Flores de jardim

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"E agora eu estou coberta pelas cores, despedaçada pelas costuras..."

Colors- Halsey

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Estou caminhando para casa ainda com a frase que disse para Carol circulando por minha mente. Eu a amo mas, será que ela me ama da mesma forma? Balanço a cabeça desviando os pensamentos.

Sigo pela calçada de cimento, os fones brancos um tanto sujos pelo uso constante estão nos ouvidos enquanto escuto uma música indie qualquer. Olho no relógio e paro em frente ao pequeno estabelecimento.

Tenho apenas dois reais.

Suspiro, entro no local sabendo que só poderei comprar um café pequeno e nada mais que isto. Sigo até o balcão e peço o café me retirando do local de forma calma, mas quando chego na rua esbarro em alguém fazendo a bebida quente cair em ambas.

Ela é morena, tem os cabelos negros curtos e ondulados, usa um piercing no septo e uma camisa jeans da qual nunca vou deletar da mente o cheiro do perfume.

Ela é linda!

— Me desculpa...— peço sem graça.

— Tudo bem, você não teve culpa!— dá de ombros.

— Eu estraguei sua calça...— tento argumentar.

— E eu estraguei sua camisa branca!— rebate.

Reviro os olhos. Ela realmente é alguém que gosta de argumentos. Mal a conheço e já estou argumentando como se fosse algo comum e ainda assim sinto uma sensação na qual nunca ousei provar com alguém antes na vida.

— Você gosta mesmo de argumentar!— rio sem graça— Renata, mas pode chamar de Nats!— lhe ofereço a mão.

— Rayane mas pode me chamar de Ray!— aperta minha mão enquanto sorri.

Ela tem covinhas... Puta merda, e é linda!

— Preciso ir...— digo sem jeito— nos vemos por alguma rua qualquer dessa cidade morta.

— Até logo, Renata!— sorri e acena.

Eu apenas me viro e caminho de forma lenta. Talvez eu esteja levando isso de conversar com estranhos muito a sério ou talvez eu apenas esteja com medo de que alguém tome o local que pertence a Carolina Stivanello.

Olha que irônico é uma estranha tomando o lugar de outra estranha, não acha?

Mordo os lábios, caminho um pouco mais rápido e então atravesso o sinal. O maldito e abençoado sinal no qual conheci Carolina. Me sento no ponto enquanto penso na vida sem me importar com a minha camisa manchada de café.

Quem liga pra uma camisa manchada afinal?

Bom, pra ser franca, eu ligo.

Sinto meu celular vibrar no bolso de trás do meu jeans, o pego notando um número de uma estranha que eu conheço melhor que a mim mesma. Um pequeno sorriso torto se forma em meus lábios ressecados.

***

Eu estou sentada no muro alto de uma casa desconhecida portando um pequeno buquê de flores diversas colhidas no jardim da mesma residência.

Quando foi que virei uma criminosa?

Bom, acho que foi quando Carol e seu amor surgiram.

Sorrio, pulo do muro caindo com os joelhos no chão. Provavelmente agora eles estão vermelhos e machucados pela minha aterrizagem mal sucedida mas, ainda assim, o esforço vale a pena.

É por ela.

Sigo para a pracinha um tanto deserta em que marcamos de nos encontrar, seguro as flores com um ar um tanto tolo. Elas tem uma aparência incrível e eu me sinto bem as admirando. Meu coração salta com o que pode ser tão sério para ela me chamar até aqui e eu tento disfarçar as mãos suando mesmo estando longe ainda.

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