Memórias de um Médico no Sertão

Sessão Espírita

Houve um tempo que meu irmão me trouxe um programa de computador bem intrigante. Ele simulava o "Jogo dos Espíritos". Este jogo tem algumas variações. Algumas pessoas utilizam um tabuleiro com letras onde uma, ou mais pessoas, põe a mão numa espécie de seta e a mesma, durante a sessão, passa a se locomover e formar palavras respondendo as pessoas que estão participando da sessão. Existe uma variação utilizada com um copo de água.

No programa não é necessário setas ou copos, apenas fazer as perguntas e esperar pela resposta. O que assusta as pessoas é o fato dele responder praticamente tudo, inclusive situações particulares, como nome, data de nascimento, profissões, etc.

Claro que se trata de um truque, muito bem feito por sinal, onde, durante a formulação da pergunta, é possível inserir a resposta sem que seja perceptível. Simplesmente genial.

Neste dia, a esposa de um amigo estava em minha casa e ela queria conhecer o programa. Tínhamos feito antes uma boa propaganda dele, claro. O esposo dela era meu cúmplice.

— Vamos Adriano, liga este programa — disse Joana ansiosa.

— Já estamos começando.

A primeira tela era meio que assustadora, tinha uma espécie de demônio que ficava com as mãos estendidas sobre o local onde é inserida as perguntas. Uma musiquinha fúnebre fica o tempo todo tocando, e para tornar o clima mais propício, deixamos o ambiente na penumbra.

— Que bicho mais feio. — Assusta-se Joana.

— Não diga este tipo de coisa. A entidade pode lhe escutar — tentei assustá-la.

Paulo, o esposo de Joana, se posicionou ao lado. Esta era a estratégia de entretê-la de forma que eu possa pôr as respostas sem que ela perceba. O programa funciona da seguinte forma: quando temos a pergunta a ser digitada, primeiramente acionamos uma tecla secreta que faz com que, ao digitarmos a resposta, a palavra que sai na tela é uma diferente escolhida aleatoriamente pelo programa. Por exemplo: eu poderia estar digitado o nome "O seu nome é Joana" e na tela estaria saindo algo do tipo "Você poderia me dizer", ou seja, eu estaria digitando a resposta enquanto o computador estaria mostrando uma frase diferente na tela. Para der certo Paulo estaria do lado para distraí-la, sempre que necessário.

A primeira pergunta fui justamente o nome de Joana, pois seria já um bom inicio para impressioná-la. Cética, não estava levando a sério até aparecer o seu nome bem grande na tela.

"O seu nome é Joana"

Após uma sequência de perguntas e respostas corretas, Joana já não estava tão certa em se tratar de um truque. Alguns minutos foram o suficiente para se mostrar empolgada e arriscar perguntas mais ousadas.

— Agora quero ver se este espirito é bom mesmo. Quero saber se meu marido já me traiu algum vez.

Isso me pegou um pouco de surpresa, olhei em direção de Paulo que fez um gesto de afirmação. Entendi que estava me dando carta branca para seguir na brincadeira.

— Tem certeza Joana, que quer fazer esta pergunta?

— Mas claro! — Virou o tronco em direção à Paulo. — Você está com algum medo Paulo?

— Não, pode seguir em frente. — Respondeu levantando as palmas das mãos como se não tivesse nada a temer.

Digitei então a pergunta "Paulo alguma vez se interessou por outra pessoa?". Utilizando o método de inserir a resposta, o misterioso espírito respondeu: