Capítulo 9. Um pesadelo de verdade

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   Meu pai cuida muito bem de suas coisas. Talvez seja uma das regras de ser um cavalheiro, mas não sei bem, não me lembro. - Cuide das suas coisas - meu pai gosta de dizer - e suas coisas cuidarão de você.

   Meu pai cuida tanto do carro dele, Louise, que ele provavelmente vai funcionar durante um terço de uma era geológica, apesar de já ter uma peça no ferro-velho, o que, de acordo com a minha mãe, é o equivalente a alguém estar com um pé na cova.

   Meu pai também cuida bem de nossa casa e do quintal. Sabe usar um martelo. Sabe subir na escada. Também sabe descer, geralmente. E tem uma furadeira.

   Ele também cuida dos filhos. Olhem pra gente - passamos duas semanas com uma coceira de matar, e estávamos quase normais de novo, voltando para a escola.
   Então, quando meu pai não estava brincando com seu Johnny Astro, ele o deixava dentro da caixa, no lugar mais alto da estante de livros, para que ficasse guardado.

   Johnny Astro certamente era maravilhoso, mesmo dentro de uma caixa. Eu entrei na sala de estar para dar mais uma olhada nele antes de ir para a escola. - Johnny Astro me tornou muito popular - escutei meu pai dizendo. - Todos queriam brincar comigo…

   “ Johnny Astro”, li o que estava escrito na caixa pela milésima vez. “ Voa de verdade. Sem fios. Sem ligações. PILOTE A SUA NAVE ESPACIAL EM QUALQUER LUGAR.”
   Fiquei olhando, sem piscar.
   Arrumei meu KDP embaixo do braço.
   Engoli em seco.

   - Alvin! - minha mãe gritou da cozinha. - Apresse-se querido, o ônibus já vai chegar!
   - Estou indo, mãe! - respondi.
   Mas primeiro… só precisava de um banquinho e me esticaaaaar pra alcançar. Johnny Astro era perfeito a apresentação “leve um objeto, mostre aos colegas e fale sobre ele”.
   “Um dia”, escutei a voz do meu pai, “isto será seu”.
   Um dia. Eu não fazia a menor ideia de que um dia seria aquele dia!
   - Obrigado, papai - sussurrei. - Você é o melhor.

   Até me lembrei do que disse.
   Então, coloquei a caixa dentro de uma sacola grande de compras… e saí pela porta.

   - O que é isso? - Miúdo perguntou quando entrei no ônibus.
   Eu me assustei. Não acreditava naquilo. Miúdo estava sempre de olho em mim!
   - Johnny Astro - respondi.
   - O que é Johnny Astro?
   - O melhor brinquedo de todos - eu disse.
   - Nunca ouvi falar - Miúdo disse. - o que ele faz?
   - Vou mostrar na aula - respondi.
   - Mas você não vai participar - Hobson falou.
   - Vou sim - protestei.
   - Você mostra, mas nunca fala - Sam disse.

   Sam tinha razão, eu nunca conto. Mas eu era ótimo em mostrar. Sabia segurar os objetos. Se alguma coisa tem uma história desde que eu consiga pegar e seja algo que eu consiga carregar sem precisar de um carrinho de mão, provavelmente é perfeito. Já trouxe todos os tipos de tesouro… os fantásticos óculos de leitura de meu pai… o colar de pérolas da minha mãe que a deixa tão bonita… a coleção de figurinhas de beisebol de Calvin.
   E agora, Johnny Astro.

   - Se este é o melhor brinquedo de todos, você deveria mostrar e falar agora - Miúdo disse - antes de chegarmos à escola, ou nunca vou saber o que você queria dizer.
   Fazia muito sentido. Eu mal conseguia esperar. Tirei a caixa da sacola.

   O grupo leu a caixa.
   Todos ficaram boquiabertos.
   De língua para fora.
   - É só a caixa - eu disse. - Esperem até vê-lo em ação! Apontei para a caixa.
   - Abra - Sam pediu. - Abra.

   Eu prendi a respiração.
   Queria abrir. Queria mostrar ao grupo o melhor brinquedo que já tinha sido feito. Mal conseguia esperar.
   Úush. Levantei a tampa. Um cheiro de antigo de diversão e animação tomou conta do nariz de todos.

Alvin Ho Onde histórias criam vida. Descubra agora