Enquanto Lisa circulava por entre as mesas, uma brisa vinda do Atlântico lhe acariciou os cabelos. Levando três pratos na mão esquerda e outro na direita, ela usava uma calça jeans e uma camiseta com os dizeres: Ivan's: Experimente nosso peixe, peça o linguado. Ela levou os pratos para quatro homens que usavam camisas polo; o que estava mais perto dela lhe chamou a atenção e sorriu. Embora ele tentasse dar a impressão de que era apenas um rapaz amistoso, Lisa sabia que ele continuava a observá-la enquanto ela se afastava da mesa. Melody havia mencionado que os homens eram de Wilmington e estavam procurando locações para serem usadas em um filme.
Pegou uma jarra de chá gelado e voltou a encher os copos dos rapazes antes de voltar para a copa. Ela deu uma olhada na paisagem. Era fim de abril, a temperatura estava perto da marca ideal e o céu se estendia azul até o horizonte. Além dela, a hidrovia intralitorânea estava calma apesar da brisa e parecia espelhar a cor do céu. Um bando de gaivotas estava empoleirado no corrimão que circundava o restaurante, esperando para disparar por entre as mesas se alguém deixasse um pedaço de comida cair no chão.
Ivan Smith, o proprietário, as odiava. Ele dizia que eram ratos com asas e já havia patrulhado a área do corrimão com um desentupidor em punho, tentando espantá-las. Melody havia falado ao ouvido de Lisa que estava mais preocupada com o lugar onde o desentupidor estava do que com as gaivotas. Lisa não disse nada.
Ela começou a fazer outro bule de chá, limpando o balcão. Um momento depois, sentiu que alguém lhe tocava o ombro. Virou-se e viu que era a filha de Ivan, Eileen, uma garota bonita de 19 anos, com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo. Ela estava trabalhando meio período no restaurante como recepcionista.
— Lisa, você pode atender a uma outra mesa?
Lisa olhou pelo restaurante e observou as mesas.
— É claro — disse ela.
Eileen desceu as escadas. Lisa conseguia ouvir fragmentos de conversas vindos das mesas próximas. As pessoas falavam sobre amigos, família, o tempo ou sobre pescaria. Em uma mesa, que ficava no canto do salão, ela viu duas pessoas fechando os cardápios. Foi até eles e anotou o pedido, mas não ficou perto da mesa tentando conversar sobre amenidades com os clientes, como Melody fazia. Lisa não era muito boa para puxar assunto, mas compensava isso com sua eficiência e cortesia. E os clientes pareciam não se importar.
Ela trabalhava no restaurante desde o começo de março. Ivan a contratara em uma tarde fria, em que o céu estava limpo e tinha um tom azul-turquesa. Quando disse que poderia começar o trabalho na segunda-feira seguinte, Lisa teve que se esforçar para não chorar na frente dele. Ela esperou até estar longe do restaurante, a caminho de casa, para se esvair em lágrimas. Naquela época, ela não tinha dinheiro nenhum e não comia há dois dias.
Lisa percorreu o salão, enchendo copos com água e chá gelado antes de voltar para a cozinha. Ricky, um dos cozinheiros, piscou para ela como sempre fazia. Há dois dias ele a tinha convidado para sair, mas Lisa disse que não queria se envolver com ninguém que trabalhasse no restaurante. Ela teve a impressão de que ele logo tentaria de novo e esperava que seus instintos estivessem errados.
— Duvido que o movimento vá diminuir hoje — comentou Ricky. Ele era loiro e esguio, talvez um ou dois anos mais novo do que ela e ainda morava na casa dos pais. — Toda vez que eu acho que vamos ter um momento para respirar o restaurante volta a encher.
— O dia está bonito hoje.
— Mas por que essas pessoas estão aqui? Em um dia como este, elas deveriam estar na praia ou pescando. E é exatamente isso que eu vou fazer quando terminar o expediente.