Capítulo Catorze
"Dizem por aí, mas não tenho certeza, que meu sorriso fica mais feliz quando te vejo, dizem também que meus olhos brilham, dizem também que é amor, mas isso sim é certeza." — Dom Casmurro, Machado de Assis.
A primeira coisa que senti quando acordei foi a sede que fazia doer a minha garganta. A segunda foi o peso na minha barriga que deixava a minha bexiga implorando para ser aliviada. Movimento minha cabeça devagar tentando identificar o que acontecia ao meu redor.
Eu estava em casa e na minha caminha, mas como cheguei ainda era difícil de lembrar. As cenas da noite passada surgem na minha cabeça e aos poucos eu lembro da total perda de dignidade. Ficamos até o dj parar de tocar e então o Jean nos trouxe para casa, na verdade ele nos arrastou para fora da boate.
As pernas de Luana estavam por cima de mim e o resto do corpo estava meio atravessado, com a sua cabeça bem na beirinha do colchão. Tiro minha amiga de cima de mim e ela nem se mexe, suspiro com divertimento e faço meu caminho para o banheiro.
Depois de um banho considerado e escovar os dentes duas vezes para tirar o gosto ruim de ressaca da boca, pude finalmente sentir minha alma voltar para o corpo. Me visto com cuidado para não acordar a loira que ressonava e abraçava o travesseiro. Saio do quarto com o corpo implorando por água e um antiácido.
Largado babando na minha almofada estava Gabriel, com uma perna pendurada no encosto do sofá e com um dos braços de fora. Sorrio vendo a cena e continuo andando em direção a geladeira. Parece que a minha casa virou abrigo de bêbados.
Sirvo um copo de água gelada e bebo, depois ponho um sachê de antiácido para dissolver. O relógio na parede da cozinha marcava 9h30, se eu tivesse sorte ainda conseguiria comprar sopa no mercado. Nada melhor que uma sopinha quente para curar a ressaca.
Bebo de uma vez o conteúdo do copo e saio do apartamento, para tentar a sorte. Não moro longe do mercado do bairro, então em poucos minutos já estou sentada em uma dos banquinhos da venda esperando a senhora servir as porções de sopa nas vasilhas de isopor.
— Não sei o que seria de mim sem a sua sopa. — confesso sorrindo enquanto apoio os cotovelos no balcão. — A ressaca já teria me matado.
— O que mata não é a ressaca, filha. — fala a mulher rindo. — Trate de cuidar do fígado e não beba tanto.
— Só uma vezinha ou outra não faz mal.
— Sei muito bem essa sua "só uma vezinha". — responde me entregando a sacola. — Da próxima vez, que eu seu que vai ter, ligue que peço para levar no seu prédio.
— Muito obrigada, a senhora é a melhor. — digo e jogo um beijo para a senhora. Depois de pagar saio da feira carregando feliz da vida a sacola e meu estômago já reclama a sua parte.
Desço a rua de volta para o meu prédio e toco o interfone para liberarem a minha entrada.
— Dona Ravena, deixaram uma encomenda assim que a senhora saiu. — informa o porteiro quando eu volto.
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Incertezas do Amor
RomansaRavena acreditava viver um conto de fadas, mas diferente das histórias, o dela não terminou com "felizes para sempre". Um mês antes do casamento dos seus sonhos o noivo rompeu com ela e desapareceu, deixando para trás uma Ravena traída, magoada e d...