Capítulo 1

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No primeiro capítulo, três amigos - Phil, Marlo e Leo - nem suspeitam que estão às vésperas de perderem a noção de tudo o que entendem como normal, até então.

Terminando um bate-papo casual, num barzinho de uma parte expandida de um shopping, os três só estavam preocupados em saírem dali antes que a chuva tornasse a volta para casa mais difícil. Mas não era bem esta a história que se desenrolaria depois que eles pegassem um taxi.

O capítulo um de 'A Montanha da Passagem' tem seus momentos de aflição e perigo... Que tal darmos uma olhadinha em um trecho do que vem por aí?

Capítulo 1 - A Fantasia dos rapazes

(...)

Pagamos a conta, para visível alívio do garçom.

Apressamos o passo cruzando a única saída possível do shopping: um corredorzinho sinalizado por fitas organizadoras de fila, que bloqueavam o retorno às lojas.

Corremos para o estacionamento.

Entramos no taxi da vez.

Pedimos ao motorista que tomasse a direção da Linha Amarela.

Seguimos por não mais que dois quilômetros pela rodovia expressa que cruzava a cidade, quando o motorista estancou o carro bruscamente. No meio da estrada.

- Não podemos continuar por ali!

- Por que não, moço?

- Vejam!

- O que? Eu não consigo ver nada!

Raios fortes rasgaram o céu. Pareciam muito baixos, eletrificando o breu bem perto das nossas cabeças.

Um estrondo, que nos ensurdeceu e atordoou, acabou num blackout: a luz da estrada, das casas e dos prédios em volta se apagaram como velas assopradas.

Um transformador de luz estourou bem perto de nós.

Blackout total!

- É por isso mesmo! Nem dá para ver mais a pista! Os carros que insistiram em forçar passagem foram arrastados pela água! Olhem aquilo! É uma enxurrada! Tem até ondas ali!

Tentamos enxergar alguma coisa, mas não conseguimos. Acreditamos no motorista. Não dava para ver nada lá fora!

De repente, percebemos uma barulheira maior: começava a chover granizo!

As pelotas de gelo caíam no teto do carro fazendo um estrondo violento. Era como se mãos invisíveis jogassem milhares de pedras contra a lataria do automóvel. O para-brisas não dava conta de mostrar qualquer imagem diante de nós.

O carro morreu!

A tempestade parecia ter acabado não só com a luz dos postes: as luzes do painel e do salão do taxi também se apagaram. O carro simplesmente pifou! Como pifaram os nossos celulares! Aquilo era uma tempestade elétrica!

Estávamos no meio do breu total!

Lá fora, escuridão absoluta e barulho de mil metralhadoras!

Granizo, escuridão, trovões e relâmpagos nos mostrando como éramos fracos: indefesos diante das forças da Natureza!

Nós estávamos perdidos!

E as coisas pioraram: para cima de nós, uma inundação!

A água veio de estouro na nossa direção. Eram verdadeiras ondas na estrada: engolindo os automóveis que estavam à nossa frente; ameaçando tragar o nosso carro em instantes!

Outros transformadores lá fora foram atingidos por raios e explodiram, pegando fogo!

Aquilo não parecia ser uma tempestade natural. Parecia que estávamos sendo engolidos para uma tempestade do fim do mundo!

- Corre, gente!

O motorista do taxi abriu a porta e se jogou para fora do automóvel. Eu nunca tinha visto uma cena daquela! O desespero de um homem que abandonava o próprio patrimônio para trás e gritava para os passageiros de seu taxi correrem. Aquilo devia significar alguma coisa. Coisa ruim!

Aquela fuga só podia significar uma grande tragédia a caminho!

Em milésimos de segundo, imagens de um Tsunami que eu tinha visto à exaustão pela televisão anos antes passaram pela minha cabeça. Os destroços de uma cidade asiática que tinha sido destruída pela violência de águas barrentas estavam, de repente, diante dos meus olhos.

Nós gritamos e puxamos os pinos de segurança das portas.

Eu e os caras pulamos para fora do carro, que já adernava. Foi quando fomos arrastados por uma onda gigantesca. Fomos jogados no chão, como se levássemos uma rasteira. Parecia que não tínhamos peso: éramos leves como papel na onda e não conseguimos nos agarrar a nada.

Fomos levados escorregando, rolando pela pista.

A água nos varria como pedaços de isopor na forma humana. De cima, os pingos de água desciam empedrados em granizo: machucavam os nossos rostos; dificultavam nossas tentativas de enxergar uma direção.

Tudo foi muito rápido. Não conseguimos sequer nos entender.

Só gritávamos e engolíamos água gelada; água suja!

Perdemos celulares, carteiras, livros; perdemos o senso de direção. Não enxergávamos nada: a cidade tinha ficado às escuras. A cidade desapareceu!

Chacoalhados como bonecos, no meio de lugar nenhum, eu senti que morreríamos ali, de um jeito estúpido, afogados em plena estrada; engolfados por um tsunami de chuva tropical; entupidos de lama, em plena Linha Amarela.

Mas, não morremos.

Um pedaço de madeira; resto de um tapume de construção que devia ter voado de um canteiro do shopping, foi a nossa chance de sobreviver. Ali vinha um pedaço de madeira furando as ondas como uma lancha rápida! Era o nosso escaler! Bem mais que tábua de salvação! De repente, eu, Marlo e Leo éramos surfistas no raso: agarrados à prancha de pau que flutuava grotescamente.

Éramos apenas um emaranhado de esforços sobre-humanos; sacos de arranhões, tonteira desnorteada e gemidos de dor. Soluços que tentavam cuspir de volta água suja e lama; cusparadas que tentavam fazer na boca espaço para uma respiração.

Mas, cobramos algum alento quando sentimos que ainda estávamos vivos e, de alguma forma, juntos.

- Segura, cara!

- Eu vou morrer! Eu não sei nadar!

- Segura, cara!

Eu tentei agarrar a camiseta de Leo, que ia perdendo as forças. Marlo me segurou pelo pescoço.

- Eu vou morrer!

- Não vai, não!

Puxei o Leo, com muita dificuldade. Ele se agarrou como pode, naquele tapume salvador.

As ondas nos jogavam. Mas nós conseguimos subir no corte de madeira.

Quando, finalmente, acreditamos que tínhamos conseguido nos estabilizar sobe a prancha, o tapume quebrou. Foi partido ao meio no sacolejo de uma onda de lama. E nós fomos tragados para dentro de um buraco que se abriu no meio da pista! Morte certa: afogados dentro do redemoinho que nos levava para o fundo de um sumidouro!

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'A Montanha da Passagem', primeiro livro da série Ecos das Terras Velhas será lançado na Bienal Internacional do Livro que acontecerá no Rio de Janeiro em 2017.

A noite de autógrafos será no sábado, 02 de setembro, às 19:00h, no stand da Editora Pendragon. Eu, Ben Mathias, espero todos vocês lá!

A Montanha da Passagem (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora