17. A conversa

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Todos seguiam suas vidas muito bem.

Megan, Vinícius, Kaique e Lola entraram na faculdade enquanto Tamy e Renan estavam trabalhando juntos.

Ela estava feliz por eles, de verdade. Ela apenas sentia-se parada, imóvel, sem sair do lugar, como se todo mundo fosse pra frente menos ela.

Ela estava dentro de uma crise existencial em que, diferente de toda a sua vida, sua existência não tinha o menor sentido.

— Eu sou alguém que não existe ou será que existo em alguém que não existe? — ela dizia para si mesma em voz alta.

— Ailuj é só loucura da minha mente ou Júlia é uma prisão para ela? Ou devo dizer... Para mim? Na verdade, eu sou Ailuj ou sou Júlia querendo ser Ailuj? — suspirou — O que eu tô fazendo com a minha vida? Quando as coisas passaram a ser tão complicadas?

Ela estava deitada na cama com as pernas apoiadas na parede. A cortina balançava devido ao vento e, ao fundo, baixinho ouvia-se seu CD dos Beatles tocar.

— Hey, Jude... — ela cantou em um sussurro triste. — Hey, Júlia pra onde você foi? — uma lágrima escorreu — Não me deixe agora, eu não sei seguir sozinha. — e mais outra — Era você quem tomava as decisões, Júlia. Indo embora assim você está me deixando estragar sua vida. Não posso escolher por você... Você não sou eu.

Colocou as mãos nos olhos, sabia que o choro começaria a ficar intenso.

— Você... Você não vai voltar, vai? Sou só eu agora... — sorriu, ainda com lágrimas escorrendo devagar — Não sei nada do mundo, Júlia. Estou com medo de seguir sozinha.

Olhou para sua cabeceira, uma foto de Júlia com seus amigos estava lá.

— Não sei conversar com eles, não sei ser amiga dos seus amigos. Acho que, talvez, eles sintam sua falta também... Eles dizem que "você está diferente".

— Você os ama muito, né? — pegou a foto e, em um gesto carente, a abraçou — Eles amam você também, querida...

A última faixa do CD acabou e seu quarto ficou em um completo silêncio.

— Isso significa que você morreu? Se você não está mais aqui, onde você está?

Ela não esperava uma resposta, não estava louca.

Existem coisas que devem ser ditas em voz alta.

— Você queria que eu fizesse a minha vida acontecer, você sempre quis, mas acontece que eu não sei fazer isso. Quer dizer, eu devo ir embora? Pra onde eu iria? Eu não trabalho, não sei nem o que quero fazer da vida! Você não... Você sempre soube de tudo. — sorriu — Minha tão amarga Júlia, sempre tão decidida em tudo que faz.

Riu, fechando os olhos.

— Você não era tão ruim, afinal. Você sou eu, uma versão ireal de mim. Quer dizer, seu nome é o meu nome de trás pra frente. Somos o inverso uma da outra mas já amamos o mesmo cara. — abriu os olhos — Renan foi o amor da sua vida, Júlia. Oh, Deus, ele era perfeito pra você. Fico feliz por vocês terem se acertado no final.

Suas lágrimas já tinham parado, mas seus olhos ainda brilhavam.

— Você gosta do Thomas? Eu acho que gosto dele... Deus! Eu gosto muito dele. Ele me faz sentir tão... Ah! E ele é tão... Eu nunca me senti assim... Talvez eu deva parar de falar sozinha e ir vê-lo, o que você acha?

Levantou da cama, olhou-se no espelho, pegou sua bolsa e abriu a porta para sair.

— Obrigada por, sabe, me dar o presente da vida. — apertou a maçaneta com força — Eu vou sentir sua falta... — fechou os olhos, na tentativa de vê-la — Adeus, Júlia.

Aleatoriamente, JúliaOnde histórias criam vida. Descubra agora