"Ela acaba com minha vida, mas sem ela, eu nem teria uma"

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CAPÍTULO 9

COREN

No dia seguinte, acordo com um grito que identifico como a voz de Mike.
-Sai de cima de mim, maluca!–ele grita, empurrando Killena para longe.
-O que foi?! –pergunto, assustado. Killena sumiu num piscar de olhos.
-A retardada da sua mina tentou me tacar na fogueira, isso que aconteceu!
O que? Por que diabos Killena faria isso?
-Cadê ela cara?
-Saiu correndo praquelas bandas.
Corro na direção que Mike indicou, já puto da vida com a minha namorada problemática. Depois de correr por míseros 3 minutos, já cansado por ser sedentário, concluo que era muito mais fácil de acha-la quando a cabeleira azul se destacava na paisagem. Decido chamar seu nome.
-KILLENA! –grito repetidamente, sem obter respostas.
Finalmente, quando já começo a achar que estou andando em círculos, avisto alguém de camisola branca sentada aos pés de uma árvore seca.
-Killena você quer me matar do coração? Ah não, esqueci, seu objetivo agora é matar meu amigo jogando ele na fogueira não é?
Começo a ficar cada vez mais irritado enquanto me aproximo dela. Porém para a minha surpresa, quando a alcanço, ela está chorando.
-Eu...eu... me desculpa Coren! Eu juro que não fiz por querer, me escuta, por favor!
-Ei, ei, ei, calma. Respira.
-Eu tive um pesadelo, eu sonhei que meu pai estava vivo e veio me pegar junto com aquele cara horrível do manicômio... Acordei gritando e ataquei a primeira coisa que eu vi pela frente. Me desculp Coren, não queria machucar ninguém, por favor!
-Ninguém vai vir te pegar meu anjo, você está segura. Se desculpe com o Mike e problema resolvido está bem?
-Mesmo?
-Mesmo. Vem cá. –abro os braços para indicar que estou chamando para um abraço e o faço do modo mais acolhedor possível. As vezes eu tento parar de ser bipolar mas quando se trata dela, é inevitável. Ela acaba com a minha vida, mas sem ela, eu nem teria vida.
-Precisamos voltar, não precisamos?
-Precisamos, o Mike já deve estar achando que fomos atacados por um urso ou algo assim.
-Ou ele também pode estar pensando que estávamos fazendo outra coisa... –Killena morde o lábio de um jeito irremediavelmente sexy. Porra, como eu amo essa menina.
-Se você continuar me olhando desse jeito vou ser obrigado a nos atrasar mais.
-Não precisa fingir Coren.
-Fingir o que?
-Que... que você ainda me acha bonita. –seu rosto fica vermelho ao dizer isso, envergonhada.
-Tá brincando? Killena você pode pendurar uma melancia no pescoço e vai continuar linda do mesmo jeito. Se você acha que uns fios de cabelo vão mudar a visão que eu tinha de você, está muito enganada.
Ao invés de responder, ela simplesmente sorri pra mim, e aquele sorriso já faz meu dia. Quando finalmente encontramos o caminho de volta, a primeira coisa que vejo é Mike recolhendo as coisas desesperadamente e tacando tudo dentro da van, ás pressas.
-Mike, o que foi? –grito, confuso.
Antes que ele possa responder, eu e Killena percebemos o som que vem de longe, porém aumentando: sirenes.
-Coren, nos acharam! –Killena diz. Agarro sua mão e começo a correr para o ônibus.
-Vai, vai, vai, vai! –Mike grita, apressando-nos.
Pulo pra dentro do veículo e puxo Killena junto comigo, o mais rápido que consigo. Ela solta um gritinho que, caso não estivéssemos no meio de uma fuga policial, seria encantador e talvez até me faria rir.  Já dentro do ônibus, correndo a uma velocidade que eu achei que essa lata velha certamente nunca alcançaria, reparo que Mike está suando frio e tremendo, muito nervoso. Conforme alcançamos a estrada, seu estado só piora.
-Mike, você tá bem cara?-pergunto, preocupado.
-Com tua mina assassina do meu lado? Não, imbecil!
Fico calado, tentando deixar que os dois se resolvam para não irrita-lo mais defendendo minha namorada perigosa. Ouço a voz meiga, porém forte de Killena tentando justificar-se e Mike xingando-a, e tento me concentrar lá fora. Estamos em uma estrada pouco movimentada e as árvores nas beiras compõe uma paisagem bonita, mas o som das viaturas ainda mostra-se presente. Eles vão nos alcançar. De repente, o som de Killena chorando (de novo) me chama a atenção para a conversa.
-Me desculpa, não foi nada disso que você está pensa...-Killena começa, mas é interrompida.
-FODA-SE O QUE FOI! TU É UMA VACA E QUASE ME MATOU!- Mike começa a gritar e solta o volante a fim de levantar a mão para Killena, ameaçando-a.
-MIKE! A RIBANCEIRA! –grito, já tarde demais.
O ônibus capota e sinto minhas costelas chocando-se contra o chão e o vidro quebrado cortando meu rosto. Bato a cabeça com força e tudo fica escuro.

                                                                    *                      *                   *
KILLENA

Abro os olhos em meio ao caos, vejo fogo e ouço sirenes. Caímos em uma ribanceira. Há viaturas da polícia e ambulâncias em todo lugar. Deitada de barriga para o chão, os braços estendidos e um corte fundo na testa, observo enquanto os paramédicos levam Coren em uma maca e Mike em outra. Reúno qualquer froça que ainda tenha me sobrado e corro mancando em sua direção.
-Coren!-grito. –Por favor, ele vai ficar bem? Preciso saber se ele vai ficar bem!
-Faremos o possível. –Um dos paramédicos diz e sorri para mim. Coren tem um corte bem mais fundo que o meu em seu rosto e está desacordado. Imagino que tenha batido a cabeça.
Direciono o olhar para a maca de trás e analiso o estado de Mike. Ele está bem pior que Coren. Sua pele está tão aberta pelos cacos de vidro e seus membros contorcidos pela queda, que não consigo olha-lo por mais que cinco segundos sem desviar o olhar. Ele não vai sobreviver, penso. Por que eu não me machuquei como eles? Por que não sou eu no lugar de Coren? É muito injusto.
-Mocinha, por favor, entre na ambulância sim? Precisa ser encaminhada para o hospital imediatamente.
-Não, por favor! Vocês não entendem! Não posso ir pra lá, não posso!
-Por favor, não queremos ter que obriga-la a fazer isso. Queremos te ajudar.
-Não, eu preciso ir pra casa, com o Coren! Por que ele não acorda? Por favor, ele tem que acordar!
-Você ainda está instável pelo acidente. Precisa se acalmar.
-NÃO! Você que precisa me ouvir, ao invés de tentar me jogar no inferno de novo, seu cretino de merda!-Sinto uma picada no braço e as palavras pesam antes de saírem da minha boca. Meu corpo amolece, e como se o caus não existisse, sou colocada numa ambulância rumo ao hospital e adormeço, sedada.

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