Capítulo 1

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Parte 1

Trabalhar em uma boate nunca foi fácil. Ninguém sabe diferenciar a garçonete da dançarina, das prostitutas, das pessoas que limpam o local ou mesmo nós que ficamos atrás do balcão.

A ordem é "todas dançam", os clientes têm que ter satisfação pra onde quer que olhem. Se o cara te pediu uma tequila, sirva-a dançando até o chão se possível, se esfregue no copo, lamba a beirada do copo antes de colocar o sal, faça com que o cliente queira te pedir mais, assim o negócio anda.

Todas as noites eram assim, sair daquela boate sem pelo menos uma passada de mão e um "gostosa" era impossível. É incrível ao que nos sujeitamos por dinheiro...

E como em todas as noites, lá estava eu, atrás do balcão fazendo coquetéis, dançando ao som da música qualquer que estava tocando, recebendo dinheiro de gorjetas por servir bem e recusando todo tipo de droga que aparecesse e sorrindo. Sempre sorrindo.

Todas as garotas que trabalhavam aqui estavam tão desesperadas quanto eu, sempre atrás de dinheiro por problemas na família, algumas eram abandonadas por seus maridos e outras, os casos mais bizarros, eram vendidas, tanto pelos pais quanto pelos maridos.

Meu turno acabava as 6 da manhã, e embora pareça cedo, a boate ainda estava bombando neste horário. 

E todo dia, chegava em casa e era a mesma coisa, encontrar um pai e um irmão muito drogados me pedindo o dinheiro das gorjetas para poder comprar mais, mas eu nunca dava o dinheiro todo, tinha que ter dinheiro suficiente para sumir desta casa. 

~ Telefone toca ~

 - Mirella, onde você está? Achei que ia dormir em minha casa hoje! - Esta é Annie, minha parceira de balcão. Ela sabe por tudo o que passo em casa, então quando brigo com meu irmão ou com meu pai, ela me oferece seu sofá para dormir.

- Oi Annie, nossa, me perdoe, mas essa noite foi tão agitada que eu sai de lá sem nem pensar em nada... Fica pra uma próxima.

- É sempre assim, você sempre tem uma desculpa, mas, amanhã você não terá como fugir, como a boate irá fechar mais cedo e sairemos juntas, vou te levar pra minha casa nem que seja pela orelha! Vou dar uma festinha amanhã, e quero você lá. 

Um sorriso me escapa os lábios, não poderia ter amiga melhor que a minha. 

- Claro Annie, combinado. 

- Até amanhã gatíssima, e leve roupa hein. 

- Claro, agora me deixe desligar, preciso dormir antes que eu desmaie aqui mesmo. 

- Beijos...

~ Telefone desliga ~

Quando ela começa a mandar beijos tenho que desligar rápido, senão não desligamos nunca. 

Entro em meu quarto e me olho no espelho, tenho olheiras profundas e meu cabelo está seco e fétido de tanta fumaça dos mais variados tipos de cigarros que fumam naquela boate, mas meu corpo não aguentaria um banho sequer, então me deito assim mesmo, e durmo tão pesado que sequer sonho. 

Acordo por volta das 3 da tarde, e milagrosamente não escuto meu pai e meu irmão brigando. Tomo um banho demorado mesmo na água gelada, pois não tivemos dinheiro para pagar a conta de luz, e vou me arrumar para ir comprar algo para comer, afinal, nada sobra nos armários até eu chegar do trabalho. 

Penteio meus cabelos ruivos ainda molhados para que os cachos se façam mais belos, pois tenho que trabalhar ainda, e não posso chegar lá mal arrumada. 

Dizem que as que chegam mal arrumada, fedidas, ou que não sorriem durante o expediente são levadas para conversar com o chefe, é a única vez em que vemos ele, durante os "castigos" que ele aplica, e já vi muitas garotas não voltarem para a boate após tais castigos... 

Nas mãos dele #wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora