Capítulo 20 - Annabeth

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Sou despertada de meu sono com uma voz calma e gentil, porém ao mesmo tempo firme e até um pouco rouca.
- Annie, preciso que levante a cabeça, depois vai poder voltar a dormir, prometo.
Abro um pouco os olhos na tentativa de descobrir quem é o dono dessa voz, mas logo fecho. E viro o rosto de novo, pois uma luz muito forte ofusca minha visão e acabo soltando um leve resmungo sem sentido.
Com esse movimento percebo que estou deitada, com a cabeça apoiada nas pernas de alguém. Levo um segundo pra lembrar tudo o que aconteceu.
Ainda com certo receio de descobrir que tudo não passou de um sonho, porém ao mesmo tempo um certo alívio por ter tirado um peso de minhas costas que até o momento eu não tinha percebido o quanto era pesado, levanto a cabeça levemente como Percy tinha pedido, sem despertar completamente. Um segundo depois sinto suas pernas sumindo e o chão tocando o lado direito de minha cabeça.
Sinto a inconsciência rastejando no fundo da minha mente, mas através de minha pálpebras pesadas noto que a luz diminui de intensidade, o que só faz com que me entregue cada vez mais ao sono. No fundo da minha mente consigo ouvir sons abafados, mas não consigo discernir-los.

Depois de um tempo sinto, mãos quentes na minha nuca e na parte de trás das minhas pernas, sinto também uma parede quente ao lado de meu rosto, na qual me sinto a vontade para me aconchegar.

Acordo com sua voz me chamando de novo.
- Annie, acorda. Chegamos na sua casa,  vamos Annie, acorda. - Sinto sua voz perto do meu ouvido, mas é tão quentinho ao seu lado que resisto até o último segundo, mas por fim abro os olhos e olho em volta.
Estamos no carro dele em frente a minha casa, não faço idéia de como cheguei aqui, mas tudo que quero fazer é me aconchegar nele novamente, mas resisto ao impulso e olho pra ele que está com um sorriso no rosto e aparentemente estava esperando uma reação minha.
- O que aconteceu? - Pergunto com um sussurro quase inaudível.
- Você dormiu com a cabeça no meu ombro, achei que fosse melhor te deixar em um posição mais confortável então coloquei você deitada no chão com a cabeça em minhas pernas. A luz voltou, mais ou menos às 8 da noite, porém você parecia estar tendo um sonho muito bom, porque dormiu como uma pedra. Então só peguei você no colo e te trouxe pra casa. - Enquanto ele fala tento me libertar do sono que ainda sinto passando a mão no olho de forma infantil. Já me preparando para a bronca que eu iria ouvir se meu pai ainda estivesse acordado.
- Não ficou muito pesado, você carregar as mochilas e eu? - Pergunto com a voz um pouco mais firme, desviando dos pensamentos negativos em minha mente.
- Não, você é bem leve! - Ele fala de forma animada - Quer que eu te leve até a porta? - Seu semblante mudou de leve para preocupada, e já sei no que está pensando.
- Não, tudo bem. É só eu andar em silêncio até o meu quarto e vai ficar tudo bem. - Falo tentando dar meu sorriso mais confiante, mas acho que ele sai meio sonolento. Minha voz saiu mais firme, porém um pouco rouca.
Abro a porta, mas antes de sair dou um beijo em sua bochecha murmurando um obrigada, pego a mochila que está nos meus pés e desço do carro indo em direção a porta de entrada do lugar que eu deveria chamar de lar.

Assim que fecho a porta percebo que não tem ninguém no andar de baixo, o que é estranho já que sempre que chego tarde meu pai está assistindo algo na televisão. Subo as escada com cuidado pra não fazer barulho e tranco a porta do meu quarto.
Depois de trocar de roupa e fazer minha higiene pra dormir, me deito na cama pensando na loucura que fiz hoje, contando para o Percy o que Joana faz comigo, pensando no seu jeito doce de ser e em como ele foi um bom amigo e ouvinte.
Depois de um tempo pensando, concluo que tomei a decisão certa, na hora certa e que ele não vai me decepcionar.

- Oi. - Uma voz fala no meu ouvido, quando estou pegando alguns livros, no meu armário da escola. Não sei porque, mas não era essa a voz que eu esperava ouvir.
- Oi Luke. - Me viro para olhar pra ele, mas sou surpreendida com um beijo selvagem, tento corresponder da mesma forma, mas é complicado, então simplesmente me afasto pra respirar.
- Porque se afastou? - Ele fala em um tom ofendido. No começo não entendo sua reação, mas então percebo que acabei de ferir seu orgulho.
- Luke, você sabe que não consigo beijar desse jeito. E eu estava sem ar!
- Você sabe o que um beijo desse, significa? Desejo. Todo mundo consegue beijar menos você, parece até que não me quer mais! - Ele começa uma discussão que já tivemos antes e isso é o suficiente pra acabar com o meu bom humor.
- O meu problema é outro, Luke e você sabe disso. - Digo apontando um dedo em seu peito, ele parece ficar irritado, mas não fala nada - E eu não gosto quando fala assim comigo, se quer realmente alguém que te beije assim, vá procurar outra garota e fique sabendo que se fizer isso não vai mais existir um nós.
Me viro de costas na intenção de ir embora, mas sou impedida pela mão de Luke que me segura com certa força desnecessária, me puxando contra ele.
- Você não pode me tratar desse jeito, eu sou seu namorado. Tem várias garotas dando em cima de mim, e você nem me dá atenção. - Ele fala em um tom baixo e ameaçador, fiquei chocada com sua reação, mas meus pensamentos são interrompidos.
- Será que está tudo bem por aqui? - Luke solta meu braço assim que percebe que a voz pertence à diretora - Andando Sr. Castellan.
Luke vai embora depois que a diretora menciona seu sobrenome, e eu volto minha atenção para o armário ao meu lado.
- Você está bem? - Reconheço sua voz e meu humor muda de imediato. Fecho o armário e olho em seus olhos.
- Estou bem. - Enquanto digo isso percebo que ele me olha de cima a baixo, me analisando. Reviro os olhos com sua atitude - Você deveria acreditar em mim.
- Sei que às vezes, não me diz toda a verdade.
- Não é o caso. - Falo com uma expressão contrariada - Temos história agora, vamos? - Mudo de assunto, na tentativa de fazê-lo esquecer isso.
- Espera! Você se deu mal ontem por chegar tarde em casa? - Ele pergunta receoso. Perceber que ele está realmente preocupado comigo é uma surpresa, pois não são muitas as pessoas que se preocupam comigo.
- Não aconteceu nada. Eu nem vi ela ontem, relaxa! - Falo de forma descontraída. - Mas será que podemos ir pra aula agora?
Ele acena um sim com a cabeça um pouco mais relaxado, dando aquele sorriso de lado.
O resto do dia passa sem muitas novidades, depois da escola fomos para o estúdio ensaiar as músicas.
oOo
Assim que cheguei em casa, percebi que a casa estava estranhamente silenciosa, tento andar até o meu quarto em silêncio, mas quase dou um pulo quando a luz da sala se acende e ilumina o rosto da minha 'querida' madrasta, que está com uma expressão de quem está prestes à explodir de raiva.
oOo
Não sei à quanto tempo estou no armário, só sei que estou aqui por tempo suficiente pra não ter força nem pra chorar mais. Meu corpo dói.
Escuto passos na escada, mas não sei de quem é, então resolvo ficar quieta. A porta do armário se abre. Ela se abaixa e fica na altura do meu rosto, me afasto por instinto, mesmo que meu ombro grite de dor com esse movimento.
- Pensa que não percebi que chegou tarde ontem a noite? - Ela fala em uma voz baixa e ameaçadora - Sorte que seu pai teve um jantar importante e também chegou tarde, eu quero que você vá para o seu quarto em silêncio, e já sabe que vai ser pior se contar para o seu pai. Vá! - Quando ela termina de falar, eu vou correndo em silêncio para o meu quarto, tranco a porta e deito na cama com um misto de tristeza, solidão e desespero.
"- Pode confiar em mim."
A voz dele ecoa em minha cabeça, me dando certo conforto, mas preciso de mais do que uma lembrança, preciso dele!
Pego o celular na mochila e procuro pelo seu nome (peguei o número dele na secretaria da escola, pro caso de precisar falar com ele sobre o show). O telefone chama, mas ninguém atende e quando estou a ponto de perder as esperanças, ele atende com a voz rouca, provavelmente já estava dormindo isso me faz ter vontade de desligar.
- Quem é? - Ele fala mal humorado.
- Tom, é a Bianca. - Eu falo receosa, me surpreendo à perceber que minha voz saiu meio chorosa.
- Bi! - Ele me chama pelo mesmo apelido que o meu pai me chamava antes de se casar de novo, isso faz com que mais lágrimas rolem pelo meu rosto. Sua voz está alerta. - Bi, calma! - Eu estava tentando à todo custo segurar o choro, não devia estar dando certo pois ele tentava me acalmar. Eu não consegui segurar mais e desabei; eu estava me sentindo tão sozinha...
- Bi, calma... Droga! Você...você quer que eu vá até a sua casa? Eu posso te buscar...a gente pode dar uma volta...
- Não, ela vai perceber, vai piorar as coisas... - Falo em meio ao pânico, meio chorando.
- Tudo bem! Então tenta me escutar, deita na cama...abraça um travesseiro e conta até dez respirando fundo. Eu quero ouvir! - Ele fala tentando me acalmar.
Começo a respirar fundo de forma entrecortada, por causa do choro. Ele vai contando do outro lado da linha, depois de trinta respirações eu paro de chorar.
- Melhor? - Ele pergunta receoso.
- Um pouco. - Consigo ouvir ele suspirando do outro lado da linha.
- Vai conseguir dormir? - Ele pergunta, com um tom de voz preocupado. Olho no relógio e me assusto com a hora e me apresso à pedir desculpas.
- Não sei. Vou deixar você dormir, desculpa ter ligado às três da manhã.
- Não, tudo bem! Eu teria ficado muito chateado, se você não tivesse me ligado. É melhor você tentar dormir um pouco, se precisar não exite em me ligar, está bem?
- Ta bom, obrigada...
- Não precisa agradecer, só tente dormir. Boa noite...
O telefone ficou mudo, eu o desliguei e fiz o que ele disse, entrei no mundo dos sonhos.

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