Capítulo 3. Pato assado na janela

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   Depois de um tempo, precisei perturbar Calvin de novo. Ele havia parado de ler a enciclopédia online e estava sentado no chão segurando uma caneta.

   - O que está fazendo? - perguntei.
   - Estou escrevendo meu nome em tudo que é meu - Calvin disse. - Assim, você vai ter que me pedir permissão para mexer nas minhas coisas.
   - Oh.
   Ele escreveu “Calvin Ho” na sola dos tênis. Depois, escreveu “C. Ho” com força na parte de baixo da luva de beisebol. “Calvin Ho” dentro do capacete. Por fim, escreveu “Calvin Ho” dentro de seua livros preferidos, que também eram meus livros preferidos.

   Parecia que era melhor eu começar antes que tudo passasse a ser do Calvin! Então, peguei outro marcador e escrevi “Alvin Ho” na minha bola de beisebol. Não era uma bola qualquer, mas uma bola especial, que eu deixava guardada dentro de uma caixa de plástico transparente na estante. Outra pessoa já tinha escrito seu nome nela - Daisuke Matsuzaka, que tinha o apelido de Dice-K. Eu também sou bem esperto, principalmente quando sou o Homem-Bombinha, por isso meu nome ficou bem lindo perto dele.

   - Agora essa bola não serve para mais nada, só para brincar - Calvin disse.
   Era uma notícia muito boa para mim. Eu sempre quis jogar com ela.

   Mas o melhor era que Calvin parecia estar a fim de falar. Assim, dei a ele a má notícia:
   - As regras de Calvin para fazer amizades não vão funcionar pra mim. Não posso fazer nada da lista porque simplesmente não consigo dizer nem oi. Tem mais alguma ideia?

   - Hum... - Calvin disse, segurando a caneta. - Os outros meninos da sua classe são maiores do que você?
   - A maioria deles - respondi. - Mas o Miúdo é o maior de todos.
   - Às vezes ajuda ter um amigo do seu tamanho - Calvin disse. - Assim, você não precisa dizer nada.
   - Como assim? - perguntei.
   - Sei lá. É assim que as coisas são.

    Então, Calvin foi até o computador e digitou “Exercícios de alongamento para acelerar o crescimento ”. Na tela, a frase “Veja resultados em cinco minutos! Resultados incrivelmente RÁPIDOS!” surgiu. Havia diversos tipos de diagramas e instruções para crescer alguns centímetros. Perfeito! Ele imprimiu algumas páginas e corremos para o quintal.

   O verão ainda não tinha terminado, mas o outono já se mostrava com folhas lindas. Bege, vermelhas, laranja, e marrons, as folhas pareciam fogos de artifício à luz da tarde dourada. E Anibelly cantava embaixo delas.
   - Lalalalalalala - ela cantava. - Lalalalalala.

   Anibelly estava cavando burracos, uma de suas atividades favoritas. Os buracos que ela cavava não eram tão bons quanto os meus. Não eram buracos de verdade, apenas covinhas, mas ela com certeza gostava de cavá-los.

   - Lalalalalala - ela cantava como um passarinho. Ela segurava a mangueira e também um dos meus galhos.

   Corri até ela. Quase demos um encontrão. Lembrei bem em cima da hora que eu era um cavalheiro. Meu pai ensinou a mim e ao Calvin as regras de como ser um cavalheiro. A regra número um é não bater, muito menos em meninas, infelizmente. Mru pai dizia que essa era a regra mais importante a ser lembrada, e se eu me esquecesse dela, não seria um homem, mas, sim, um saco de batata. Ser homem seria muito mais fácil se Anibelly  não mexesse  em minhas coisas, não comesse minha comida, não bebesse meu leite com chocolate, ou não me atrapalhasse.

   - Anibelly - eu disse, sem fôlego. - Esse galho foi preparado e não serve para cavar, mas, sim, apenas como espada e coisa assim.

Alvin Ho Onde histórias criam vida. Descubra agora