Parece piada.

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"Vi seu sorriso em meu sonho, segui seu rastro na areia do deserto..."
Sinais- Luan Santana

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Já é madrugada. O frio gélido e triste das duas horas toca meu corpo e causa um formigamento um tanto doloroso.

Eu estou buscando desde cedo por ela e em vão.

Talvez eu deva refazer meus passos no mesmo horário, ou talvez não.

Procuro em todas as redes sociais que uso e não encontro nenhum sinal dela. Respiro fundo, olho no relógio mesmo sabendo as horas.
Fico olhando meu notebook por uns minutos, respiro e o fecho. Lembro de uma frase que eu vi no Tumblr uns meses atrás e sorrio pra mim mesma.

"A vida as vezes é curta de mais pra ficarmos esperando algo acontecer."

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O dia amanheceu chuvoso, meus olhos estavam doendo por não ter dormido.

Estou usando uma camisa preta do nirvana, calças jeans amarelas com rasgos no joelho direito, tênis all stars pretos surrados e a mochila preta de sempre.

Desço as escadas correndo, abro o pequeno portão que faz o rangido familiar pra mim, sigo para a floricultura e compro margaridas e um cartão.

Sigo pelas ruas até o cruzamento onde a vi pela primeira vez, sorrio e mesmo com a chuva mantenho o otimismo.

Espero por vinte, trinta, quarenta e cinco minutos. O sorriso no meu rosto se vai, me irrito.

Deixo no banco velho do ponto de ônibus as flores com o cartão que tem apenas um local de encontro hoje pela tarde e meu nome.

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São quase cinco horas e eu estou caminhando pela rua devagar, um vento leve faz cócegas no meu rosto.

Prendo meus cabelos que se soltam novamente. O vento fica mais forte e então um papel voa acertando meu rosto e caí aos meus pés.

— Eu não vou cair nessa palhaçada de novo!—Suspiro.

Ao olhar aos meus pés noto que o papel é o cartão que eu deixei no ponto. Fico o observando sem entender como ele pôde ter parado aqui.

Fecho os olhos e conto até três pensando que talvez seja só ilusão, sinto uma mão tocar meus ombros e o arrepio percorrer meu corpo inteiro.

— Está se sentindo bem? Eu acho que isto é meu. — Ela ri.

— Como?...— Pergunto.

— Como te achei de novo?— Afirmo.

— Eu deixei esse cartão...—Aponto para o papel.

— Então foi a senhorita que o fez?— Pergunta.

— Lógico! — Afirmo.

Ela morde o lábio, sinto meu rosto corar e o momento infinito de apenas quarenta e dois segundos paira sobre nós como o véu de névoa paira a cidade pela madrugada.

Me aproximo um pouco mais e toco o limite de seu rosto delicado. Os traços perfeitamente criados e combinados.

— O que foi? — Ela sorri.

Nego com a cabeça e mordo o lábio. Penso em chamá-la para tomar um café mas paro.

— Eu preciso ir...— Digo.

— Nos vemos por essas ruas então. Também preciso ir ao aniversário da minha... Amiga acho.— Ela ri.

— Então nos vemos.— Sorrio.

Ela me dá um abraço delicado e sou envolvida por seu perfume, me afasto alguns segundos depois e sigo meu caminho.

Dou dez passos. Sinto uma força me fazer voltar para trás, me viro e noto a garota parada olhando para mim.

— Parece piada.— Resmungo.

"Parece mas hoje não vai ser piada do acaso!"

Saio do meu pensamento e caminho devagar até parar frente a frente com ela.

— Parece piada...— Ela diz.

Afirmo com a cabeça.

Meu sangue está fervendo, o suor frio nas mãos e meus pensamentos piegas lembrando de uma música da dupla Jorge e Mateus.

— Igual o dia do sinal.—Ela diz.

— Não precisa ser igual. — Digo.

Eu dou um passo para mais perto, ela continua parada. Estamos tão próximas que consigo ouvir sua respiração falha.

— Obrigada pelas flores e pelo cartão.— Ela respira fundo.

Seguro seus quadris e a beijo. Seu coração bate tão forte quanto o meu, a respiração falha, o suor frio.

Estamos unidas onde não consigo definir onde eu começo e onde ela termina.

Ela se afasta de mim ofegante e eu ainda sinto seu toque suave em minha cintura, o hálito de menta na minha boca e o perfume me confundir.

— Desculpa mas... Eu não posso... Desculpa.— Fala com as mãos no rosto.

A fito sem entender e ela se vira e vai embora. Fico cinco minutos a olhando partir pra longe de mim.

— Parece piada. — Sussurro.

Volto meus pensamentos e olho para o chão, um pequeno chaveiro com um gato de madeira caído no chão.

O coloco no bolso e sigo para casa, talvez haja uma força atrativa do destino nos dando um sinal e eu o vou ouvir.

Flores de algodãoOnde histórias criam vida. Descubra agora