CAPÍTULO 8
COREN
Um toque. Três toques. Cinco toques e Mike finalmente atende.
-Fala mano! –escuto sua voz com mais animação do que eu preciso no momento.
-Mike? Cara, preciso muito da sua ajuda. -minha voz soa desesperada, refletindo como estou.
-Qual é a fita? -já comentei que odeio esse jeito de falar?- Só falar.
-Eu sei que parece loucura, mas você consegue me arrumar uma arma?
-Uma arma? Cê tá louco mermão?
-Por favor, é uma emergência, não tenho tempo pra explicar.
-Tenho uns esquemas encaminhados e posso contatar uns parças aí, mas se eu me foder por isso, arrumo outra pra acabar com a sua raça.
-Não vou te meter em encrenca.
-E outra, vai custar caro.
-Foda-se, eu arrumo a grana.
-Deixa eu adivinhar: é pela mina não é?
-É, é por ela. Sempre vai ser por ela.* * *
Algumas horas depois, eu tenho uma puta arma comprada com dinheiro roubada dos meus avós (o que vai pesar muito na minha consciência) e explosivos o suficiente pra botar a porta daquele lugar abaixo. O problema é que, junto a isso, também tenho um mim controlável tomando cota de mim e me impedindo de me mover. Mike não queria ser cúmplice da ação toda, mas com o incentivo de 400 dólares, topou nos esperar com o ônibus para que possamos fugir.
-Cara, você tá esperando que pra buscar a garota?
-Minha coragem aparecer.
-Você é um cagão sabia?
-Ah é? Duvido que você fizesse o mesmo. Vamos logo.
Descobri, pelos jornais, que Killena foi parar no CCC, o Crazy Control Center, um dos piores manicômios do país. O caminho até lá é curto, e minha emoções aumentam cada vez mais, enquanto o ritmo do meu coração se acelera. Não sei se porque vou vê-la ou pelo perigo ao qual estou me expondo. Quando estamos quase chegando, Mike m pergunta, sério:
-Você já usou uma arma alguma vez na vida parça?
-Não. Mas agora vou usar. Seja o que Deus quiser.
Ele estaciona o ônibus bruscamente e eu desço, já correndo.
-Vou fazer ponto aqui! –ele grita, e eu entendo que vai esperar por nós lá.
A adrenalina faz meu sangue ferver, e logo estou em frente as portas do sanatório, que é tão precário que não há nem guardas na frente, somente um portão de ferro acabado. Vai ser mais fácil do que estava pensando. Receoso, aciono os explosivos e me afasto, correndo pra rás de um carro estacionado próximo. Me encolho e fecho os olhos, escutando o estouro logo em seguida. Ouço gritos, e rezo pra que ninguém me veja entrando em meio a fumaça. Passo pela entrada enquanto vejo guardas a distância se aproximando. Desvio para o outro lado antes que eles cheguem e começo a procurar Killena em meio as dezenas de pessoas gritando e puxando os cabelos de um lado pro outro. Tento dobrar o corredor, mas uma mulher batento com a cabeça na parede me força a desviar novamente. Depois, um homem passa gritando do meu lado achando que foi atingido por um tiro e me xingando de Nazista nojento. Preciso acha-la logo.
-Você é meu príncipe? Veio me buscar? –uma senhora de olheiras fundas me aborda, ajoelhando aos meus pés.
-Não senhora, por favor, você precisa me ajudar. – parece ridículo pedir ajuda a alguém nessas condições mas não me restam alternativas, já que preciso sair rápido daqui.
-Se eu te ajudar você me manda um príncipe filho?
-Que seja, agora me diga, onde está a garota de cabelos azuis?
-Não há ninguém de cabelos dessa cor aqui. Existe cabelo dessa cor?
-Como não há ninguém? Ela veio pra cá, tenho certe... -antes que eu consiga terminar de falar, escuto uma voz feminina me chamando ao fundo, em meio a fumaça.
-COREN! Aqui! – minha visão não foca, mas é ela, eu sei que é ela, a voz é dela.
Corro como nunca corri na vida, e quando volto pro meio da fumaça, não consigo enxergar nada. Guiando-me por sua voz, encontro sua mão gelada em meio a confusão, e tento continuar correndo, porém um cara baixo, gordo e cheirando a bebida alcóolica nos para na porta.
-Já vai embora princesa? Está cedo. É só o cabelo que vai me dar? Eu quero mais. –ele está claramente bêbado, e embora eu não entenda o sentido do que disse, foi direcionado a Killena.
-Nos deixe passar e não encoste nela. -ameaço.
Puxo sua mão e tento nos guiar pelo lado, porém o homem agarra sua cintura e a puxa, fazendo com que Killena solte um grito. Só consigo enxergar seus vultos, e tento desferir um soco sem sucesso quando ele começa a puxar sua camisola a força. Saco a arma, e como se já tivesse feito isso dezenas de vezes, puxo o gatilho e atiro no braço do filho da puta. Ele e Kilena solta outro grito quando sangue espirra em seu rosto. Agarro sua camisola do chão e visto-a, pegando-a no colo em seguida.
-Vai ficar tudo bem. –cochicho enquanto corro.
Saímos pela mesma porta arrombada, e escuto os tiros dados as cegas atrás de nós, tentando desesperadamente chegar logo ao ônibus.
-Subam logo! –Mike grita, enquanto adentramos o veículo.
Coloco Killena em um dos nacos e ele pisa no acelerador e avançamos pela estrada em uma velocidade impressionante.
-Coren? –ouço sua doce voz chamando.
-Estou aqui.- então, noto algo que não tinha visto antes. Seus cabelos foram raspados. –Seus...
-Eu sei. Eu sei que estou horrível.
-Não. Nunca diga isso de novo. Você é linda. –e não estou mentindo para que ela se sinta melhor. Mesmo com ao cabeça raspada, ela continua linda, e olhar para ela me faz ter tanta força. Olhar pra ela me faz enlouquecer.
-Não precisa mentir.
Como resposta, me agacho e beijo seus lábios, não de madeira doce ou calma, e sim o mais forte que consigo, intensamente, como se tivesse medo de perde-la caso nossas bocas se descolassem por um minuto se quer.
-Não te perdoei pelo que você fez, mas eu nunca te deixaria.
-Não quero interromper, mas polícia está nos seguindo. –Mike avisa.
-Merda.-xingo.
-Se segurem aí, vou acelerar. Eles vão comer poeira.
Dito e feito, Mike pega atalhos e entra em ruas que eu nem sabia que existiam, até que não consigo mais avistar as sirenes vermelhas e azuis. Não tenho ideia de onde estamos, mas Mike parece saber o que está fazendo quando adentra uma floresta. Uma floresta.
-Cara, o que você tá fazendo?- questiono.
-Quer ser pego? É muito arriscado pegarmos a estrada pra fugir a essa hora, com a polícia no nosso pé. Vamos passar a noite nessa incrível floresta onde ninguém nunca vai.
-Você acabou de falar uma frase inteira sem gírias. Que orgulho.
-Não se acostuma. –ele desce do ônibus e nós dois vamos atrás. -Estamos bem no meio de uma mata fechada. Não vão nos achar aqui, pelo menos por essa noite. Vou fazer uma fogueira.
Mike vai procurar madeira, nos deixando sozinhos, sentados um em frente ao outro no chão úmido e gelado.
-Você não vai dizer nada? –pergunto.
-O que quer que eu diga? “Obrigada pelo plano suicida?”-não entendo essas palavras. Eu a salvei. Por que está sendo tão mal agradecida?
-No mínimo. –respondo, seco, tentando controlar a raiva.
-Esse era seu plano? Você ia me largar sozinha lá, tentando se esquecer de mim no bem bom da sua vida, enquanto eu me fodia desse jeito? Parabéns Coren, você é realmente uma ótima pessoa.
-Por que você não cala a boca, e ouve tudo o que eu tenho pra falar nessa merda? Seria melhor, não acha?
-E o que você tem pra falar? É algo mais inteligente que sair arrombando tudo com uma arma?
-Vai me julgar agora? Você é a pessoa que menos pode falar sobre isso, lembra o que você fez? Lembra o que causou eu ter entrado daquele jeito, naquele lugar? VOCÊ, foi você que matou Ingrid. Pelo menos eu não matei ninguém. Eu sei que eu errei em te abandonar, eu quebrei minha promessa, eu me odeio por isso e quero que me perdoe. Mas não acha que precisa do meu perdão também?
-E como vingança por eu ter matado uma mulher que você nem conhecia, você decide me matar também Coren? Porque é o que ia acabar acontecendo se você não tivesse voltado. O que é que você tem, só depressão ou bipolaridade entra no pacote? Eu não entendo você. Uma hora eu sou a coisa mais importante da sua vida e na hora você nem liga pra mim. Me descarta totalmente. Em 7 dias você já conheceu outra por acaso? Compra uma peruca azul e enfia em uma boneca, assim você pode tratar ela igual lixo também.
-Disse bem, ia acontecer se eu não tivesse voltado, mas eu voltei, não voltei? E voltei por você, então dá para parar de reclamar um pouco? E tentar agradecer, dizer que sente minha falta? Mesmo que não seja verdade, me mostra que eu não vim à toa, mostra que teu coração ainda bate por mim, por que o meu só tá batendo, por você.
- Não posso te forçar a me perdoar, então quer que eu faça o que?
-Quero que peça. Peça pra que eu te perdoe e eu vou perdoar. Achei que podia viver sem você, que era melhor assim, mas não posso. Eu tento te apagar, mas você volta. E se não voltasse, quem se apagaria seria eu.
-O quanto eu valho pra você? Obrigada por me tirar de lá Coren. Se é isso que você quer ouvir, eu digo pra você. Mas não sei como acreditar que você não vai me deixar de novo.
-Não, não é isso que eu quero ouvir. Você sabe o que eu quero ouvir.
Silêncio. Ela suspira, e começa:
-Me perdoa. Me perdoa por ser assim e por fazer coisas horríveis que estão fora do meu controle. Por você não poder confiar em mim por não ter estabilidade o suficiente pra isso. Por agir de maneira tão insana e irracional. Me perdoa?
-Perdoo. Porque preciso de você.
-Não. Eu que preciso de você.
-Canta pra mim?
-Cantar?
-É. Como foi feito antes do caus. Sua voz me acalma
-Só se você fizer isso comigo.
Assinto com a cabeça e sorrio. Quando ela começa a cantar, é como se as últimas horas se esvaíssem totalmente
E nós estivéssemos de novo na casa da minha vó, cantando dentro de um quarto recém pintado. Absorvo as palavras e as guardo como tesouros na minha cabeça. Não quero esquecer o som delas saindo desses lábios vermelhos de sangue nunca.Desde o começo
Você foi um ladrão, você roubou meu coração
E eu, sua vítima condescendente
Deixei que você visse partes de mim
Que não eram tão bonitas
E, a cada toque
Você as consertou
-Canta Coren. Só pra mim –ela cochicha.
Dê-me apenas um motivo
Só um pouquinho já basta
Só um segundo, não estamos quebrados, apenas curvados
E podemos aprender a amar novamente
Está nas estrelas
Foi escrito nas cicatrizes dos nossos corações
Não estamos quebrados, apenas curvados
E podemos aprender a amar novamente
Desculpe-me se não entendo
De onde é que tudo isto está vindo
Pensei que estivéssemos bem
Sua cabeça está perdendo o controle novamente
Minha querida, ainda temos tudo
E está tudo na sua mente
Paro de cantar pra poder ouvir sua voz de novo. Poderia passar a vida ouvi-a. é meu porto seguro. Sempre vai ser.
Oh, canais lacrimais e ferrugem
Vou consertar isso para nós
Estamos recolhendo poeira
Mas o nosso amor é o bastante
Você o está segurando
Não, nada é tão ruim quanto parece
Diremos a verdade.
Mike volta bem na hora que a música termina. Ele joga as madeiras em um canto e, provavelmente não querendo atrapalhar, saca um cigarro do bolso e vai fumar num outro canto. Assim que ele se afasta, Killena pula pra cima de mim e me beija, mais intensamente do que jamais o fez. Sua boca tem gosto de sangue, resultante da mania constante de morder os lábios. Sua camisola branca sobre, e eu passo a mão pela sua cintura, tentando me controlar. E porra, como é difícil me controlar.
-Caso esteja pensando nisso, aqui não.-ela cochicha, sorrindo.
-Fica difícil me conter sabia? Olha pra você.
Como resposta, ela tira minha camisa e passa as mãos pelo meu tórax. Ela senta no meu colo e morde meus lábios, e eu beijo seu pescoço, suas bochechas e sua boca.
-Eu amo você.–ela diz, e deita sobre o meu peito.
-Eu também. Você nem sabe como.
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mussa4456 é nois hahaha
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CRAZY
RomanceO amor é perigoso. Mas o que fazer quando esse mesmo perigo é a única coisa que te mantém vivo? Coren já havia se decidido. Não havia mais motivos pra ficar aqui, não havia pelo que lutar ou viver. Até a chegada de Killena. Uma garota aparentemente...