18. O amor de Ailuj

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— Ei — Ailuj disse depois de fechar a porta do quarto de Júlia. — Sou eu, Ailuj. Eu estou me sentindo um pouco sozinha e gostaria de saber se posso... — ele não deixou que ela terminasse.

— Quer sair pra conversar? Estava pensando em te ligar agora mesmo.

Ela sorriu.

— Isso seria ótimo.

— Nos encontramos na cafetaria do centro?

— Na verdade estava pensando em algo mais tranquilo... Que tal um parque?

— Okay. Aquele perto da sua casa?

— Isso. Estarei lá.

— Eu também.

Desligaram o telefone ao mesmo tempo, mas Ailuj foi correndo para a porta da frente, enquanto ele ainda suspirava em sua cama.

A voz dela é tão macia, eu poderia ouvi-la para sempre.

[...]

Ailuj chegou primeiro, o que foi ótimo para organizar seus pensamentos. Eles costumavam ficar mexidos quando Thomas aparecia.

E como em todas as vezes, o coração dela acelerou quando ele sentou ao seu lado.

— Demorei muito? — ele perguntou.

— O suficiente.

Se abraçaram. Ele cheirou o cabelo dela, ela riu.

— Eu senti isso.

— Desculpa, é uma mania estranha.

Se soltaram e voltaram a sentar na grama.

— Eu gosto. — sorriu.

Ele sorriu porque ela sorriu.

— Então... — ele disse.

— Aconteceu algo louco hoje.

— Assim começam as melhores histórias.

— Eu não tenho a mania de falar sozinha, acho meio bobo, mas... Acho que falei "sozinha", bom, não exatamente porque eu sentia que ela estava lá, me escutando.

— Júlia?

— Sim. E ela não precisou dizer nada, na verdade ela não tem mais como dizer alguma coisa.

— Como assim?

— Júlia foi embora, Thomas. Ela não está mais aqui, não está mais comigo.

— E isso é...

— Assutador quando penso que não posso mais deixar que ela decida tudo, mas ao mesmo tempo, é libertador por saber que posso escolher qualquer coisa, as minhas próprias escolhas.

— Eu fico muito feliz por você, Ai.

— Eu também. Não só por mim, mas sinto que Júlia está em paz agora, ela andava tão triste e sozinha nos últimos dias. Estava cada vez mais distante, de mim, dos estudos, de tudo e todos. Parecia que estava...

— Morrendo devagar?

— Exatamente!

— Sente falta dela?

Sorriu fraco, olhando para o chão.

— Sempre vou sentir. Acho que, talvez, ela fosse a minha melhor amiga. Ela sabia de tudo, não é? Ela me acolheu na vida dela por todos esses anos.

— Ela deu a vida dela por você, Ai. Ela foi embora pra você chegar.

— Oh, meu Deus... — colocou as mãos sobre os lábios, surpresa — Esse era o destino dela!

— E o seu começa agora.

— De que mundo você veio, Thomas? — ele arqueou as sobrancelhas — Quer dizer, eu tentei explicar o sentido da minha vida para algumas pessoas e elas acharam que era uma piada, que eu era louca ou que aquilo era uma desculpa para a verdade que eles queriam ouvir. Mas você não fez isso... Você ficou interessado mais e mais e eu não entendi como, não entendo ainda. Por que quis acreditar nas loucuras de uma desconhecida no ônibus?

— Não escolhemos em que queremos acreditar, Ai. Não escolhi acreditar em você, eu senti verdade, senti confusão e medo também. Se estivesses certa do que me dizias, talvez eu não acreditasse, mas você estava confusa, nem você sabia o que se passava contigo. Qualquer um pode inventar uma história e dizer que é verdade, mas só o coração pode transpassar tanta dúvida e sinceridade. Foi o que você fez, você me contou seus medos. Eu apenas acreditei neles. Nunca foi questão de escolha.

— Não existe ser no mundo como você.

— Ou como você.

— Deus acertou colocando você naquele ônibus — os dois disseram juntos, ao mesmo tempo.

— Uau! — Ailuj disse rindo.

— Isso foi lindo.

— Foi...

— Você me fascina, Ailuj. Eu gosto de você.

— Também gosto de você, Thomas.

— Não, eu realmente gosto de você.

— O quê? — ela perguntou assustada.

— Sei que é errado eu estar criando sentimentos por você enquanto deveria estar te ouvindo, mas é exatamente por isso. Quanto mais ouço você falar mais eu me interesso pelo quanto você é incrível e em como eu queria poder dizer que você é minha.

— Thomas...

— Eu sei, eu sei. Você está se descobrindo agora e não quer confusão na sua vida, desculpa, isso foi um err...

Ele não conseguiu terminar, pois ela juntou seus lábios em um beijo quente e intenso.

— Não ouse dizer a palavra erro — ela falou separando seus lábios dos dele. — Se tem uma coisa que não é erro, essa coisa é você... E eu. Juntos.

— Você é demais... — sorriu.

— Eu amo seu sorriso.

— Amo o motivo dele.

— Sabe que será clichê se disser que sou o motivo, não é?

— Eu sou fã de clichês. Se apaixonar pela garota do ônibus é, sem dúvida, meu clichê preferido.

— O meu também.

Beijaram-se mais uma vez.

— Você foi o primeiro beijo totalmente da Ailuj, Thomas — disse rindo, ainda com a boca perto da dele.

— É uma honra.

— Sinto que será meu primeiro em muitas coisas.

— Ousada! — falou levantando.

— Não diga que também não pensou nisso.

— Tenho que lhe ensinar muitas coisas, garota — falou estendendo a mão para ela.

— Mal posso esperar para aprender — respondeu segurando em sua mão.

— Algo me diz que você leva jeito com os estudos! — a levantou, fazendo com que seus corpos se colassem.

— Na verdade uma amiga próxima é, mas acabei aprendendo alguns truques... 

— Uh... Então eu acertei?

— É, eu diria que você tem uma ótima intuição.

— Minha intuição diz que devo beijar você.

— É o que dizem, siga a sua intuição.

— O certo não é "siga o seu coração"?

— E o que ele diz?

— Quer ir ao cinema comigo, Ailuj?

Ela sorriu, encantada.

— Eu quero.

Aleatoriamente, JúliaOnde histórias criam vida. Descubra agora