Capítulo 16. Uma coisa terrível

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   Quando voltamos do porão, depois de assistir a Terra de Bebês Alienígenas do Espaço Sideral, estava escurecendo. A casa estava em silêncio, exceto pelo vento que entrava assobiando pelas paredes e o barulho abafado da máquina de costura de minha mãe vindo do andar de cima. Além de ser uma máquina de arremessos, meu gunggung também gosta de costurar.

   - Até-té que não fo-foi um fi-filme tã-tão assustador assim - Scooter gaguejou.
   - Nã-não foi - Eli disse.
   - Já-já vi-i ma-mais assustadores - Nhia disse, tremendo.
   Eu não falei nada.
   - Vamos lançar bo-bolas -Miúdo disse.
   - Tudo bem - Hobson respondeu.
   - Oba!!! - Miúdo disse, pegando minha bola e minha luva, que Anibelly havia deixado perto da porta. - Temos até uma bo-bola de beisebol autografada por Alvin Ho!
  
   O pessoal da gangue se cumprimentou.
   Eu não.
   - Acho que tem algo de errado com o Alvin - Sam disse.
   Nem conseguia me mexer. Nem conseguia pensar. Mal conseguia respirar. Não conseguia fazer nada além de de observar os bebês alienígenas invadindo a Terra e andando por aí como zumbis, sem parar, em minha mente.

   Mas Miúdo e a gangue já tinham saído, assim como a minha luva e a minha bola. E fui atrás, como um zumbi.
   Lá fora, vi a noite escura e sombria.
   A árvore esticava seus dedos tortos na minha direção. A mangueira do jardim resmungava.

   Geralmente, ninguém vem à nossa casa quando escurece. Não dá pra ver onde você está pisando e, com um erro, um grave acidente pode ocorrer.
   - Quero aprender o lance dos dedos separados - Miúdo disse. - Pode mostrar.

   Ele jogou a bola para cima e se afastou.
   Fiquei parado. O lançamento com os dedos separados é de arrasar. É lento e engana muito. Mesmo durante o dia, fica difícil dizer para onde a bola foi. Se Miúdo não a pegasse, a bola poderia acertá-lo bem no meio dos olhos.

   - Vamos! - Miúdo pediu. - Está esperando a chuva passar ou algo assim?
   Tremi. Encolhi os olhos. Era difícil sabe o que era a gangue e o que eram as outras sombras assustadoras no quintal.
   - Não tenho a noite toda! - Miúdo gritou.
   Então eu me preparei, de um passo atrás com uma perna e lancei com toda a minha força…

   Não escutei barulho na luva.
  Um silêncio esquisito tomou conta dos meus ouvidos.
   E então CRAAAAAACK! O barulho de uma janela explodindo em um milhão de pedaços.
   Oops.
   - Acho que escutei minha mãe chamando - Miúdo disse. Ele jogou a bola e começou a correr pelo quintal, quando…

   Uma Coisa Terrível saiu das sombras… e veio na nossa direção. Metade era verde, e a outra preta. Tinha escamas de um lado e verrugas do outro.
   Eu estava prestes a fazer xixi na calça. Mas não fiz. Em momentos como esse, é importante ter ido ao banheiro, e eu fui.

   - AAAAAAAAAAACK! - Miúdo gritou bem alto. - AAAAAAAACCCK!
   O vento associou e bateu na casa. A cerca fez um barulho alto.
   Meu coração parou.
   Minha respiração parou.
   Meus olhos se fecharam. Quando eu os abri de novo, vi que Miúdo tinha… feito xixi na calça!
   Eu não soube o que dizer. Nem o resto da gangue. O que dizer quando alguém acabou de pagar um mico?
  
   A Coisa Terrível se aproximou.
   - Lalalalalá - ela veio cantando.
   Miúdo se virou e correu.
   - AAAAAAAAAAAAAAAACK! - gritou.
   - Oi, Alvin - disse a Coisa Terrível. Era a voz de Anibelly… mas não era Anibelly.

   - Lalalalalalá - ela cantou de novo.
   Será que a Coisa Terrível tinha engolido a Anibelly?
   - Você gostou da minha fantasia de Dia das Bruxas, Alvin? - disse a voz de Anibelly. - gunggung acabou de terminar.
   A Coisa Terrível virou de um jeito ameaçador para o lado e depois para outro. Era mais feia do que os bebês alienígenas e mais assustadora do que o filme todo, do começo ao fim.

   - O que-que é você? - eu perguntei.
   - Meio bruxa e meio dragão - disse a voz de Anibelly. - Não consegui decidir o que queria, então gunggung disse que eu poderia ser os dois.
   - Ah - eu disse.
   E então eu me lembrei de dizer algo gentil para Anibelly:

   - Você está ótima - eu disse, apesar de ela estar feia de morrer.
   - Vocês precisam entrar agora - chamou meu gunggung de dentro de casa. Ele era uma forma escura contra a luz de entrada. Anibelly e eu corremos na direção da luz.
  
   - Que bom que sua mãe não estava em casa - meu gunggung disse quando passei por ele. - Podem contar a ela o que aconteceu de manhã.
  Concordei. E então olhei para trás. O restante da gangue havia desaparecido. Nosso quintal estava quieto. A casa ao lado também estava totalmente escura e silenciosa.
   Que sorte que os vizinhos também não estavam em casa.

Alvin Ho Onde histórias criam vida. Descubra agora