Capítulo 9

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Kate considerou a caminhada sobre o mar uma experiência inteiramente curiosa. Era tão escorregadio quanto patinar num lago congelado, mas mais difícil por causa das ondas congeladas, forçando-os a escalar e deslizar. O gato cinza trotava junto deles, saltando de uma crista à seguinte. 

— A parte boa de tudo isto — murmurou Barnabas — é que nos esconde da cidade. 

— A parte ruim — Kate estremeceu, esfolando a canela numa estrela-do-mar congelada — é que é muito lento. 

— Sim. 

— Ainda precisamos pegar a pintura. 

O Curador sorriu. 

— O que importa é a chave. Ela pode ou estabilizar ou banir o Senhor do Inverno. 

— Se ao menos a gente soubesse como. — A menina olhou para o céu cada vez mais baixo. 

— Ah, sim — concordou Barnabas. — É complicado. 

Continuaram a marchar, avançando lentamente em direção ao porto. 

Atrás deles, as ondas gigantes e geladas tremeram, e o céu escureceu ainda mais. O rangido aumentou. 

— Nosso tempo está acabando — disse o Curador. — O Senhor do Inverno está vindo. 

— Mas quem é o Senhor do Inverno? Em inglês. 

Ele ponderou. 

— A memória de algo antigo e potente que não deveria estar aqui. E não estava. Até o sr. Mitchell encontrar o escudo. E o escudo lembrou-se do proprietário e o trouxe de volta à vida. 

— Isso é possível? 

— Magicamente? Sim. — Barnabas sorriu largamente. — E vamos usar a mesma magia para derrotá-lo antes que seja tarde demais. 

Houve um grunhido alto atrás deles. Na distância, as ondas imensas tornavam-se negras e partiam-se em pedaços enquanto a grande sombra os engolia. 

— Acho — anunciou Kate — que talvez já seja tarde demais. 

— Isso vai ser divertido — disse o gato. 

Desataram a correr. 

***

Enquanto eles corriam, o mar estremecia. Ao longe, vastas torres de gelo tombavam e se fragmentavam, ruínas deslizavam pelas ondas estilhaçadas. O céu cinzento os pressionava de todos os lados. 

A escuridão estava logo atrás e o porto não parecia estar mais próximo. 

Atrás deles vinha um som como o dos passos de um gigante, e o gelo tremia e rachava, lâminas gélidas empinando-se como feras furiosas. 

Kate fez uma lista de coisas das quais gostava nesta situação. Era uma lista bem curta. Continuou apenas fitando os calcanhares de Barnabas. Forçou-se a continuar correndo. 

Uma fenda se abriu no mar adiante, uma cova súbita na qual ela caiu. 

O Curador girou, esticou a mão e puxou-a através da brecha. 

— Parece... — ofegou ela — ... o fim do mundo. 

Ele sorriu. 

— Sim! A parte divertida. 

Fugiram do caos em direção aos degraus do porto. Ao redor deles, os barcos estalavam, dobrando-se sob o gelo partido. O vento chilreava pelos mastros. 

Outra brecha abriu-se diante deles. O gato a atravessou num salto. Barnabas apanhou Kate e lançou-a por cima do rasgo, as pernas derrapando no gelo do outro lado. Quando aterrissou, ela ouviu um grito atrás de si e virou-se a tempo de ver o Curador desaparecer no buraco. O gelo se fechou em volta dele, mandíbulas cerrando-se ao redor do corpo. 

Kate correu de volta, mas ele gesticulou para que fugisse. 

— Não há tempo! — arfou enquanto o mar o apertava. — Vá na frente. 

— Mas... 

— Eu vou ficar bem — disse. Não parecia nada bem para Kate, mas às vezes os adultos diziam coisas que não eram verdadeiras. 

Ela se voltou na direção do farol e correu. 

O gato hesitou, sem saber se estava mais interessado nela ou em Barnabas, que lentamente desaparecia sob as ondas congeladas. Então, seguiu-a. 

A menina chegou aos degraus do porto tão veloz quanto pôde, ignorando a falta de um corrimão, ignorando a possível e vertiginosa queda até o gelo abaixo. O gato trotou facilmente atrás dela. 

— Bem, aí está você — disse uma voz. — Estávamos esperando. 

Parados junto do farol estavam o sr. Mitchell e um Brewster rosnante. Ao lado, estava Armand com ar de muito medo. 

Kate pensou no que fazer ou dizer, usando um truque da mãe — só se dirigiu à pessoa que considerava menos irritante. 

— Oi, Armand — disse. — Você parece estar com frio. 

O garoto assentiu, tristonho. 

— Não se preocupe — continuou ela. — Não é tarde demais. 

O sr. Mitchell, aborrecido por ser ignorado, soltou uma gargalhada. 

— Rá! — rosnou. — Felizmente, é, sim. Digo que é. Eu o convoquei e ele está vindo. Veja! Apontou para o céu. E lá, derramando-se dele, do horizonte, do mar, estava o Senhor do Inverno.

Quando Cair o Verão & Outras HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora