6- SOBREVIVENTES

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  Acordamos com o sol em nossa cara, minha esposa e meu filho estavam na cama sentados, haviam lanchado alguma coisa que havia pego da conveniência, comi o que havia ali também, estávamos bem, não havíamos ouvido nada nem mesmo sido atacados, por sorte ainda estamos bem. Pegamos nossas coisas, tínhamos que continuar andando, não havíamos encontrado um carro intacto ainda, precisávamos nos apressar. Descemos as escadas em silêncio, para que não chamassemos muita atenção caso houvesse intrusos na sala, mas não havia ninguém por lá. Olhei pela janela, podia ver alguns mortos andando todo desajeitado, eles realmente não viam nada, seguiam seus instintos auditivos, essa era minha teoria pelo menos. Sentei no sofá para esperar que passassem reto antes de sairmos, mas fomos surpreendidos por um barulho que vinha do meio da sala, não havia mais ninguém além de nós, ficamos em silêncio mais alguns minutos, para saber de onde saia o som, notei que o som era baixo, e segui o barulho até um tapete de centro, olhei para minha esposa, ela fazia gesto para que eu tomasse cuidado, mas não podia ter mais do que uma barata ali em baixo.
  Ao erguer o tapete, uma porta de pouco mais de oitenta por oitenta centímetros, abri ela com minha arma em mãos, e uma escada dava acesso a algum tipo de porão ou deck, talvez tivesse armazém ali, comida e armas, um carro talvez, tudo que precisávamos.
  _ Vou descer, venham atrás de mim - dizia isso todo confiante para que não temessem - vamos lá pra baixo.
  Desci as escadas, peguei meu filho e esperei minha esposa descer, havia uma porta que dava acesso ao porão ou armazém, então abri a porta com a arma em mãos, o susto que levei fez com que quase disparasse uma bala em falso, haviam três jovens ali, não eram muito velhos, deviam ter cerca de vinte anos. Eles também estavam assustados, mas estavam bem escondidos, havia bastante alimento onde estavam, era um enorme espaço ali em baixo, eles tinham um rádio em mãos.
  _ Quem são vocês? São donos daqui?- claro que não deviam ser, eram jovens demais para isso
  Um deles, jovem branco, magro e de cabelo castanho escuro, se aproximou da gente estendendo a mão para mim.
  _ Eu sou David, esses são Dewis e Gabe, somos amigos dos antigos moradores.
  Eu aperto a mão dele, vejo que ele deve ser mais novo que os outros dois, mas parece sincero.
  _ Eu sou Edward, essa é minha esposa July e esse é meu filho Chris, estávamos tentando nos esconder, mas já estamos indo embora, precisamos continuar.
  _ Vocês foram atacados? Estão machucados? Temos medicamentos - David parecia querer ajuda, mas não usava as palavras muito bem.
  _ Estamos bem, temos nosso kit e minha esposa é médica, vocês estão bem? Alguém foi atacado?
  Não precisou de muita pergunta, os garotos que estavam sentados atras do David se levantaram, um deles parecia estar com um machucado feio no braço, não tinha notado antes por conta do David estar na frente deles.
  _ Gabe se machucou quando tudo aconteceu, a senhora Margo era mãe dele - Dewis explica a situação com um pouco de preocupação na voz - ela o atacou, mas conseguimos evitar que ela mordesse ele, o problema é que ele caiu em cima da mesa de centro, colocamos ele aqui em baixo enquanto enterravamos ela no jardim.
  Minha esposa pegou alguns gases, álcool e luvas, ela examinou a ferida, limpou enquanto ele gemia um pouco com a dor e queimação.
  _ Ele não teve corte fundo, nao pegou nervo nem veias, mas vocês demoraram para limpar o ferimento, ele está com pouca febre, tomando esse remédio - minha esposa dava uma caixa de remédio para Dewis enquanto explicava - ele vai melhorar.
  _ Obrigado, - Gabe parecia meio abatido, devia ser por ter perdido sua mãe e estar machucado sem nenhum responsável por perto.
  _ Estamos indo para Espgman Rodelfild - eu não sabia o motivo de estar tagarela, eles não precisam saber onde estamos indo - ouvimos na estação de rádio que lá pode ser seguro e que podem nos ajudar, caso vocês queiram vir juntos - porque eu estava convidando eles? Eu não os conheço, estou apenas querendo ajudar eles? Ou por minha família em perigo? - lá poderiam cuidar melhor do seu amigo e podemos juntos ter mais chance de sair daqui.
  Eu estava em conflito comigo mesmo, meu modo sobrevivência parecia estar querendo falhar, estava ajudando os jovens por pena, por pensar que talvez iriam morrer ali e que não fiz nada, e meu lado pai, querendo falar mais alto, querendo tirar eles dali e por eles em um lugar melhor, tirando que a ideia de que eles podem nos ajudar, com mais sobreviventes, mais chance temos de achar um carro e sair dali.
  _ Nos ouvimos também, mas não tivemos ideia de como sair daqui - David falava empolgado com a ideia.
  _ Mas precisamos de uma vã, um carro grande para caber todo mundo. - indaguei a mim mesmo. Falava alto as vezes comigo mesmo só para ter certeza de que eu estava pensando bem.
  _ A mãe de Dewis tem uma vã escolar, ela nos levava pro colégio - David parecia ainda mais animado - o carro está na casa da frente.
  Era isso que desanimava, precisaríamos enfrentar o que tivesse lá fora para pegar a vã, tínhamos que bolar um plano.
  _ Podemos ir juntando alguns mantimentos, enquanto esperamos na porta da frente - minha esposa agora parecia se recuperar de todo trauma até ali, talvez a ideia de ajudar os garotos a tenha visto que não somos os únicos que precisam sair dali e isso a faz pensar bem melhor e com calma - você e o David pegam a vã, dão re até aqui, colocamos tudo em mochilas e entramos rápido nela, assim saímos daqui.
  Eu não estava sorrindo por fora, mas estava feliz por ter surgido uma ideia dessa, David e eu deixamos eles coletando mantimentos ali e fomos para a sala, olhamos ao redor e olhamos a rua para ver o movimento, apenas um morto vivo estava vagando ali, ele parecia estar comendo a carniça de um cachorro, era nojento a cena. Atravessamos correndo pela rua e sempre abaixando e nos escondendo atrás dos carros na rua. Chegamos até a vã, a porta estava destrancada, abri a porta e por sorte a chave já estava na ignição. Então só esperamos para ver se os outros ja estavam na porta a nossa espera, essa seria nosso sinal para dar a ré e eles pularem para dentro da vã.
  Não demorou muito para eles aparecerem na porta, minha reação foi direta, liguei o carro, dei re, aquilo só podia ser sonho, tudo estava indo bem, sem problema nenhum. Eles pularam na vã e partimos dali, estávamos todos contentes e comemoravamos aquilo tudo.
  Não demorou muito para que algo desse errado, o carro acaba parando, estávamos tão empolgados e satisfeitos apenas com o plano, que não notamos a gasolina baixa. Aquilo era nosso fim, fizemos muito barulho com a vã, podíamos ver os seres vindo em nossa direção, estavam meio longe, mas já sabiam de onde o barulho vinha, aquilo era nosso temido pesadelo.
  _ SAIAM DA VÃ - gritei à todos - VAMOS CORRER ATE CONSEGUIR DESPISTAR ELES.
  Pulamos da vã, corríamos muito rápido, nossa sorte é que os seres mortos nao corriam, mas ainda sim não tínhamos certeza do que eles eram capazes, viramos duas ruas antes de pararmos de cansaço, estava segurando uma mochila e meu filho, minha esposa estava ao meu lado, os três jovens sentados na nossa frente.
  _ O que vamos fazer agora? - perguntei para qualquer um que tivesse uma outra ideia - alguém mais tem um plano?
  Olhamos ao redor e não sabíamos o que fazer.
  _ Tem uma pick up ali, ela não parece danificada - Gabe parecia melhor que antes, falava apontando para a pick up - podemos ver se tem gasolina.
  Corremos até a pick up, ela estava em ótimo estado mesmo, colocamos nossas mochilas na carroçaria, entramos no carro, era espaçoso e confortável.
   _ Acho que essa aqui serve para seguir viagem - David se sentou atrás com os amigos.
   A chave estava no banco, tive sorte por isso, o diesel parecia bem cheio, o carro era econômico, dei partida, e conseguimos por nosso rumo na estrada novamente.

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