Na manhã seguinte, Lisa foi até a varanda da sua casa com uma xícara de café, sentindo as tábuas do piso rangerem sob seus pés, e se apoiou contra o parapeito. Lírios haviam brotado em meio à grama alta que cobria um canteiro de flores, e ela levantou a xícara, apreciando o aroma enquanto tomava um gole.
Ela gostava deste lugar. Southport era diferente de Boston, da Filadélfia e também de Atlantic City, com seus sons incessantes de trânsito, os odores e as pessoas correndo pelas calçadas. Além disso, era a primeira vez em sua vida que encontrara um lugar para chamar de seu. A casa não era grande, mas era sua e discreta, e isso bastava. Era uma de duas estruturas idênticas localizadas no fim de uma ruela de cascalhos, antigas cabanas usadas por caçadores com paredes de madeira construídas entre um grupo de pinheiros e carvalhos, compondo a orla de uma floresta que se estendia até o litoral. A sala e a cozinha eram pequenas e o quarto não tinha armários embutidos, mas a casa já era mobiliada, incluindo cadeiras de balanço na varanda, e o aluguel até que era barato. O lugar não estava caindo aos pedaços, mas estava coberto pela poeira devido aos vários anos em que permanecera fechado. O proprietário oferecera para comprar os produtos de limpeza e manutenção se Lisa se oferecesse para dar um jeito na casa. Desde que se mudara para lá, Lisa passava uma boa parte do seu tempo livre ajoelhada no chão ou em pé sobre cadeiras fazendo exatamente isso. Ela esfregou os azulejos e as louças do banheiro até que tudo estivesse brilhando; lavou o teto com um pano úmido e limpou as janelas com vinagre. Lisa passou horas ajoelhada na cozinha, tentando remover a ferrugem e a sujeira acumuladas no piso de linóleo. Ela cobriu os buracos na parede com massa corrida e depois lixou tudo até que a superfície estivesse lisa. Chegou até mesmo a pintar as paredes da cozinha em um tom alegre de amarelo e os armários com tinta branca brilhante. Seu quarto agora tinha paredes em tom azul-claro, a sala de estar era bege e, na semana passada, ela havia colocado uma nova capa sobre o sofá que fez com que ele parecesse ser novo em folha.
Depois de completar a maior parte do trabalho, Lisa gostava de se sentar na varanda da casa durante as tardes e ler os livros que pegava emprestado na biblioteca. Além do café, a leitura era o único luxo a que ela se permitia, já que não tinha televisão, rádio, telefone celular, micro-ondas, carro, e todos os seus pertences cabiam em uma única mala. Já contava 27 anos, não tinha amigos e havia deixado de ser uma mulher loira de cabelos compridos há algum tempo. Ela tinha se mudado para aquele lugar sem praticamente nada e, alguns meses depois, ainda tinha pouco. Ela guardava metade das gorjetas que ganhava e todas as noites dobrava o dinheiro e o punha em uma lata de café, que deixava escondida sob uma tábua do piso perto da varanda. O dinheiro ficava guardado para emergências e ela preferia passar fome a ter que usá-lo. Simplesmente saber que a lata estava ali fazia com que conseguisse respirar um pouco mais aliviada, pois o passado sempre estava à espreita e poderia retornar a qualquer momento. Um passado que cruzava o mundo procurando por ela, e ela sabia que sua fúria crescia a cada dia que passava.
— Bom dia. Você deve ser Lisa — chamou uma voz, interrompendo seus pensamentos.
Lisa se virou. Na varanda da casa ao lado viu uma mulher com uma cabeleira castanha despenteada, acenando com a mão. Ela parecia ter mais de 30 anos e usava uma calça jeans, com uma blusa de botões que tinha as mangas arregaçadas até os cotovelos. Um par de óculos de sol repousava sobre os cachos emaranhados na cabeça dela. Nas mãos, ela tinha um pequeno tapete e parecia estar debatendo consigo mesma se devia estendê-lo para tirar o pó antes de finalmente deixá-lo de lado e vir até onde Lisa estava. Ela andava com a energia e a tranquilidade de alguém que estava acostumado a se exercitar.
— Irv Benson me disse que seríamos vizinhas.
O dono das casas, pensou Lisa.
— Eu não sabia que outra pessoa viria morar aqui.
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Safe Haven || D.J.H
Fiksi PenggemarNos momentos mais difíceis, o amor é o único refúgio.