— Ei — Ailuj disse depois de fechar a porta do quarto de Júlia. — Sou eu, Ailuj. Eu estou me sentindo um pouco sozinha e gostaria de saber se posso... — ele não deixou que ela terminasse.
— Quer sair pra conversar? Estava pensando em te ligar agora mesmo.
Ela sorriu.
— Isso seria ótimo.
— Nos encontramos na cafetaria do centro?
— Na verdade estava pensando em algo mais tranquilo... Que tal um parque?
— Okay. Aquele perto da sua casa?
— Isso. Estarei lá.
— Eu também.
Desligaram o telefone ao mesmo tempo, mas Ailuj foi correndo para a porta da frente, enquanto ele ainda suspirava em sua cama.
A voz dela é tão macia, eu poderia ouvi-la para sempre.
[...]
Ailuj chegou primeiro, o que foi ótimo para organizar seus pensamentos. Eles costumavam ficar mexidos quando Thomas aparecia.
E como em todas as vezes, o coração dela acelerou quando ele sentou ao seu lado.
— Demorei muito? — ele perguntou.
— O suficiente.
Se abraçaram. Ele cheirou o cabelo dela, ela riu.
— Eu senti isso.
— Desculpa, é uma mania estranha.
Se soltaram e voltaram a sentar na grama.
— Eu gosto. — sorriu.
Ele sorriu porque ela sorriu.
— Então... — ele disse.
— Aconteceu algo louco hoje.
— Assim começam as melhores histórias.
— Eu não tenho a mania de falar sozinha, acho meio bobo, mas... Acho que falei "sozinha", bom, não exatamente porque eu sentia que ela estava lá, me escutando.
— Júlia?
— Sim. E ela não precisou dizer nada, na verdade ela não tem mais como dizer alguma coisa.
— Como assim?
— Júlia foi embora, Thomas. Ela não está mais aqui, não está mais comigo.
— E isso é...
— Assutador quando penso que não posso mais deixar que ela decida tudo, mas ao mesmo tempo, é libertador por saber que posso escolher qualquer coisa, as minhas próprias escolhas.
— Eu fico muito feliz por você, Ai.
— Eu também. Não só por mim, mas sinto que Júlia está em paz agora, ela andava tão triste e sozinha nos últimos dias. Estava cada vez mais distante, de mim, dos estudos, de tudo e todos. Parecia que estava...
— Morrendo devagar?
— Exatamente!
— Sente falta dela?
Sorriu fraco, olhando para o chão.
— Sempre vou sentir. Acho que, talvez, ela fosse a minha melhor amiga. Ela sabia de tudo, não é? Ela me acolheu na vida dela por todos esses anos.
— Ela deu a vida dela por você, Ai. Ela foi embora pra você chegar.
— Oh, meu Deus... — colocou as mãos sobre os lábios, surpresa — Esse era o destino dela!
— E o seu começa agora.
— De que mundo você veio, Thomas? — ele arqueou as sobrancelhas — Quer dizer, eu tentei explicar o sentido da minha vida para algumas pessoas e elas acharam que era uma piada, que eu era louca ou que aquilo era uma desculpa para a verdade que eles queriam ouvir. Mas você não fez isso... Você ficou interessado mais e mais e eu não entendi como, não entendo ainda. Por que quis acreditar nas loucuras de uma desconhecida no ônibus?
— Não escolhemos em que queremos acreditar, Ai. Não escolhi acreditar em você, eu senti verdade, senti confusão e medo também. Se estivesses certa do que me dizias, talvez eu não acreditasse, mas você estava confusa, nem você sabia o que se passava contigo. Qualquer um pode inventar uma história e dizer que é verdade, mas só o coração pode transpassar tanta dúvida e sinceridade. Foi o que você fez, você me contou seus medos. Eu apenas acreditei neles. Nunca foi questão de escolha.
— Não existe ser no mundo como você.
— Ou como você.
— Deus acertou colocando você naquele ônibus — os dois disseram juntos, ao mesmo tempo.
— Uau! — Ailuj disse rindo.
— Isso foi lindo.
— Foi...
— Você me fascina, Ailuj. Eu gosto de você.
— Também gosto de você, Thomas.
— Não, eu realmente gosto de você.
— O quê? — ela perguntou assustada.
— Sei que é errado eu estar criando sentimentos por você enquanto deveria estar te ouvindo, mas é exatamente por isso. Quanto mais ouço você falar mais eu me interesso pelo quanto você é incrível e em como eu queria poder dizer que você é minha.
— Thomas...
— Eu sei, eu sei. Você está se descobrindo agora e não quer confusão na sua vida, desculpa, isso foi um err...
Ele não conseguiu terminar, pois ela juntou seus lábios em um beijo quente e intenso.
— Não ouse dizer a palavra erro — ela falou separando seus lábios dos dele. — Se tem uma coisa que não é erro, essa coisa é você... E eu. Juntos.
— Você é demais... — sorriu.
— Eu amo seu sorriso.
— Amo o motivo dele.
— Sabe que será clichê se disser que sou o motivo, não é?
— Eu sou fã de clichês. Se apaixonar pela garota do ônibus é, sem dúvida, meu clichê preferido.
— O meu também.
Beijaram-se mais uma vez.
— Você foi o primeiro beijo totalmente da Ailuj, Thomas — disse rindo, ainda com a boca perto da dele.
— É uma honra.
— Sinto que será meu primeiro em muitas coisas.
— Ousada! — falou levantando.
— Não diga que também não pensou nisso.
— Tenho que lhe ensinar muitas coisas, garota — falou estendendo a mão para ela.
— Mal posso esperar para aprender — respondeu segurando em sua mão.
— Algo me diz que você leva jeito com os estudos! — a levantou, fazendo com que seus corpos se colassem.
— Na verdade uma amiga próxima é, mas acabei aprendendo alguns truques...
— Uh... Então eu acertei?
— É, eu diria que você tem uma ótima intuição.
— Minha intuição diz que devo beijar você.
— É o que dizem, siga a sua intuição.
— O certo não é "siga o seu coração"?
— E o que ele diz?
— Quer ir ao cinema comigo, Ailuj?
Ela sorriu, encantada.
— Eu quero.
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Aleatoriamente, Júlia
RandomA teoria diz que todo corpo tem uma alma e essa alma controla sua vida e segue seu caminho como está destinado a ser. Mas e se ocorresse um erro? E se em um corpo estivessem, não uma, mas duas almas completamente diferentes e opostas? Como essa his...