles tivesse dificuldade em se abrir com a irmã e Matthew - o amado Sr. Hawkins - agora fosse seu marido, as lembranças das crianças alegres e cheias de energia permaneciam intactas. Talvez fosse essa a razão de seu apego tão grande em suas memórias. Elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado.

— Quais são suas flores favoritas do jardim de minha mãe? — Matthew perguntou enquanto um lacaio o ajudava a retirar o casaco.

Alicia pensou por dois segundos.

— Não tenho favoritas, mas hoje eu reparei em suas violetas. São maravilhosas.

— Sra. Rendell, encaminhe minha esposa no banho e auxilie-a no que for necessário. Eu volto já.

Ele estava a abandonando? O sol já estava se pondo, logo, logo não teriam mais luz natural e o Sr. Hawkins fugia de suas obrigações conjugais. A meia dúzia de borboletas que habitava na barriga de Alicia agora haviam se convertido em centenas. Era torturante a espera por algo que em teoria deveria ser bem simples, apenas um ato. Um ato. Um ato que lhe despertou tamanha curiosidade.

Ela estreitou os olhos e observou Matthew sair pela mesma porta em que haviam entrado a pouco mais de um minuto.

A Sra. Rendell provavelmente notou seu nervosismo, pois enquanto preparava sua nova senhora para deitar-se, tentou descontrair contando histórias engraçadas sobre os funcionários dos Hawkins. A maneira como ela se portava diante de Alicia lhe despertou muita curiosidade e também certo orgulho. Não conversavam como uma simples senhorita e uma criada, mas dessa vez era sua senhora. Uma mulher madura e que deveria estar a par de tudo o que acontece na propriedade — mesmo que ela não estivesse tão preparada para isso.

Feita para um Visconde [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora