Diferenças

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As mãos estavam frias e os dedos murcharam de tanto ficar embaixo da água fria da torneira. Sentiu o gelo estender-se pelo antebraço e queimar internamente alguma coisa, talvez os ossos. A temperatura lá fora era de 4 graus negativos.

O cansaço tomava conta do corpo de Archie com mais rapidez ultimamente. No entanto, não havia previsão de férias ou descanso em sua vida. Não quando tinha que se dividir entre o trabalho e Marc.

Agradeceu mentalmente quando ensaboou a última louça que restava, sentindo um alívio imenso ao ver a pia limpa. A pilha de pratos lavados e secos na bancada ao lado era indicativo de que já podia ir embora, pois o restaurante tinha fechado e não havia mais clientes.

—Arch? Quer uma carona?

Sobressaltou-se e olhou para a porta da cozinha. Finn estava lá, sorridente e ansioso por uma resposta positiva, pois ele adorava ser útil e ajudar. Archie podia dizer que ele era o único amigo que possuía e o único colega com quem conversava.

—Pode ser, respondeu, retribuindo o sorriso enquanto secava as mãos no avental e o retirava do corpo.

Finn era loiro, tinha cabelos cacheados como os de um anjo e olhos claros da cor do oceano. Estava sempre disposto a auxiliar qualquer pessoa, era bondoso, gentil e simpático. Ele não trabalhava na cozinha, era o contador do restaurante e, como tal, estava quase todos os dias lá.

Saíram da cozinha para a rua gélida da cidade. Archie estremeceu de frio com aquele choque térmico e puxou a gola do casaco mais para cima, temendo que as orelhas congelassem caso não o fizesse.

Subiram na moto após colocarem os capacetes. A cintura de Finn foi agarrada assim que acelerou a moto e sentiu o rosto de Archie enterrado em suas costas. Aquele aperto e proximidade eram novos para ambos.

Finn sempre oferecia carona para o colega porque sabia que ele não possuía carro ou moto e que seu salário não era dos melhores para pagar duas passagens de ônibus diárias. Mas no fundo não era somente por isso que o ajudava.

O motivo principal era que Finn gostava de Archie e, consequentemente, não suportava o namorado dele, Marc. Não gostava do jeito como ele tratava Archie, sempre parecendo desinteressado sobre sua vida. O ar arrogante dele era irritante. Além disso, existiam aqueles hematomas suspeitos pelo corpo do amigo.

Não entendia por que o garoto insistia em ficar com um homem que apenas o usava para a diversão sádica que tinha de machucá-lo (ao menos era isso o que pensava).

Às vezes Marc buscava-o no trabalho e Finn os observava conversar de longe enquanto caminhavam até o carro. Nesses momentos percebia que Archie era o único que parecia animado e interessado em fazer aquela relação evoluir. Também notava que ele olhava para Marc como se fosse um Deus, algo era nada saudável do seu ponto de vista.

O vento proporcionou sensações boas em Archie, estas parecidas, mas nem de perto iguais, as que Marc lhe proporcionara na noite anterior. Sentiu arrepios gostosos pelo pescoço e braços, que ainda estavam um pouco doloridos. Os pelos da nuca se eriçaram e os dedos, que permaneciam gelados, agarraram com força a cintura de Finn. Gostava do inverno, pois aquela estação o fazia sentir tudo mais intensamente do que o normal. Sorriu, agradecido pela brisa fria que batia em seu rosto.

Assim que chegaram, ambos desceram da moto e Finn guardou o capacete que havia lhe emprestado.

—Amanhã é meu aniversário, Arch. Queria te convidar para um happy hour depois do trabalho por minha conta, o que acha? Finn perguntou animadamente.

Archie pensou um pouco naquela proposta. Não tinha marcado de sair com Marc no dia seguinte e, quando perguntou a ele por que não sairiam, Marc encarou-o com indiferença e desconversou o assunto.

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