Caça ao Tesouro

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A verdade já me atormentava a algum tempo. Não adiantava mentir. Minhas expressões me denunciavam. Não falei nada. Apenas sai do quarto. Diane em meus calcanhares.
Senti o apertão no braço assim que cheguei na sala. Mellanie olhava de mim para Diane, assustada.
- Isso é uma confirmação? Você está mesmo... - Me virei para ela tentando não fazer uma besteira.
- É você quem está dizendo.
Me safei de sua pegada, saindo pela porta.
Meus olhos queimavam. Eu queria gritar, quebrar alguma coisa. Morrer.
E lá no fundo tudo o que mais queria na vida era correr para os braços de Richard. Mesmo sabendo que seria rejeitada.
Não estava prestando atenção até trombar com alguém no elevador. Balbuciei um pedido de desculpas esperando ganhar uma bronca de seja lá em quem fosse mas ouvi uma risada.
- A quanto tempo, Kimberlly!
Abri um sorriso.
- Becca! - Meus olhos se iluminaram- Eu precisava mesmo falar com você!
Puxei seu braço, guiando-a pelo corredor até um canto.
- Onde é o incêndio, garota?
Revirei os olhos.
- Em lugar algum! - Sorri - Lembra daquele convite sobre colocar o papo em dia? Acho que vou aceitar. Preciso mesmo sair.
Ela franziu a testa.
- Qual o motivo dessa ansiedade repentina? - Seus olhos não passavam de uma linha fina.
Dei de ombros.
- Não é nada. Vamos ao Darllonier's. Eles tem uma boa sobremesa. E hoje tem a promoção da torta de morango.
Que pena que eu nem passaria lá na porta...
- Hm...Tudo bem então. Nos vemos mais tarde. Ando tão cheia ultimamente. Também acho que preciso sair pra me divertir.
- Ótimo!
Só esperava que ela não me odiasse pelo resto da vida...


Eu pretendia ir ao hospital naquele dia. Fazia um tempo que não falava com Cibelly, e eu precisava mesmo ter uma conversa com a minha irmã.
Se tudo corresse como planejado, à noite Becca teria um encontro com o sr.McJake e ele se declararia à ela. Oh que romântico!
Santo Deus, que minha amiga me perdoe por isso.
Eu precisava me trocar antes de ver minha irmã.
Mais cedo, Nicole tinha buscado a mamãe. Minha ex-cunhada partiria naquela madrugada e pelo que me disseram ao telefone, ela passara a tarde toda ao lado de Cibelly. Como se fosse a última vez que se veriam...
Assim que sai do táxi, me deparei com uma BMW estacionada na minha porta. Eu conhecia a placa.
Cheguei mais perto, o veículo se encontrava vazio. Bem suspeito.
Subi os degraus até o hall, abri a porta. Dona Lurdes me deu uma piscadela enquanto subia as escadas para sua casa. Sorri em resposta.
A penumbra cobria toda a sala. Liguei o interruptor e em seguida, escancarei as cortinas.
O BMW ainda estava no mesmo lugar. E sem ninguém.
Olhei ao meu redor, um cheiro conhecido preencheu o ambiente.
Meus olhos pararam na porta do meu quarto. Aberta.
Cheguei até o batente. Mas que diabos...
- Ah! Oi - Richard sorriu. Sentado em minha cama - Bela coleção de bonecas você tem.
Ele tinha mexido nas minhas coisas?
- O que está fazendo aqui? E como entrou? - Aquilo era meio sinistro pra falar a verdade.
Richard coçou o queixo como se estivesse pensando.
- Hm...Acho que queria fazer uma surpresa.
Aaah, que ótima explicação.
- Surpresa?
- Exatamente
Franzi a testa. Acredito que ele não me daria uma explicação decente no momento por isso resolvi que a melhor alternativa seria ignorar essa parte, por ora.
- E como entrou?
Seus ombros subiram minimamente.
- Uma senhora muito simpática tinha a chave.
Dona Lurdes... Filha de uma mãe... !Teria que ter uma conversa com ela um dia desses.
- Tá, mas ainda não entendi qual é a da surpresa.
E pra falar a verdade dava até medo de descobrir.
Ele se levantou cruzando o quarto até o batente.
- Eu te devo uma coisa, não é? - Sua voz rouca fez meu estômago se agitar. - Na verdade, só me lembrei disso agora que sai do escritório. Imaginei que você já tivesse terminado o expediente...
- E então resolveu invadir minha casa?
Revirou os olhos.
- A gentil senhora me deixou entrar. Que tipo de homem acha que sou?
- Do tipo irritante.
E do tipo que derrete corações...Oh minha Nossa!
- Você também não é nenhuma miss simpatia.
Bufei. Ainda estava com raiva dele por ontem a noite quando me chamou de burra.
- Que seja. Vamos direto ao motivo que o fez entrar em minha casa sem minha permissão?
Passou as mãos pelos cabelos. Caramba; tinha como ele ser algo menos do que sexy?
- Caça ao tesouro.
O encarei confusa.
- O quê?
- Nunca brincou de caça ao tesouro? A regra é simples, você só precisa procurar pelo... tesouro! e encontrá-lo, claro.
Aaaah sério?
- Eu sei como se brinca! Só não entendi o que tenho que procurar e porquê tenho que procurar.
Jogou a cabeça pra trás, puxando o ar com força, como se pedisse paciência aos céus.
- Vamos lá... É pequeno e quadrado... - Uow, que grande dica! - Não vou ajudar mais. Procure!
Espera ai...
- É um celular?
- Anda logo Drayton! - Apressou, ignorando totalmente minha pergunta.
Me dispus a procurar, sentindo-me meio patética por isso. Enquanto Richard ficava ali encostado na cabeceira da minha cama, observando.
- Está frio - Disse quando comecei a tatear a cômoda.
Abaixei para olhar em baixo da cama.
- Está congelando! Vá mais pro meio!
Olhei em baixo do tapete, em cima do criado mudo, na prateleira dos livros...
- Está mesmo aqui no quarto? - Perguntei exausta.
- Sim! Vamos logo!
Suspirei e voltei a procurar igual boba. Ah! Faltava o guarda roupa...
- Está começando a esquentar...
Aaaah finalmente!
Comecei a jogar as roupas na cama.
- Ei! - Richard protestou quando acertei meu pijama na cara dele.
Não tinha nada ali. Me virei para encará-lo
- Já chega, estou me sentindo bem idiota. Não vou procurar mais nada- Deslizei até bater a bunda na cerâmica dura.
Ele levantou, se sentando no chão também. Em frente ao guarda-roupa.
Richard puxou a gaveta do meio.
Arregalei os olhos pra ele. Eu tinha um motivo para acreditar que seja lá o que ele estivesse escondendo, não estaria naquela gaveta.
- Minha gaveta de langerie? - Minha careta deve ter sido épica, pois ele se esforçou bastante para não rir.
- Nunca vi tanta renda na minha vida.
Vasculhou com as mãos até tirar uma caixinha dourada do fundo da gaveta. Havia uma coisa enrolada na caixinha. Uma coisa feita de renda cor de rosa.
Ele me entregou a caixinha, mas segurou a calcinha de renda na ponta dos dedos com um sorriso idiota que me fez corar até a ponta dos dedos.
- Me dê isso aqui - Falei pegando a peça e atirando de volta onde estava. Fechando estrondosamente a gaveta.
Atravessei o quarto sem olhar para Richard. Meu rosto ainda fervia. A caixinha dourada não era assim tão pequena.
Senti o hálito de Richard em meu pescoço. Uma onda de arrepios me pegou desprevenida
- Abra.
Com os dedos trêmulos, abri a caixinha. Tirei lá de dentro um aparelho prata, de última geração. Uau!
Olhei para Richard de queixo caído.
- Você tá de brincadeira! - Acabei rindo abobadamente.
- Não gostou?
O olhei cética.
- Olha pra isso! Não tem nem comparação com o meu antigo! Não dá pra aceitar não, Richard...
Fez cara de tédio.
- Dá pra aceitar sim! E claro que é bem melhor do que aquela porcaria que você chamava de celular!
- Não fale assim do meu antigo bebê.
Deu de ombros.
- Você sabe que é verdade mesmo.
E era! Aquele aparelho deve ter custado uma fortuna!
- Não sei se eu devia te agradecer, sendo que por culpa sua perdi o outro celular.
- Deve me agradecer sim. Te fiz um favor, jogando ele pela janela.
Soltei uma risada. Mal via a hora de mexer naquele troço.
- Que seja então, obrigada!
Ele pareceu meio sem jeito.
- Bom...Já vou indo então. - Disse batendo no relógio de pulso.
- E eu vou tomar um banho. Estava indo ver a Cibelly.
E se quisesse chegar a tempo de pegá-la acordada tinha que tomar logo minhas providências.
- Quer que eu te leve?
Uma ideia tentadora...
- Não, não precisa. Pego um táxi.
Com certeza aquilo evitaria que baixasse a louca em mim e eu atacasse o homem igual à noite anterior.
Levantou as sobrancelhas
- Vai acabar com todo seu dinheiro, se continuar a usá-lo para pagar um táxi todo dia.
Ele tinha razão.
- É melhor do que ouvir você jogando na minha cara que sou um peso.
Suspirou, levantando as mãos em rendição.
- Tá bom, tá bom... Juro solenemente não dizer isso dessa vez...
Joguei o travesseiro nele.
- Termino o banho em um minuto. Não mexa em nada.
- Claro.
Deixei meu novo e supermaravilhoso aparelho celular em cima da cômoda com todo cuidado do mundo e fui em direção ao banheiro.
Enquanto a água escorria por minhas costas me peguei pensando no que Richard estava fazendo em meu quarto. E isso acabou me lembrando de que eu não tinha pego a toalha.
Bem... ultimamente, eu estava sempre sozinha em casa. Não me preocupava em levar a toalha para o banheiro. Sendo que poderia caminhar nua até o quarto. Não era uma distância muito grande. Porém naquele dia havia um empecilho.
Abri minimamente a porta.
- Hã...Richard?
Sua voz respondeu do quarto.
- Sim?
- Pode por favor pegar a minha toalha? Deve estar no cabide. Atrás da porta.
Não houve resposta. Cerca de vinte segundos depois ouvi seus passos se aproximando.
- Posso entrar?
- Óbvio que não! Só me dê a toalha. - Estiquei a mão pela fresta da porta.
Logo ele me entregou a toalha, na qual me enrolei e parti para meu quarto.
Richard já estava se sentando novamente em minha cama, fuçando alguma coisa no meu novo celular.
- Estou adicionando músicas decentes à sua play list.
- Bom... Pode fazer isso lá na sala? Preciso me trocar.
Ele levantou os olhos, me examinando dos pés à cabeça.
- Hm... Não vou espiar. Fique a vontade.
Soltei uma risada.
- Vai sonhando!
Antes que eu precisasse partir para meus métodos dramáticos, ele saiu do quarto sorrindo. Fácil demais.

Fazia calor, por isso escolhi um vestido amarelo de alças grossas. A barra chegava até meus joelho. Coloquei-o sob a cama enquanto vestia as roupas íntimas.
Peguei a calcinha de renda cor de rosa. A partir de agora era minha favorita. E isso meio que me deixou constrangida.
Agora eu só precisava de um sapato. Onde estava meus mocassins brancos estampados com girassóis?
Avistei o par em cima do guarda roupa, tinha colocado lá em cima quando fui limpar a casa. Subi na parte inferior de madeira do guarda roupa e estiquei os braços, fiquei bem na pontinha dos pés e por pouco não alcancei a ponta dos sapatos. Então fiz uma coisa bastante estúpida, dei um pequeno pulinho e no segundo seguinte a parte de madeira em que meus pés se posicionavam havia sumido.
Não era alto, mas acho que devo ter torcido o pé, sem contar que no meio de minha afobação acabei derrubando meu perfume no chão, junto comigo.
Minha cabeça bateu no pé da cama, e meu tornozelo estava virado em uma posição esquisita. E doía como o diabo.
Gemi com a dor. Alguém bateu na porta.
- Drayton? Está tudo bem aí?
Olhei para baixo, tirando o fato de meu tornozelo ter torcido e de eu estar apenas de langerie, acredito que de resto, estava inteira.
Richard não esperou uma resposta. Simplesmente entrou.
Seus olhos caíram sobre mim e rapidamente ele atravessou o quarto e se colocou ajoelhado ao meu lado segurando meu tornozelo arranhado. Soltei um grito.
- Você vai acabar se matando um dia desses. - Sua voz era pura raiva.
- Estava só tentando pegar um sapato...aí! Não aperta ai - Puxei minha perna dolorida.
- Foi só uma torção... Hã, você está bem? - Meus olhos se ampliaram. Ele tinha perguntado isso mesmo?
Pisquei algumas vezes. Ele nunca perguntava. E pelo que percebi, lhe custava muito fazer isso.
- Eu...Estou, eu acho. Talvez eu tenha batido a cabeça com força.
Me arrependi do comentário, porque acho que ele entendeu o que eu quis dizer.
- Só perguntei se estava tudo bem. Nada demais.
Balancei a cabeça. Inacreditável!
- Isso foi demais, Richard.
Revirou os olhos com certeza me achando ridícula mas então olhou bem pra mim de uma maneira curiosa.
- Por quê vestiu essa?
Não sei explicar como, mas eu sabia que ele estava se referindo ao pequeno pedaço de renda cor de rosa que cobria metade de minha nudes.
- Eu gosto dessa.
Poderia ter dito que foi a primeira que encontrei pela frente. Porém vi uma grande necessidade de dizer a verdade pra ele. Por mais humilhante que fosse.
- Também gosto, Drayton.Muito.















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