Revelaçōes

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Archie sentiu-se sozinho, pois Marc havia saído para fumar na rua depois de desculpar-se por deixá-lo. Ele não sabia como consolar alguém, mas poderia ter pelo menos tentado.

Archie não ficou irritado ou sentiu raiva dele, principalmente porque só havia uma emoção dominando-o, a tristeza. A cama e o quarto pareceram pequenos demais para a angústia que o preencheu. Sentiu-se pequeno e solitário deitado no meio do colchão e lágrimas abundantes desceram por suas bochechas. O choro foi irrefreável. O corpo inteiro tremeu com soluços quando lembrou da última vez que estivera com o pai no leito do hospital. Ele havia conhecido Marc e havia gostado dele. 

Alan havia enviado o endereço de onde o velório ocorreria e Archie não havia sequer lido. Queria que alguém cuidasse de tudo e lhe dissesse que tudo ia ficar bem, mas Marc não era essa pessoa. Marc pareceu desesperado com a situação e, quando ele voltou ao quarto, notou (por causa do cheiro), que devia ter fumado a carteira inteira de cigarros.

Sentiu o peso dele sobre o colchão e espiou-o por entre os dedos, tentando concentrar-se em outra coisa que não recomeçasse seu choro. 

Marc inclinou-se na altura de seu rosto, mostrando um olhar preocupado e um semblante sério.

━Você quer alguma coisa? Posso fazer um chá.

━Não precisa, Archie respondeu baixinho, sentindo alívio por conta da pausa no choro.

Cobriu-se até a cabeça e fechou os olhos. Desejou dormir para sempre e só acordar quando tudo estivesse resolvido, mas sabia que não podia ignorar as responsabilidades e a realidade que tinha. Precisava encarar e enfrentar todas as provações da vida sem reclamar, como sempre havia feito. Ainda tinha Alan, e Marc. E Finn.

Sorriu com o pensamento e as lágrimas recomeçaram a escorrer sem que conseguisse segurá-las. A angústia foi tamanha que controlou-se para não gritar.

Sentiu um toque no cobertor que cobria seu rosto e encarou o rosto sério de Marc novamente. Ele estava com as sobrancelhas unidas em preocupação.

━Eu realmente sinto muito, Archie, ele sussurrou com suavidade e sua voz acalmou Archie, que suspirou em meio ao choro.

Era horrível assisti-lo se contorcer embaixo das cobertas, soluçando e chorando. Marc sentiu-se impotente e inútil, então deitou-se ao seu lado e ficou olhando para o teto.

O luto era conhecido de Marc e jamais o superaria. Às vezes achava que era algo com o qual precisaria viver até o fim da vida e parecia um peso e uma responsabilidade imensa para pessoas tão jovens como eram.

Sentia dor por vê-lo chorar, um sentimento completamente novo. Não queria, de jeito nenhum, vê-lo daquela maneira, e lembrar que já havia sido culpado por fazê-lo chorar deixou-o irritado. Onde estava com a cabeça para fazer a pessoa mais importante da sua vida chorar? A única pessoa que ainda se importava consigo?

Não era mais novidade para Marc que o amava. Havia algum outro nome para aquela dor que sentia ao ver outra pessoa sofrer por algo que não podia mudar? E como gostaria de mudar o passado apenas para vê-lo feliz naquele momento. Suspirou com lentidão e resignação. Estava cansado de ignorar o que sentia apenas para não parecer vulnerável. Precisava viver sem medo e fazer as coisas que queria antes que fosse tarde demais. Sua mente era cansativa e, muitas vezes, maldosa, impedindo-o de fazer o que realmente desejava.

Pensando no quanto havia passado tanto tempo se controlando, Marc inclinou-se e abraçou Archie por cima das cobertas, deitando a cabeça no ombro dele enquanto acariciava seus cabelos. Os fios tinham cheiro de morango devido ao shampoo que ele havia usado no banho logo que acordou e fechou os olhos, guardando aquele cheiro na memória.

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