A Perda

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POV KATNISS

-Eu preciso acordar.

Peeta volta a me encarar enquanto corta alguns legumes achados na cesta de palha tecida.
Ainda estranho olhar ao redor e ver comida farta. Estava quase indo a floresta conseguir carne fresca, mas dada as atuais surpresas, não sei o que encontraria lá fora.

Depois de dar um bom almoço a essas crianças irei procurar por Primrose, minha mãe e Gale.

-E se isso não for um sonho, Katniss?

Rio com ironia, ele só pode estar brincando com a minha cara.

-Isso é um sonho.

-Então como pode duas pessoas estarem sonhando a mesma coisa?
Que eu me lembre estávamos sobre um palco apertando as mãos.

-Eu sei, mas isso nunca será minha realidade.

O ambiente muda, assim como ele.
A faca corta uma camada da cebola e para fincada na táboa de madeira, seus pulsos ficam duros e seus dedos brancos. Uma força exagerada para segurar o cabo de uma faca tão bem afiada.

-Se você quer continuar brincando de casinha com essas crianças, é sozinho. O problema é todo seu agora.

Num lampejo o vejo virar o pescoço, seus olhos tornam-se sinistramente mais pretos.

-Peeta?

Ele respira fundo batendo as mãos na madeira da mesa bem polida, assusto afastando.
O que está havendo com ele?

Seus passos são certos, decidido vir até mim. Recuo todo o espaço que dá, fico presa num mínimo espaço entre o armário suspenso e o de chão.

Ergo as mãos apoiando em seu peito, a respiração ofegante mostra que ele não tem controle sobre seu corpo e consequentemente dos atos.

Seu corpo avança, tento resistir mas meus cotovelos fraquejam provocando um chocar de nossos corpos.
Prendo a respiração sentindo todo meu corpo mudar, meu estômago pula ficando cada vez mais gelado, a pele arrepia quando encostada a sua.

Nunca fiquei tão próxima a ele dessa maneira.
Como agir?

-Mamãe?
O tio Haymitch chegou!

Não movimento um milímetro, sustendo meu queixo erguido e seu olhar desvendando o meu.

Preciso admitir, suas íris são bem mais bonitas do que eu achava. Mas não conta, o vi de longe na escola, diversas vezes.
No corredor, na sala de aula, no pátio.

Lembro que ele ganhava quase todos os campeonatos de luta, só perdia pro seu irmão mais velho.

E com todas essas informações chego a uma conclusão assustadora.
Tenho mantido uma enorme atenção sobre ele, seus atos, conquistas, fisionomia.

O nome Haymitch martela, já ouvi e sei quem é.
O único vitorioso vivo de nosso Distrito, um bêbado nato. Recordo de avaliá-lo no Prego enquanto comprava garrafas de bebida forte, cabelos desgrenhados e expressão sombria.
Parecia um cara bem pertubado.

O que ele está fazendo na minha casa?

Peeta me cerca com seus braços, meu coração acelera um pouco mais quando suas mãos chapam na parede atrás de mim.

Com os dedos seguro a barra de sua camisa, querendo ter o azul harmônico de volta.

Sem querer toco sua pele, no espaço entre o cós da calça e a camiseta. Numa piscada seus olhos mudam, provocando confusão maior em nossas mentes. Coro extremamente envergonhada.

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