Kate considerou a caminhada sobre o mar uma experiência inteiramente curiosa. Era tão escorregadio quanto patinar num lago congelado, mas mais difícil por causa das ondas congeladas, forçando-os a escalar e deslizar. O gato cinza trotava junto deles, saltando de uma crista à seguinte.
— A parte boa de tudo isto — murmurou Barnabas — é que nos esconde da cidade.
— A parte ruim — Kate estremeceu, esfolando a canela numa estrela-do-mar congelada — é que é muito lento.
— Sim.
— Ainda precisamos pegar a pintura.
O Curador sorriu.
— O que importa é a chave. Ela pode ou estabilizar ou banir o Senhor do Inverno.
— Se ao menos a gente soubesse como. — A menina olhou para o céu cada vez mais baixo.
— Ah, sim — concordou Barnabas. — É complicado.
Continuaram a marchar, avançando lentamente em direção ao porto.
Atrás deles, as ondas gigantes e geladas tremeram, e o céu escureceu ainda mais. O rangido aumentou.
— Nosso tempo está acabando — disse o Curador. — O Senhor do Inverno está vindo.
— Mas quem é o Senhor do Inverno? Em inglês.
Ele ponderou.
— A memória de algo antigo e potente que não deveria estar aqui. E não estava. Até o sr. Mitchell encontrar o escudo. E o escudo lembrou-se do proprietário e o trouxe de volta à vida.
— Isso é possível?
— Magicamente? Sim. — Barnabas sorriu largamente. — E vamos usar a mesma magia para derrotá-lo antes que seja tarde demais.
Houve um grunhido alto atrás deles. Na distância, as ondas imensas tornavam-se negras e partiam-se em pedaços enquanto a grande sombra os engolia.
— Acho — anunciou Kate — que talvez já seja tarde demais.
— Isso vai ser divertido — disse o gato.
Desataram a correr.
***
Enquanto eles corriam, o mar estremecia. Ao longe, vastas torres de gelo tombavam e se fragmentavam, ruínas deslizavam pelas ondas estilhaçadas. O céu cinzento os pressionava de todos os lados.
A escuridão estava logo atrás e o porto não parecia estar mais próximo.
Atrás deles vinha um som como o dos passos de um gigante, e o gelo tremia e rachava, lâminas gélidas empinando-se como feras furiosas.
Kate fez uma lista de coisas das quais gostava nesta situação. Era uma lista bem curta. Continuou apenas fitando os calcanhares de Barnabas. Forçou-se a continuar correndo.
Uma fenda se abriu no mar adiante, uma cova súbita na qual ela caiu.
O Curador girou, esticou a mão e puxou-a através da brecha.
— Parece... — ofegou ela — ... o fim do mundo.
Ele sorriu.
— Sim! A parte divertida.
Fugiram do caos em direção aos degraus do porto. Ao redor deles, os barcos estalavam, dobrando-se sob o gelo partido. O vento chilreava pelos mastros.
Outra brecha abriu-se diante deles. O gato a atravessou num salto. Barnabas apanhou Kate e lançou-a por cima do rasgo, as pernas derrapando no gelo do outro lado. Quando aterrissou, ela ouviu um grito atrás de si e virou-se a tempo de ver o Curador desaparecer no buraco. O gelo se fechou em volta dele, mandíbulas cerrando-se ao redor do corpo.
Kate correu de volta, mas ele gesticulou para que fugisse.
— Não há tempo! — arfou enquanto o mar o apertava. — Vá na frente.
— Mas...
— Eu vou ficar bem — disse. Não parecia nada bem para Kate, mas às vezes os adultos diziam coisas que não eram verdadeiras.
Ela se voltou na direção do farol e correu.
O gato hesitou, sem saber se estava mais interessado nela ou em Barnabas, que lentamente desaparecia sob as ondas congeladas. Então, seguiu-a.
A menina chegou aos degraus do porto tão veloz quanto pôde, ignorando a falta de um corrimão, ignorando a possível e vertiginosa queda até o gelo abaixo. O gato trotou facilmente atrás dela.
— Bem, aí está você — disse uma voz. — Estávamos esperando.
Parados junto do farol estavam o sr. Mitchell e um Brewster rosnante. Ao lado, estava Armand com ar de muito medo.
Kate pensou no que fazer ou dizer, usando um truque da mãe — só se dirigiu à pessoa que considerava menos irritante.
— Oi, Armand — disse. — Você parece estar com frio.
O garoto assentiu, tristonho.
— Não se preocupe — continuou ela. — Não é tarde demais.
O sr. Mitchell, aborrecido por ser ignorado, soltou uma gargalhada.
— Rá! — rosnou. — Felizmente, é, sim. Digo que é. Eu o convoquei e ele está vindo. Veja! Apontou para o céu. E lá, derramando-se dele, do horizonte, do mar, estava o Senhor do Inverno.
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Quando Cair o Verão & Outras Histórias
Mystère / Thriller"Quando o verão acabar, o Senhor do Inverno surgirá..." No vilarejo costeiro de Watchcombe, a jovem Kate está determinada a aproveitar o máximo sua última semana de férias de verão. Mas quando ela descobre uma misteriosa pintura com o título de 'O...