Júlia passeava tranquila, segurando a mão do namorado e tomando sorvete, quando viu Lucila Esteban indo em sua direção.
Toda a história passou por sua mente em uma fração de segundos...
"Antes mesmo de Júlia conhecer Tamy, antes mesmo de Júlia conhecer qualquer outra criança que não fossem seus irmãos, ela conheceu Lucila, sua vizinha.
Lucila era diferente. Sua família era mexicana, então além dos traços típicos de seu país (que a deixavam tão destacada entre aquelas garotas tão americanamente iguais) ela era fluente em dois idiomas, o que era muito para alguém que ainda estava na pré-escola.
Lucila era muito inteligente e estudava em casa com sua mãe desde os quatro anos. O motivo disso é que sua mãe não queria que alguém se atrevesse a dizer que sua filha era burra por ser latina.
Enquanto Júlia brincava com seus irmãos na frente de casa, Lucila estudava na sala de estar. O que deixava Lucila verde de inveja, pois todos diziam que Júlia era inteligente demais para sua idade, mas ela nem ao menos se esforçava para isso.
Mas Júlia se esforçava, sim. Não tanto como Lucila, mas se esforçava. Estudava com o irmão mais velho, o observava fazer a lição de casa.
E é claro que o destino faria essas duas caírem na mesma turma da primeira série.
Foi no primeiro dia de aula que a competição entre elas começou oficialmente.
O professor estava fazendo perguntas de matemática para a classe, para ver o nível de aprendizagem dos alunos. Mas graças a essas duas, sua ideia foi por água abaixo.
— Muito bem, classe, quanto é vinte mais vinte? — o professor perguntou.
Júlia levantou a mão, confiante. O professor apontou pra ela, para que dissesse a resposta, mas então Lucila falou antes que ela respondesse:
— Quarenta!
— Muito bem, Lucila... — ele respondeu sem graça.
Júlia olhou pra ela como quem dizia: qual o seu problema? E a mesma sorriu, orgulhosa.
— Agora quero ver quem sabe essa! Quanto é trinta e dois menos doze.
Júlia levantou a mão e mais uma vez o professor apontou pra ela.
— Vinte! — Lucila respondeu, fazendo Júlia encará-la no mesmo instante.
— Obrigado, Lucila, mas na sala de aula nós temos que levantar a mão para responder uma pergunta, como Júlia fez.
Se ele não tivesse dito "como Júlia fez" ela não teria dito o que disse em seguida.
— Não tenho culpa se sou mais rápida que ela.
— Como é? — Júlia falou levantando.
Se aquela garota estava tentando provocá-la, ela tinha conseguido.
— É isso aí! — respondeu a outra.
— Você é tão mais rápida que não conseguiu erguer a mão antes de mim, né?
O professor estava sem reação. Ele percebeu que tinha certa tensão ali, mas não conseguiu fazer nada de imediato, estava observando o jeito como as duas falavam. Era muito avançado para crianças da primeira série.
— Grande coisa. Você consegue mexer a mãozinha rápido? Isso não vai te levar para lugar algum.
— Já sabemos quem é a última a ser escolhida nos esportes aqui, não? — Júlia falou, fazendo toda a classe rir.
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Aleatoriamente, Júlia
DiversosA teoria diz que todo corpo tem uma alma e essa alma controla sua vida e segue seu caminho como está destinado a ser. Mas e se ocorresse um erro? E se em um corpo estivessem, não uma, mas duas almas completamente diferentes e opostas? Como essa his...