Era a última semana das férias de verão e Kate estava de mau humor. Ficou arrumando coisas pela cozinha até a mãe lhe pedir para parar.
— Por que, Kate, por quê?
Kate suspirou. Andava suspirando muito ultimamente.
— Porque, mãe, você é muito bagunceira.
A mãe olhou para a cozinha ao redor e soube que a filha tinha razão. Ainda estava cheia de caixotes, com pratos semilavados secando em caixas de papelão.
— Não sou bagunceira! — retrucou, nervosa. — Eu juro que vou conseguir separar tudo. Esta manhã, provavelmente. Mas é um dia lindo; por que você não vai brincar na praia?
— Prefiro ficar e ajudar você. — Kate não gostava de começar uma coisa antes de terminar outra.
— Só... saia de uma vez e vá se divertir. — A mãe a enxotou dali com o único pano de prato que até o momento tirara das caixas.
***
Lá fora, Kate olhou para a casa. Era um chalé bonito e antigo, com rosas crescendo até o telhado de sapê. Era tudo muito agradável, mas não parecia um lar. O corretor de imóveis havia explicado que o inventário das posses do antigo proprietário ainda não fora finalizado. A mãe de Kate havia dito:
— Não se preocupe, logo vamos deixar o lugar em ordem. — E não fizera nada a respeito disso.
Kate suspirou. Decidiu que não suspiraria mais. Suspirar não a estava levando a lugar nenhum, e Kate não acreditava em atividades sem propósito.
Olhou para baixo da colina, vendo a pequena cidade de Watchcombe, ela mesma um pequeno e alegre monumento à atividade sem propósito. Duas vezes por dia, uma maria-fumaça depositava turistas do acampamento na baía e estes lotavam as ruas sinuosas, comprando doces e cartões-postais e pedindo chá. A praia já estava apinhada de famílias que andavam para cima e para baixo sob o sol, do pontão até o farol e voltando — e, se fossem rápidas, fazendo-o mais uma vez, só para dar sorte. Barcos a remo partiam do pequeno porto — cobriam uma curta distância, não faziam muita coisa e voltavam. Tudo parecia muito sem propósito, e ainda assim Kate ouvia as pessoas chamando alegremente umas às outras.
Não conseguia entender o que eles sentiam. Sete dias , pensou, carrancuda. Uma semana inteira até as aulas começarem. Casa nova, cidade nova, escola nova. Tanta incerteza. Kate estava determinada a Terminar Alguma Coisa no pouco tempo que lhe restava. Sete dias, só que a manhã luminosa já estava quase no fim, então, agora precisaria se virar com seis dias e meio.
Pensou em caminhar até a cidade e talvez pegar o próximo trem. Sacudiu as moedas no bolso, fazendo-as tilintar, e considerou a opção. Era verdade que Minehead tinha uma papelaria melhor, mas comprar um novo caderno de anotações era simplesmente uma admissão de que, não importava o quanto tentasse evitar, Teria Que Ir À Escola.
Foi nesse momento que algo inesperado aconteceu. Foi o primeiro de uma série de eventos inesperados que mudariam a vida de Kate completamente. Um gato cinza correu pelo gramado diante da casa e parou, olhando para ela, a poucos passos de desaparecer na sebe.
Kate não tinha um gato, mas gostaria de um. Como o gato pareceu estar esperando por isso, ela abriu uma exceção à regra que proibia atividades inesperadas e o seguiu. O animal deslizou agilmente pela sebe e Kate foi atrás, com mais dificuldade que ele, é verdade. Houve um momento em que os galhos se amontoaram ao redor da cabeça e ela imaginou se estaria presa, mas depois caiu para a frente, na grama, como a rolha que salta de uma garrafa. Aos pés de um homem.
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Quando Cair o Verão & Outras Histórias
Mystery / Thriller"Quando o verão acabar, o Senhor do Inverno surgirá..." No vilarejo costeiro de Watchcombe, a jovem Kate está determinada a aproveitar o máximo sua última semana de férias de verão. Mas quando ela descobre uma misteriosa pintura com o título de 'O...