Boas Vindas

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Sentada diante do Sr. McJake, um homem de semblante tão comum quanto os edifícios que cercavam aquele escritório em Nova York, minhas esperanças repousavam inteiramente nele. Àquela altura, já havia enfrentado cinco entrevistas, e cada uma delas soava como um teste de resistência para minha confiança. Sério, eu sofro com uma coisa chamada hiperidrose palmar, o que significa que se eu movesse as mãos que estavam devidamente posicionadas sob a minha coxa, era possível ver a diferença de coloração no veludo da minha saia azul.

Tentei não me concentrar no fato de que veludo era uma péssima escolha, vai por mim, não tive muitas opções, foi o melhor que consegui encontrar no brechó da igreja. Precisava redirecionar meu pensamento para algo que não me deixasse mais nervosa, então silenciosamente, fiz uma prece aos céus para que o Sr. McJake fosse mais receptivo do que os recrutadores anteriores.

O problema é que não demorou muito para a esperança ruir, virar pó, se esfrangalhar. Na verdade, bastou um olhar glacial do gerente do Palace Garden Hotel em minha direção para que o Titanic afundasse. E merda, eu nem sabia tocar a porcaria do violino! Morreria em desespero e agonia. E lá vai outro fato sobre mim que não tem a ver com condições corporais nojentas: sou meio alheia às vezes, totalmente adepta a pensamentos intrusivos.

Pisquei discretamente antes de ficar mais ereta e fazer uma breve avaliação do homem sentado à minha frente organizando meticulosamente alguns papéis. Bem, ele possuía cabelos grisalhos curtos, usava óculos redondos que deixavam seus olhos escuros ainda maiores. Me passava aquele ar de um estrategista estudando um tabuleiro de xadrez. Olhando bem, ele se parecia com um Gus Fring que detestava amarelo, ou qualquer resquício de alegria.

Tá bom, tá bom. Estou sendo dramática demais.

Enquanto lutava para ajeitar minha saia horrorosa sob a cadeira, comecei a ficar extremamente incomodada. Já faziam cerca de dez minutos que eu estava sentada ali esperando que o sr. McJack grampeasse documentos que não pareciam ter nada a ver com a minha entrevista, e pior, o relógio primitivo pendurado na parede atrás de nós tiquetaqueava de uma forma que me obrigava a acompanhar seu compasso batendo a ponta dos pés. Arg, eu DETESTAVA esperar.

E depois de enfrentar inúmeras recusas, algo havia mudado em mim. Estava frustrada, exaurida, cansada de falhar. Esta não era apenas uma entrevista, era minha última tentativa antes de começar a considerar opções menos atraentes...

O trabalho que a amiga de minha mãe me indicara em uma Casa de Festas não devia ser tão ruim assim. Mesmo que ficassem à 16km do Brooklyn. Mesmo que precisasse me fantasiar de algum personagem medonho - e com a cabeça desproporcionalmente grande - de desenho animado... Mesmo que a carga horária fosse fazer com que eu tivesse cabelos brancos aos trinta e morresse aos cinquenta e cinco.

E também existia uma outra possibilidade que me ocorreu no caminho para cá. Minha professora do ensino fundamental elogiava meus rabiscos, quem sabe poderia viver da arte, como o artesão da estação de metrô. Será que eu conseguiria convencer alguém de que meus bonecos de palito eram conceituais e artísticos? Hm...Persuasão não vinha sendo meu forte. Risquei a ideia mentalmente.

- Podemos começar, Srta. Drayton? - O gerente finalmente perguntou me arrancando dos devaneios.

Minha postura se alinhou instantaneamente. Não importava o quanto eu me esforçava para que minha coluna ficasse reta, no final das contas eu sempre acabava como um adolescente desleixado de dezesseis anos.

- Claro. - Forjei meu melhor sorriso, e espero do fundo da minha alma desesperada que ele não tenha percebido o leve tremor no meu lábio inferior.

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