Curso

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No dia seguinte as ruas continuavam alagadas. Felizmente, ninguém tinha aulas nem trabalhava no domingo.

Marc acordou sem saber o que fazer, porque Archie dormia apoiado em seu peito, com a mão aberta espalmada em sua barriga e o rosto sereno. Sentiu sua respiração calma contra seu abdômen.

Reparou no corpo pequeno, cheio das marcas que fizera. Manchas arroxeadas, que antes não estavam ali, agora podiam ser vistas nas coxas e nos braços.

Inclinou o pescoço o suficiente para olhar o horário no relógio acima da cômoda. Onze horas da manhã. 

A noite anterior havia sido muito diferente de todas que já haviam tido juntos. Mas alguns hábitos continuaram os mesmos, prevalecendo no final.

Quando o outro começou a se mexer, acordando lentamente e se espreguiçando Marc sentiu uma quentura no peito que nunca havia experimentado. Tentou identificar aquele sentimento, mas achou melhor ignorá-lo. Era uma bobagem, disse para si mesmo.

Archie abriu os olhos com um bocejo e olhou direto no relógio. Havia dormido ali. Subitamente lembrou-se de tudo que ocorrera naquele quarto e enrubesceu.

Como era possível as pessoas tornarem-se tão diferentes na hora do sexo? Ele mesmo havia dito coisas que antes nunca tivera coragem de falar. O rosto ficou vermelho com as lembranças.

—Bom dia, murmurou baixinho.

Levantou-se e começou a se vestir lentamente, ainda sonolento. Aquele era o procedimento padrão: acordar, se vestir e ir embora. Marc não gostava que ficasse na cama por muito tempo, e não sabia se ele tinha algum compromisso.

—Busco você amanhã no serviço.

Ouviu a frase num tom abafado, então percebeu que Marc falava com o rosto enterrado no travesseiro, com indiferença. Claro que não iriam conversar sobre a noite anterior. Archie também não receberia os beijos que tanto ansiava nem ouviria as palavras que desejava, mas já estava acostumado a ficar decepcionado. Mesmo que dissesse a si mesmo para não esperar tais gestos de Marc, no fundo sempre havia esperança.

O som estridente da campainha ecoou pela casa e Marc resmungou, tirando o lençol de cima do corpo e levantando rapidamente, sem olhar para Archie.

Archie já estava vestido, então seguiu-o até lá embaixo, preparado para ir embora.

Marc caminhou com passos rápidos, vestindo apenas uma cueca, em direção a porta da frente.

—O que estão fazendo aqui? Archie ouviu-o falar para alguém na entrada e, enquanto isso, sentou-se no sofá e esperou.

—Trouxemos bebidas e comida para almoçarmos aqui! Uma voz feminina animada disse.

—Ah, qual é Marc? Domingo é um dia chato, depois podemos dar nossa própria festinha, uma voz grossa de homem exclamou.

Archie estranhou aquela fala, pois que tipo de pessoa chegava às 11 da manhã de um domingo na casa dos outros falando sobre festa? Os amigos de Marc, claro. Amigos estes que não conhecia verdadeiramente, apenas de relance.  Às vezes quando estava entrando naquela casa os via saindo, às vezes era o contrário: ele saía e os via chegar em seguida.

—Vai dizer que aquele garoto está aqui? 

Aquelas palavras fizeram os pelos de seu braço se arrepiarem e ficou triste por ser conhecido como "aquele garoto".

HematomasOnde histórias criam vida. Descubra agora