O dia lá fora estava ensolarado e os pássaros piaram esganiçados, felizes por finalmente sentirem algum calor após tantos dias frios e chuvosos.
Marc massageou as têmporas e tentou reunir coragem para levantar da cama. O quarto estava uma bagunça total, com roupas jogadas no chão, pratos de comida e copos por cima dos móveis e um cheiro nada agradável de cigarro no ambiente. Estava mais do que na hora de pedir para os empregados limparem aquele aposento.
Com relutância, conseguiu levantar e reunir alguns copos e pratos nas mãos, levando-os para o andar de baixo com cuidado para não deixá-los cair.
Colocou as louças na pia com alívio e, na volta para o quarto, encarou o próprio reflexo no vidro da janela da sala. Estava diferente, tinha olheiras profundas e escuras, os cabelos estavam bagunçados como um ninho e as roupas encontravam-se amassadas.
Aquele não era o Marc de sempre. Fechou as mãos com força e as unhas enterraram-se na palma com intensidade. Nunca havia passado por sua cabeça que poderia ficar tão chateado por causa de Archie.
Voltou para o quarto com passos irritados e terminou de arrecadar as sujeiras sem conseguir esperar pelos empregados. Arrumou a cama com dificuldade, afinal, não estava acostumado a fazê-lo.
O carpete finalmente ficou livre de roupas e copos. Estava suando quando terminou e torceu o nariz ao sentir o cheiro do próprio corpo. Decidiu tomar um banho quente e relaxante.
A água escorreu por suas costas com velocidade e o calor esquentou sua pele. Os músculos enfim relaxaram. Esfregou o rosto com sabonete e ensaboou o resto do corpo com lentidão, desejando nunca mais sair dali.
Fechou os olhos e tentou esvaziar a mente, mas as lembranças voltaram com mais força.
Archie. Ele pareceu tão decepcionado quando viu Marc daquela forma no dia anterior. Será que estava esquivando-se da sua presença? Foi o que pareceu. Convidou-o para almoçar, ofereceu-se para buscá-lo, mas Archie havia dito que já tinha compromisso.
Tentou colocar-se no lugar do garoto, afinal, o pai dele estava com câncer e precisava ter um pouco de empatia. Era difícil ser empático quando a única coisa que sentia era irritação e tristeza.
O que deveria fazer? Tentar conversar com ele? Tentar explicar o quê? Talvez apenas precisasse estar perto dele.
Tinha sido um idiota, agora percebia. Ainda sentia falta do sexo, mas não podia e nem queria basear aquela relação toda apenas em sexo, não mais. Como não havia percebido isso antes? Archie queria uma relação amorosa, algo difícil para Marc conceber, fosse por sua personalidade, ou por seus gostos, mas estava inclinado a tentar entender.
A relação entre os dois havia sido intensa desde o início, naquele bar. Havia sido? Ou ainda era? Precisava pensar em algo para fazer e o turbilhão de memórias e frases desconexas em sua mente parar.
Começou a pensar em como poderia trazê-lo de volta para si, mas naquele momento o celular vibrou com intensidade dentro do quarto. Desligou o chuveiro com rapidez, disse vários palavrões e correu com uma toalha na cintura para pegar o celular. No meio do caminho ficou um pouco mais feliz por pensar que poderia ser Archie, mas a carranca logo voltou ao rosto só ao ver o nome na tela: Natalie.
━O que você quer agora?! Atendeu com raiva e com a respiração ofegante.
━Nossa, não precisa falar assim comigo! Imaginou-a fazendo um biquinho ridículo enquanto ria.
━Já não disse que não quero falar com você?! Equilibrou o celular no ombro enquanto buscava uma cueca em uma das gavetas do armário.
━Disse, mas agora você deve estar se sentindo sozinho...
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Hematomas
Romance[CONTINUAÇÃO: CICATRIZES] "Os hematomas roxos e rosados nos braços e pernas eram alvos de especulações por todos que o observavam com mais atenção. Todos, menos Marc, que conhecia seu corpo como um perito e adorava marcá-lo." Hematomas não é uma hi...