Capítulo 13. Regra número 2

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   Meu pai chegou bem na hora. Se ele tivesse chegado um minuto depois, eu teria partido para o Plano B, e sabe-se lá como isso teria sido assustador!

   Meu pai não gritou.
   Ele não berrou.
   Ele não ficou cor de beringela, tomate, rabanete ou laranja alerta de perigo.
   Ele não ficou feliz com o relatório da psicóloga, mas também não me deu bronca.

   Louise, o carro verde wasabi de meu pai, nos levou para casa, virando sempre à direita porque não podia mais virar à esquerda. Ela tem artrite de automóvel, porque é muito velha.
   E eu sabia que teria problemas. Pensei em começar a chorar e resmungar para diminuir a bronca que levaria, quando Louise dobrou algumas ruas de repende e, quando percebi, eu estava bem na frente da sorveteria Brigham!

   - Você errou o caminho? - perguntei no banco de trás. Geralmente vamos à sorveteria para comemorar um aniversário ou um boletim com boas notas, mas nunca por xingar um adulto.
   - Não, filho - meu pai disse. Adoro quando ele me chama assim. Gosto mais até do que quando ele usa meu nome, que eu também adoro.

   - Então por que estamos aqui? - perguntei.
   - A terapia é ruim, não é?
   Eu afirmei com a cabeça.
   - Tive um dia ruim também - meu pai disse.
   Prendi a respiração.
   - Então precisamos ficar juntos - meu pai continuou -, e precisamos de um pouco de sorvete.
   - É? - eu perguntei. Da última vez que não fui castigado, terminei recebendo algo pior, bem pior.
   - Quer dizer que não vou levar bronca?
   - Não, filho - meu pai disse. Normalmente, adoro quando ele me chama assim. Mas aquilo não estava normal.
   Ali dentro, meu pai e eu passamos por crianças maiores que tomavam sorvete com seus pais. Escolhemos uma mesa.
   As lágrimas rolaram pelo meu rosto.

   - Buááááááááá!
   Eu chorei, só pra garantir. A garçonete deu um passo para trás.
   E então chorei um pouco mais. Depois disso, eu me senti bem melhor.
   A banana split com creme e cerejas em cima também ajudou.
   Mas meu pai ajudou muito mais.
   Tivemos uma conversa de homem para homem, eu e meu pai. E olha o que descobri…
  

1. Meu pai tenta ser simpático com todo mundo.

2. Ele adora super-heróis.

3. Mas não gostaria de ser um.

4. Prefere ser meu pai a qualquer outra coisa no mundo.

5. Se pudesse mudar alguma coisa nele mesmo, talvez mudasse sua calvície.

6. Se pudesse mudar alguma coisa em mim, não mudaria nada.
7. Ele não tinha nenhum amigo, até o dia em que ele trocou com alguém um figurinha de Carl Yastrzemski Rookie por uma de Hank Aaron Rookie.

8. Depois disso, os dois se tornaram melhores amigos.

9. Ele deseja que eu encontre um bom amigo.

10. Também deseja que eu aprenda palavras novas por diversão, não pra xingar as pessoas.

   - Filho - meu pai disse -, sei que é frustrante e que a mudança vem devagar, mas você está progredindo muito com a sua terapia.
   Então, meu pai explicou que, enquanto a regra número 1 de um cavalheiro é não bater, a regra número 2 é não xingar nem ofender.
   - Nem um pouquinho? - perguntei.
   - Nem uma palavra - ele disse. Então ele ficou em pé e encheu o peito. Parecia ter três metros de altura. Meu pai é incrível.

   Eu fiquei em pé. Estufei o peito. Não fiquei parecendo ter três metros. Nem metade disso. Mas tudo bem.
   - Está pronto, filho?
   - Pronto, papai.
   Então, eu o abracei e fomos para casa.
   Foi o melhor momento que passei com o meu pai.

Alvin Ho Onde histórias criam vida. Descubra agora