3. O amor de Júlia

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O amor também chegou para Júlia, ele chega para todos, em tempos diferentes.

O amor de Júlia tinha nome, endereço e os olhos cinzas mais lindos que ela já viu.

Ela nunca demonstrou sentir o mesmo pelo garoto, sim, ele sempre teve uma quedinha por ela e isso era evidente.

Ela não esnobava seus sentimentos, não era uma garota ruim. Ela só fingia não saber deles já que não podia retribuir.

Como na volta do zoológico no sétimo ano.

Megan e Júlia foram juntas até lá, sentaram no mesmo banco e passaram a maior parte do tempo juntas, até vela para Megan Júlia teve de segurar, mas na volta Megan insistiu em voltar com Vinícius, o que fez Renan sentar-se no mesmo banco de Júlia.

— E aí? — ela disse quando ele sentou ao seu lado.

— Oi! — falou animado, queria demonstrar tranquilidade.

— Esse passeio foi um saco, né? — ela falou se espreguiçando.

— Eu achei bem legal.

— O que você não acha legal, Renan? — perguntou rindo.

Ele gostou de ouví-la rir ao dizer seu nome.

— Muita coisa.

— Tipo?

Ele estava nervoso, preocupado demais em pensar nas palavras certas, receoso... Não pensou direito.

— Você.

Ela arregalou os olhos.

— Ok... — riu, pensando em como aquilo era desesperador para o garoto.

— "Ok"? É isso que diz para as pessoas quando elas não gostam de você?

— Renan — virou todo o seu tronco para ele — eu estou acostumada.

Ele queria poder dizer que ela estava errada, mas sabia que ela não era das mais queridas da escola...

— Isso deve ser horrível.

— Não, eu não gosto deles também. Quero que morram atropelados.

Ele riu, ela sorriu.

Essa conversa não durou muito, Renan acabou pegando no sono. Júlia o olhou naquela cena tão deprimente e pensou: eu nunca vou gostar dele.

Mas ela se enganou. Se enganou feio.

Júlia ainda se lembra do dia em que percebeu.

Ela estava na casa de Vinícius com Megan e Renan. Eles iriam assistir a um filme, Megan e Vinícius faziam isso desde pequenos, já tinham visto todo tipo de filme juntos.

Vinícius fez pipoca e Megan chegou com o refrigerante. Eles tinham todo um roteiro para isso.

— Devíamos ter trazido algo? — Júlia perguntou enquanto os olhava arrumando as coisas.

— Trouxeram suas respectivas bundas? — Vinícius perguntou enquanto colocava o filme no aparelho.

— E seus respectivos pares de olhos? — Megan complementou.

— Sim... — Renan falou encarando Megan, que trazia uma pilha de almofodas nas mãos.

— Então isso basta — os dois disseram juntos.

Júlia e Renan olharam-se e sorriram, Megan e Vinícius pareciam mesmo um casal.

— Por que o resto do pessoal não pôde vir mesmo? — Júlia perguntou pegando uma das almofadas de Megan.

— Kaique e Tamy saíram — Vinícius disse sentando e puxando Megan para seu lado.

— E Lola disse que não viria pra ficar de vela — Megan falou deitando a cabeça no ombro direito do melhor amigo.

— Eles não se cansam disso? — Júlia falou cruzando os braços.

— Não — Renan respondeu passando o braço por cima dos ombros de Júlia.

E, diferente do que ela faria com qualquer garoto que tentasse usar essa tática ridícula, ela não tirou o braço dele. Ela continuou no mesmo lugar e até inclinou a cabeça para ficar mais perto dele.

Renan lhe trazia a sensação de segurança. Era diferente do que sentia com Kaique e Vinícius. Vinícius era como panetone no natal e Kaique como doce antes da janta, mas Renan... Renan era como café quentinho logo pela manhã, era como suco e pão de queijo pela tarde e pizza as onze da noite. Ele parecia, de algum jeito, se encaixar do seu lado.

O filme acabou logo. Megan dormiu nos ombros de Vinícius e Renan nos de Júlia, fazendo com que só Júlia e Vinícius vissem o final do filme.

— Ela sempre faz isso? — perguntou.

— Às vezes — ele respondeu sorrindo. — E o Renan?

— Não sei tanto sobre ele como você sabe da Megan.

— Vocês parecem próximos.

— Somos, assim como sou próxima de todos os outros. Não é nada especial.

— Não é? — riu — Você viu seu sorriso quando ele deu risada na cena do guarda-chuva?

— Eu sorri?

— Você sempre sorri quando ele fala. E não, você não faz isso com todos nós porque eu observo tudo muito bem.

— Estou vendo. E isso é estranho.

— Você é estranha.

— Você também.

Os dois riram e Megan disse:

— Vinícius dorme com a luz do corredor acesa, ele é mais estranho.

— Megan!

Ela riu com o rosto ainda afundado nele e o mesmo saiu do lugar, fazendo ela enfiar o rosto no sofá.

Depois de acordarem Renan, foram para o lado de fora. Renan e Vinícius chutavam um para o outro a bola de futebol enquanto conversavam e Megan e Júlia estavam nos degraus da frente da casa de Vinícius os olhando e conversando também.

Tudo estava indo muito bem até Lola, que se cansara de ficar entediada em casa, aparecer por lá e, ao ver os garotos com a bola, tentou chutar também.

Mas Lola não era nenhuma atleta ou coisa do tipo e por isso a bola acabou fazendo uma curva perfeita e parou na cabeça de Júlia, fazendo seus óculos voarem de seu rosto.

— Oh, meu Deus! — ela disse correndo até eles.

— O ensino médio começa daqui a uma semana, como ela vai se virar sem óculos?! — Renan perguntou desesperado.

— Eu vou te matar, Lola — ela disse meio tonta.

— Desculpa, desculpa, desculpa! — ela disse passando a mão no rosto da amiga.

— Julia, o que você tá vendo? — Megan perguntou se aproximando.

— Vultos.

— Tem algum óculos reserva? — perguntou Vinícius.

— Tenho, na minha casa. — levantou e começou a pegar nos rostos de seus amigos.

— O que está fazendo? — Megan perguntou com a mão de Júlia sobre seus lábios.

— Procurando a Lola pra eu quebrar a cara dela.

Eles riram, mas Júlia não.

— Eu te levo pra casa, você acha seus óculos e quebra a cara dela no primeiro dia de aula, ok? — Renan disse segurando-na pelos braços.

— Tá.

Lola a abraçou uma última vez e pediu mais uma série de desculpas, que Júlia já tinha aceitado há décadas, mas era orgulhosa demais para dizer.

Hoje Júlia agradeceria Lola por quebrar seus óculos, porque o que aconteceu no caminho até a sua casa mudou toda a sua vida. E a de Renan também.

Aleatoriamente, JúliaOnde histórias criam vida. Descubra agora