Saídas

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O restaurante se parecia mais com um bar no qual as poltronas roxas combinavam com as mesas de madeira escura. A iluminação era baixa e feita pelos lustres de cristais que pendiam em cima de cada mesa do recinto. A decoração elegante e moderna era notada pelos quadros com molduras coloridas espalhados pelas paredes. Era um ambiente descontraído e intimista.

Pensando que o cardápio dali não caberia em seu orçamento mensal, Finn sentiu-se aliviado ao ver os preços e perceber que poderia pagar pela maioria dos pratos.

As poltronas combinavam com as roupas de Leonard, que vestia uma camisa roxa com detalhes pretos e uma calça cáqui cinza. Ele gostava de usar roupas modernas, coloridas e estampadas, Finn notou.

Leonard arqueou as sobrancelhas ao ver que era observado pelos lindos olhos azuis do loiro. Tentou controlar-se e acalmar a mente agitada que desejava fazer mil perguntas, afinal, não queria assustar uma companhia tão agradável.

Leonard voltou a olhá-lo,reparando no quão extremamente bonito ele era. Na festa não havia reparado direito na beleza dele, mas ali, sob a luz dos cristais, admirou-o enquanto tentava não estragar tudo com suas conversas rápidas e sem jeito.

━Você gostou do lugar? O asiático sussurrou, inclinando-se sobre a mesa.

━Gostei muito, Finn respondeu com outro sussurro, sorrindo. Mas por que está sussurrando?

━Tudo é tão calmo e silencioso aqui que tento me adequar à harmonia do ambiente. Mas podemos conversar naturalmente, não me importo tanto assim. 

Finn sorriu, achando aquela conversa estranha, mas divertida. Já haviam pedido a comida e ela não demoraria a chegar.

━Você é contador, Finn? Leonard perguntou, arqueando as sobrancelhas. 

━Sim. Puxa, você se lembra. Nem eu lembro de ter te falado isso, ele riu. 

━Sim, foi quando nos encontramos no curso, o asiático cantarolou com um sorriso. 

Leonard lembrava-se de tudo. Seu cérebro trabalhava com uma velocidade desproporcional algumas vezes e precisava controlar as palavras para que elas não ultrapassassem os pensamentos que tinha. Em alguns dias a mente se acalmava, em outros,  agitava-se, dependendo da situação. Aquele encontro era especial e importante, porque desejava um relacionamento e Finn parecia aberto a conhecê-lo, por isso, estava agitado.

━E você, o que faz além do curso? Finn perguntou.

━Eu sou arquiteto.

O loiro ficou boquiaberto com a resposta, pois jamais havia imaginado algo do tipo. Havia pensado que ele talvez fosse botânico, ou, no máximo, biólogo, até estilista, mas arquiteto? Contudo, lembrou-se da casa espaçosa e bonita, do jardim bem estruturado, dos móveis sob medida da casa, das roupas de marca que ele usava e tudo fez sentido.

━As pessoas acham que eu sou modelo, eu sei, é chocante, Leonard brincou, revirando os olhos forçadamente.

Finn riu mais alto do que deveria daquela reação.

━Me formei há dois anos e sempre quis unir a arquitetura ao meio ambiente, por isso sempre procuro criar projetos ecológicos e sustentáveis.

Finn encarou-o com interesse e apoiou o rosto na mão direita. Os cabelos loiros estavam úmidos e encaracolados e Leonard pensou em como adoraria colocar os dedos por entre os cachos molhados e sentir sua textura. Finn parecia um anjo debaixo daquela luz.

━Isso é incrível, Leonard! A arquitetura precisa se unir e respeitar a natureza para criar coisas mais bonitas.

━Sim! Leonard empolgou-se e continuou: O papel da arquitetura é criar, mas para criar, alguns arquitetos destroem a natureza ao invés de buscar soluções melhores. Por exemplo, se há uma árvore no meio de um terreno, a primeira ideia que temos é tirá-la dali, certo? Mas e se mudássemos o projeto para deixá-la ali, sem incomodar a natureza? Tenho tantos projetos em mente, Finn... Qualquer dia eu te mostro alguns!

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