Anos depois

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CAPÍTULO 10

KILLENA

Olho no espelho, tentando entender o que eu vejo. Eu olho pra ela, e ela me olha, pálida, magra e... diferente? Seus cabelos são azuis como sempre foram. Seus olhos negros me fitam, desafiadores, porém cansados. Não são os mesmos olhos de dez anos atrás. Em volta deles há olheiras, marcas do tempo. A garota, ou melhor, a mulher, veste um vestido branco simples e segura algo em seus braços. Uma criaturinha pequenina, de pele igualmente pálida, olhos brilhantes e azuis, herdados de seu pai, e uma inquietação insistente. As mãozinhas da pequena seguram um dos dedos de sua mão, e ela sorri. Parece feliz. Um garoto, ou melhor, um homem, caminha atrás dela ée para ao seu lado. Seus cabelos são castanhos, seu corpo é igualmente magro e seus olhos, também cansados, azuis. Ele pousa a mão sobre o ombro da mulher, e sorri para a bebê, sussurrando seu nome: “Minha pequena Katie”. A mulher sou eu. Eu sou mãe, e eu tenho uma família. E vejo pelo reflexo no espelho, que isso me assusta.
-E se ela não gostar de mim?-Pergunto a Coren.
-Ei, por que ela não gostaria de você?
-Você sabe... Meu pai era um idiota. Você não é, mas e se eu for igual minha mãe? Nenhum dos dois sabia como cuidar de mim.
-Você não é.
- Meus pais me odiavam. Eu nunca vou odiá-la. Mas tenho medo de não ser o suficiente.
-Os meus também, mas sempre tem gente tão péssima quanto nós no mundo, certo? Vamos dar o nosso melhor Killena. E vai ser suficiente.
-Promete?
-Prometo.
Como que por mágica, meus medos somem. Pelo menos por um instante, posso acreditar que finalmente tenho uma vida normal, com alguém ao meu lado para cuidar de mim e alguém no meu colo para proteger. Gente para amar. É, eu acredito que sou feliz. Acredito no sorriso da mulher no espelho. Ela superou tudo, deixou as coisas ruins para trás. Ela não é louca. Não é.
Encaro-a uma última vez e acordo do meu sonho amarrada a uma cama de hospital. À minha frente ainda vejo um espelho, quebrado, mas ela já não me encara mais, substituída por uma jovem de rosto doente, cabelos ainda muito curtos e sem a felicidade nos braços.

Um dia...

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