Aos Poucos

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POV KATNISS

O constrangimento é evidente na hora de dormir, tomo um banho quente demorado, ponho uma blusa e calça.
Como irei dormir na mesma cama que ele?

Saio no banheiro em passos demasiadamente lentos, a mente borbulhando ideias que possam resolver essa situação.

Mas minha mente é esvaziada ao me deparar com Peeta abastecendo a poltrona de almofadas e um cobertor, não acho justo, mas dormir ao seu lado não é uma opção.

Jamais estive nessa situação antes, fora que Peeta Mellark e eu não somos amigos.

Podemos estar construindo uma amizade, mas não sou boa nisso.

Toda a atmosfera boa que estava ao nosso redor se dissipou, trazendo a dor que volta a pulsar forte.

Sento cruzando as pernas sob a manta, viro abrindo a gaveta e encontrando alguns objetos desconhecidos por mim.

Uma foto de meu pai chama a minha atenção, sorrio passando a dedo sobre seu rosto.
Preferia voltar no tempo e tê-lo salvo, assim Primrose também estaria viva e talvez minha mãe não fosse tão ruim.

Mas não teria Peeta.

Se meu pai estivesse vivo naquela época que Peeta me jogou os pães, isso teria acontecido?
Provavelmente não, ele teria trago comida pra casa.

O quanto isso afetaria meu passado e consequentemente o futuro?

Revisto mais adentro e acho um colar dourado, parece haver uma fivela.
A forço para baixo encontrando três partes unidas entre si, há fotos pregadas em cada parte.

A simples tarefa de engolir um bocado de saliva se torna complicado, parece várias espinhas de peixe descendo juntas pela minha áspera garganta.

Primrose, Gale, minha mãe.

É meio chocante ver seus rostos e não poder abraçá-los.
O livro diz que Gale se foi para o Distrito 2, suas bombas mataram minha irmã.
Como ele pode?
Nunca saberei ou talvez pergunte quando o encontrar.

Já minha mãe está no Distrito 4, ajudando na parte de saúde.
É mais impossível ela voltar pra cá do que eu ter filhos, e já os tenho.

Recrimino a mim mesma, estou falando deles como se fossem meus.

E não são?

Ao lado do colar há outro objeto, o pego reconhecendo de cara. O broche de Tordo.

Decidida a deixar tudo pra amanhã e tentar dormir, deixo a foto encostada no abajur e devolvo os outros objetos pra gaveta, mas sou surpreendida ao sentir algo gélido tocar minha pele.

Uma pérola?

Tão negra e brilhosa, exala beleza e frieza.

-Ei, já vi isso antes!

Peeta interrompe minha contemplação, aproxima sentando numa distância considerável.

-Já?

Seus olhos se fecham, não demora muito e volto a ver o azul cintilante.

-Eu dei pra você.

A rodo entre os dedos, deixando-a cair na palma de sua mão.

Peeta puxa o livro até nosso meio, rola as páginas encontrando a explicação.

-No Massacre Quaternário.

-É linda.

Ele sorri timidamente deixando-a em minha mão.

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