O que eu estava fazendo ali? Me perguntei pela quinta fez olhando para o prédio de vidro onde Richard Laurent trabalhava de acordo com o Google. Tentei me convencer mais de uma vez que não estava parecendo o Joe Goldberg da série You espreitando suas vítimas. Que horror.
Após respirar fundo - três longas vezes - entrei no prédio. Seu interior era bem iluminado, as paredes revestidas em tinta branca e ladrilhos de vidro davam um ar sofisticado e harmônico, e me sentei em uma daquelas cadeiras da recepção enquanto a secretária me encarava parecendo em dúvida se eu não a tinha visto ali ou se apenas esperava por alguém.
Certo, repassei novamente o plano. Richard jamais aceitaria sair comigo se soubesse que eu estava tentando comemorar seu aniversário, e muito menos se pensasse que o convidava por pena, então eu não mencionaría nada do gênero. E deixaria bem claro que não era um encontro.
Não fazia ideia do que ele gostava de fazer, mas esperava que ele fosse cooperativo comigo. Quando o relógio marcou 17h30 comecei a suar frio. Ele me acharia ainda mais esquisita.
O elevador se abriu, e sorri com um pouco de expectativa e nervosismo, Richard apareceu no meu campo de visão, mas não estava sozinho. Conversava com possivelmente uma das mulheres mais lindas que eu já vira na vida. Ela se parecia com uma modelo da VOGUE, alta, pernas cumpridas, cabelos dourados e uma postura marcante. Era aquele tipo de mulher que impunha respeito onde pisava, e pela forma como Richard Laurent olhava enquanto ela espalmava seu peito e ria, a mulher conseguiria exatamente o que desejava.
Rezei para que o chão se abrisse e me engolisse por inteira, e no momento em que pensei em me levantar e sair correndo dali, Richard olhou em minha direção. O sorriso que ele tinha nos lábios sumiu e sua testa se encrespou. Não quero nem pensar na cara que devo ter feito mas devia beirar o desespero.
Percebendo que não era mais o centro da atenção de Richard a loira se virou em minha direção me fitando afiadamente, como se eu tivesse estragado o seu momento.
Ainda estava paralisada com as mãos no encosto da cadeira quando Richard veio até mim e perguntou :
- Drayton? - Apertou os olhos como se quisesse ter certeza que não havia me confundido. - O que faz aqui?
Antes de responder arrisquei espiar a mulher atrás dele que parecia impaciente. Levantei meus olhos para ele.
- Richard? - Fingi surpresa. - O que você está fazendo aqui? Minha nossa! Que coincidência!
Ele tombou a cabeça como quem diz "fala sério".
- É onde trabalho - explicou e arregalei os olhos como se isso jamais tivesse passado pela minha cabeça. - Mas suspeito que você já sabia disso.
Soltei uma risada nervosa e fiz um "umpft" com a boca.
- Está insinuando que vim até aqui ver você? - Perguntei indignada, porque embora fosse exatamente isso era muita presunção da parte dele pensar.
Sua resposta foi um leve arquear de sobrancelhas.
- Bem, não consigo pensar em outra razão que te trouxesse até aqui.
Varri o local com os olhos tentando pensar imediatamente em alguma desculpa. Nada.
- Você tem razão. - Admiti sentindo meu rosto queimar de vergonha. - Queria saber se...
A loira se aproximou nesse momento e minhas palavras ficaram no ar quando ela passou um dos braços pelos ombros de Richard.
- Querido - Sua voz era firme e me deixava intimidada apenas por estar no mesmo ambiente. - Vamos nos atrasar para o jantar.
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Inverno Em Saturno
Romansa"As pessoas são solitárias porque constroem muros ao invés de pontes" - O Pequeno Príncipe. Um coração partido, uma irmã doente, um pai desaparecido. A vida de Kimberlly Drayton não é nenhum mar de rosas, mas ela sempre tenta ver o lado p...